Arquivo pessoal
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Encontrar-se em uma situação em que prover o sustento diário de sua família já não é possível é um baque para qualquer pessoa. E mesmo para aqueles que ainda não têm esse dever de cuidar de uma casa, a perspectiva de não se desenvolver profissionalmente por conta de um mercado de trabalho que por vezes é enxuto traz incertezas.

Como tem acontecido a muitos brasileiros nos últimos anos, Carlos Henrique Bastos D’ávila, de 38 anos, já provou do dissabor de estar desempregado. “Sei como é complicada essa busca por uma colocação. É desesperador. Digo que não conheço o inferno, mas sei o que é estar desempregado”, contou ele ao Sempre Família. Mas hoje ele une essa dolorosa experiência ao desejo de servir o próximo e voluntariamente auxilia moradores de Porto Alegre a encontrar um emprego e assim ter uma vida digna.

O trabalho feito por Kaká D’ávila – como é conhecido o administrador de empresas – está prestes a completar uma década e colhe bons frutos. Lá atrás ele começou arrecadando currículos e levando-os em seu tempo livre a lugares em que sabia que estavam contratando. “Trabalhei por um tempo em uma agência de empregos e lá vi gente de todo tipo em busca de um futuro”, explica. “Hoje trabalho no serviço público, mas essa questão de empregabilidade está no meu DNA e por isso eu continuo ajudando quem está desempregado”.

Socorro presencial e virtual

Para isso, Kaká costuma fazer ações pontuais por Porto Alegre, mas também mantém um trabalho permanente. Entre aquelas que são eventuais, recentemente ele instituiu a “Árvore de Empregos”, que nada mais é do que um pinheirinho de Natal itinerante que leva, além dos enfeites tradicionais, vagas de emprego em seus galhos e a oferta de impressão de currículos gratuitamente. “Mas também colocamos ali roupas e alimentos para doação, porque quem está desempregado às vezes não tem o que comer”, diz.

Já entre as ações permanentes, está a “Geladeira do Desempregado”, que a princípio parecia “uma ideia de louco”, nas palavras de Kaká, mas que ele soube ter sido providencial para quase 400 famílias na cidade. Dentro dela, além de vagas de emprego, ele disponibiliza roupas, alimentos e dicas para entrevistas. E em uma das laterais da geladeira, há o seu número de WhatsApp. Quem quiser, também pode mandar uma mensagem e participar de um dos grupos que Kaká administra.

No WhatsApp ele movimenta 30 grupos de emprego. “Ali eu divulgo diariamente vagas, dou dicas sobre como se comportar em entrevistas de emprego e faço até sorteios: de cesta básica a passagem de ônibus”. E o sucesso dos grupos não é só entre aqueles que estão à procura de um trabalho, mas também entre os que oferecem: “Algumas empresas já me mandam direto as vagas para eu distribuir lá”, comemora o gaúcho que administra também uma página no Facebook e uma conta no Instagram com o mesmo objetivo.

Nesse trabalho de formiguinha de Kaká, alguns voluntários vez ou outra aparecem para ajudar. Mas em boa parte do tempo, ele faz o que pode sozinho mesmo e está sempre preparado para ajudar levando consigo uma pasta com cópias de currículos e distribuindo-as conforme vê oportunidades. É a continuidade da ação que começou todo esse trabalho em 2010.

Muito a comemorar

Dentre as histórias que mais marcaram o voluntariado de Kaká está a de uma mãe que, sem condições de pagar uma passagem de ônibus, caminhou uma longa distância com uma criança de colo para encontrá-lo. “Costumo fazer um trabalho em comunidades carentes levando uma impressora para ali mesmo montar um currículo, imprimir e deixar com os moradores”, comenta. “Mas essa mãe veio até mim, no Centro, para pegar dicas. Fiquei tocado com essa cena e ainda hoje quando lembro fico emocionado. Naquele dia fizemos o currículo dela e fomos juntos entregar em agências e empresas. Ela entrava e eu ficava com a bebê no colo”, recorda. “No mesmo dia ela conseguiu um trabalho. Fiquei muito feliz”.

E, mais recentemente, outra situação entrou para a lista de momentos inesquecíveis de Kaká. Há algumas semanas ele encontrou diversos currículos entre os sacos de lixo de uma empresa e resgatou vários deles. “Peguei a maioria e refiz os danificados. Distribuí em empresas, inclusive naquela que os extraviou. Dias depois soube que cinco pessoas haviam conseguido trabalho e justamente naquela empresa”, diz. “Até agora não acredito nisso. Estou bem feliz. São famílias que estão voltando a ter dignidade e que terão um Natal com coisas boas”, finaliza.

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