Nigel Biggar (reprodução/YouTube)
Nigel Biggar (reprodução/YouTube)| Foto:

O escândalo da indicação de um defensor do aborto para a Pontifícia Academia para a Vida, noticiado em primeira mão pelo britânico Catholic Herald, levou o controverso novo presidente da academia a conceder uma entrevista ao site italiano Vatican Insider para tentar explicar a situação.

As respostas de Paglia provam que o bispo não é desqualificado para o cargo apenas por ser um apreciador de arte homoerótica no interior de Igrejas. Ele também é desprovido das qualidades básicas de qualquer líder, como a de assumir a responsabilidade por seus erros, a de corrigi-los quando possível e a de investigar com atenção o que pensam os candidatos para cargos relevantes dentro da instituição que dirige.

Na melhor das hipóteses – se você acredita no que Paglia diz – tratou-se de uma trapalhada, só que ela não será desfeita.

Abaixo alguns trechos da entrevista concedida por Paglia seguidos por comentários meus, em verde:

 

Por que o professor Biggar foi nomeado? [Nigel Biggar é nome do teólogo abortista que agora é membro da Academia para a Vida]

A candidatura do professor Biggar foi promovida diretamente pelo primaz da Igreja Anglicana, o arcebispo de Canterbury, Justin Welby, a quem foi solicitado nos últimos meses para que indicasse um representante seu. A polêmica nasceu depois do descobrimento de uma frase de Biggar numa entrevista de 2011 na qual ele declara-se a favor – diante de um abortista violento – a limitar o aborto até a 18ª semana depois da concepção, com o fim – e cito exatamente suas palavras – de manter um forte empenho social para preservar a vida humana e que matar a vida humana não se converta em algo demasiado “casual”. Esta não é, claro, anem minha posição pessoal nem a da Academia. Mas devo acrescentar que Biggar, com quem falamos novamente nesses dias, não publicou nada sobre o tema do aborto – sua especialização é de fato sobre temas do fim da vida, tema sobre a qual tem uma posição absolutamente coincidente com a católica – e também assegurou, inclusive, que não tem a intenção de entrar no futuro em debates sobre este tema.

Pontifícia Academia para a Vida fica menos pró-vida e menos católica

Ou seja, Paglia joga a culpa no arcebispo anglicano, ainda que o mesmo tenha apenas indicado um nome cuja aprovação passaria pelo próprio Paglia. O presidente da academia nem precisava ter mencionado o arranjo com a Igreja Anglicana para dar a resposta, mas o fez para amenizar a evidência da besteira que cometeu.

A pior parte, contudo, é que Pagla revela que o abortista ainda pensa a mesma coisa que pensava em 2011, quando fez a declaração pública de aceitação do aborto. Sei que os mais otimistas, ao verem que a declaração foi feita seis anos atrás, nutriam a esperança de que o acadêmico tivesse mudado de ideia. Não foi o que aconteceu. Ele limitou-se a dizer que não pretende debater o tema.

A resposta também constata que não haverá uma revogação da nomeação. Portanto, teremos pela primeira vez uma Pontifícia Academia para Vida que pretende defender a “inviolabilidade da vida humana desde a concepção até a morte natural” com um membro que não considera que a vida humana tenha que ser defendida até a 18ª semana de gestação.

 

 

Você conhecia aquele diálogo com Singer [trata-se de Peter Singer, famoso por seu ateísmo militante]?

Não, não conhecia aquela frase na entrevista de 2011. Mas gostaria de repetir que Biggar não escreveu nada sobre o tema do aborto.

 Aqui está a confissão mais explícita de que tratou-se de uma trapalhada. Uma constrangedora e monumental trapalhada. Paglia está a frente do principal órgão do Vaticano a tratar de temas bioéticos, dos quais o aborto é sempre o mais recorrente, mas não se preocupou em saber o que pensavam sobre aborto os indicados para a academia que agora dirige.

Reparem como ele também tenta amenizar o fiasco enfatizando que Biggar “não escreveu nada sobre o tema”, como se o fato dele nunca ter colocado no papel aquilo que expressou publicamente – e que continua sendo seu pensamento – mudasse completamente a situação. Paglia apela a um nível sobre-humano de ingenuidade para se safar. Não seria mais digno pedir desculpas?

Leia a íntegra da entrevista. Disponível em italiano, inglês ou espanhol.

 

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Vincenzo_Paglia_depicted_in_image_810_500_55_s_c1-620x383Relembre a bizarra pintura feita dentro da catedral da antiga diocese de Vicenzo Paglia. Nela, são retratados transexuais, prostitutas e travestis, fazendo carícias uns nos outros, com Jesus ao centro. O próprio Paglia aparece no painel – segundo o autor da pintura, foi um pedido do bispo – abraçado ao que parece ser um travesti, nu.

 

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