Layla Kamila/Cor in Rio
Layla Kamila/Cor in Rio| Foto:

Quarenta anos atrás, em outubro de 1978, o cardeal polonês Karol Wojtyła, então arcebispo de Cracóvia, desembarcou em Roma para o segundo conclave em menos dois meses – Paulo VI havia morrido em agosto e seu sucessor, João Paulo I, morreu 33 dias depois de ser eleito. Fazia mais de 400 anos que apenas italianos eram eleitos para o papado, de modo que era difícil suspeitar que Wojtyła ficaria por ali mesmo, adotando o nome de João Paulo II e pastoreando a Igreja pelos 26 anos seguintes.

Wojtyła, que já tinha trabalhado o tema do amor conjugal e da sexualidade em obras como Amor e responsabilidade, estava preparando um novo volume sobre o assunto, desta vez mais teológico do que filosófico. Como, na época, não se passava pela cabeça que um papa publicasse um livro – diferentemente do que fez Bento XVI décadas depois com a trilogia Jesus de Nazaré –, João Paulo II resolveu transmitir a sua reflexão a conta-gotas durante as catequeses que desde Paulo VI os papas habitualmente ministram às quartas-feiras.

Assim, entre 1979 e 1984, quem visitasse a Praça de São Pedro ou a Aula Paulo VI às quartas-feiras veria o papa versando sobre o significado teológico da sexualidade, em uma série de catequeses que ficou conhecida como teologia do corpo. Há mais de 20 anos, o trabalho do teólogo norte-americano Christopher West consiste em traduzir a linguagem altamente acadêmica das catequeses, tornando o seu conteúdo acessível a todos. West esteve no Brasil nesse fim de semana e conversou com o Acreditamos no Amor durante o Cor in Rio, na capital fluminense. Confira:

Em que medida a teologia do corpo é uma novidade em relação ao ensinamento anterior da Igreja?

A teologia do corpo de São João Paulo II é nova em um certo sentido, mas antiga em outro. É uma nova linguagem e até de alguma forma consiste em uma nova profundidade de compreensão, mas é muito importante entender que São João Paulo II bebe de dois mil anos de reflexão. A teologia do corpo não caiu do céu de repente, no século XX. É o crescimento orgânico de dois mil anos de reflexão sobre o que significa ser criado à imagem de Deus como homem e mulher.

Como a sua experiência como esposo o ajudou a compreender mais profundamente a teologia do corpo?

Uma coisa é ter a teologia na cabeça. Outra é aprender a vivê-la com o coração. Meu casamento tem sido minhas aulas de laboratório, em que preciso aprender através das lutas reais e diárias da vida. E é uma luta constante, porque sou um homem quebrado, como todos. Mas não consigo entender como eu poderia viver o meu casamento sem ter tido o ensinamento de São João Paulo II.

E o que de mais importante você aprendeu nesse diálogo entre a teologia do corpo e a sua experiência?

O ingrediente número 1 de um casamento de sucesso é a misericórdia. Porque estamos todos quebrados. Se não fizermos da misericórdia o centro da maneira como amamos uns aos outros, só guardaremos ressentimento. A misericórdia é o núcleo duro de um casamento.

Como a teologia do corpo está presente no magistério de Bento XVI e de Francisco?

A primeira encíclica de Bento XVI, Deus Caritas Est, foi uma reflexão sobre eros e ágape. É a mesma ideia da teologia do corpo, mas na linguagem do Papa Bento. Com essa encíclica, eu diria que ele põe um ponto de exclamação na teologia do corpo, concluindo-a. Já o Papa Francisco, em Amoris Laetitia, faz referência às catequeses sobre a teologia do corpo mais do que em qualquer outro documento da Igreja. Essa exortação apostólica é uma bela maneira de mostrar a aplicação pastoral da teologia do corpo, com destaque para o capítulo IV, em que o papa comenta o hino à caridade de São Paulo (1Cor 13).

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