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A Igreja Católica comemora no dia 1º de novembro a Solenidade de Todos os Santos – no Brasil, a comemoração é transferida para o domingo seguinte. Na liturgia católica, essa solenidade recorda que “santos” não são apenas as pessoas canonizadas oficialmente, mas todos aqueles que foram acolhidos por Deus em seu Reino. Por isso, a Igreja Católica não usa terminologias como “santificar” para falar de canonizações. A autoridade da Igreja não santifica, mas reconhece a santidade; não torna alguém santo, mas propõe como modelo alguém que viveu a santidade.

Ainda que a Solenidade de Todos os Santos se refira também a quem não foi canonizado, o número de canonizados e beatificados é alto. O Martirológio Romano, o livro litúrgico que traz os nomes dos santos e beatos venerados oficialmente, traz mais de 8 mil nomes.

Como vimos com a canonização de Irmã Dulce, em setembro, existem muitos santos e beatos que viveram em tempos bastante recentes. Para ser mais preciso, entre as pessoas que viveram (ao menos uma parte de suas vidas) após o Concílio Vaticano II (1962-1965) – o grande marco da história recente do catolicismo –, 78 já foram beatificadas ou canonizadas. Já há algum tempo, elenquei todos neste outro post, que atualizo regularmente com as novas informações. Agora, gostaria de apresentar algumas estatísticas sobre o perfil geral desses quase 80 santos e beatos recentes.

Talvez a primeira coisa que salte aos olhos seja o fato de que mais da metade (40) são mártires – pessoas que, de alguma forma, foram assassinadas por causa de sua fé. O maior grupo é o dos mártires da Argélia, uma série de 19 padres, religiosas, religiosos e um bispo mortos entre maio de 1994 e agosto de 1996 por fundamentalistas de matriz islâmica. Mas há também muitos mártires da América Latina (13), mortos principalmente por regimes ditatoriais de extrema-direita (8).

MártiresEm relação ao país de origem desses santos e beatos, um quarto são italianos. Os franceses vêm em seguida. Há duas brasileiras nativas, Dulce dos Pobres e Lindalva Justo de Oliveira. 21 países estão representados, a maior parte da Europa e da América Latina. O quadro muda quando analisamos não o país natal, mas o país que está mais fortemente associado a cada um deles – o local de missão ou do martírio no caso de missionários, por exemplo. Nesse caso, devido àquele grupo, a Argélia fica na frente. E o Brasil ganha mais dois representantes, o espanhol Mariano de la Mata e o italiano João Schiavo, que atuaram respectivamente em São Paulo e no Rio Grande do Sul.
País de Origem País AssociadoQuando olhamos o gráfico que representa os continentes aos quais cada um está associado, há um notável equilíbrio, considerando que a intensificação das beatificações e canonizações de pessoas de fora da Europa é um fenômeno recente. É perceptível, porém, a ausência da Oceania e a pequena parcela da Ásia. A distribuição de gênero, porém, não é equilibrada. 65,4% dos santos e beatos desse período são homens.
Continente
GêneroOutra forma de analisar essa porção mais recente dos santos e beatos é a questão do estado de vida e ministerial de cada um: se se trata de presbíteros, bispos, religiosas, religiosos ou leigos. Mais da metade deles (51,3%) são ministros ordenados: padres ou bispos. Não há nenhum diácono – a restauração do diaconado permanente é algo recente, remontando ao próprio Concílio Vaticano II. As religiosas constituem 29,5% do total. Há apenas dez leigos, sendo que somente dois deles eram casados (o argentino Wenceslao Pedernera e o sul-africano Benedict Daswa, ambos mártires). Uma (Sandra Sabattini) era noiva. Foi também o Concílio Vaticano II que voltou a enfatizar o chamado universal à santidade, dando maior atenção aos leigos.
Ministros ordenados Leigos Vida ReligiosaPor fim, outros dois aspectos interessantes são a proporção entre as décadas em que cada um morreu e entre os papas que beatificaram cada um deles. Novamente o grupo de mártires da Argélia mostra o seu peso, fazendo da década de 1990 a 1999 a que mais tem santos e beatos. Eles também pesam o fato de que Francisco tem o maior peso entre os papas do período. É natural que ele tenha, dado o correr das causas de canonização, mas a diferença de proporção com os outros dois papas é grande.
Década Papa que beatificou

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