Restaurante oferece refeições de graça para moradores de rua 2.
| Foto: Reprodução/Facebook

Com atividades diferentes daquelas que estava acostumado em sua rotina de trabalho, a manhã do cearense João de Deus Neto foi bem corrida no último dia 4 de março e o almoço habitual de meio-dia acabou atrasando mais de duas horas. “Tanto que, quando consegui parar no restaurante que frequento no Centro da cidade de Maraguape, o local já estava totalmente vazio”, conta o agente comunitário. No entanto, o que ele não esperava era ver o estabelecimento lotar novamente minutos depois com clientes bastante improváveis. “Muitos moradores de rua começaram a entrar no local, muitos mesmo”, disse em entrevista ao Sempre Família.

Surpreso com a situação, o homem de 33 anos ficou observando as pessoas se sentarem e conversarem, tranquilamente, enquanto funcionários do restaurante montavam dezenas de pratos iguais com o alimento disponível no buffet. “Chamei a garçonete para perguntar o que estava ocorrendo e ela explicou que a dona servia almoço àquelas pessoas todos os dias”, disse, ao lembrar o quanto a cena o emocionou. “Principalmente quando vi um dos homens alimentar outro que não tinha os braços. Ali, um ajudava o outro a aproveitar o almoço de forma digna”.

“Chamei a garçonete para perguntar o que estava ocorrendo e ela explicou que a dona servia almoço àquelas pessoas todos os dias”

Diante da situação, Neto registou o momento com seu celular e decidiu postar as imagens nas redes sociais, sem imaginar a quantidade de pessoas que também ficariam comovidas. “Quando cheguei em casa e fui olhar, fiquei até assustado”, recorda o rapaz, ao comentar que a publicação foi compartilhada quase 30 mil vezes. “Só espero que isso incentive mais gente a fazer o bem, assim como a dona Jane faz”, completou.

E foi a partir das fotos publicadas naquela data que ele conheceu a proprietária do restaurante Pé de Serra — a empresária Antonia Jane Uchoa — e descobriu que a iniciativa tinha quase a idade dele, mas nunca havia sido divulgada. “Essa mulher faz isso desde que abriu seu primeiro restaurante na década de 90”, afirmou.

O problema é que, de acordo com a empresária, várias pessoas criticam sua atitude e afirmam que seu estabelecimento alimenta criminosos, desocupados e dependentes químicos. “Mas não vejo isso neles”, garante a empresária Antonia Jane Uchoa. “Para mim, são pessoas com fome, que são como eu e merecem comer nas mesmas mesas e nos mesmos pratos que minha família usa”.

Como a iniciativa começou

Por isso que, depois de oferecer marmitas a esses necessitados por alguns meses, ela decidiu mudar a maneira de distribuir o alimento e passou a convidá-los para comer todos os dias dentro do restaurante. “Confesso que no começo não foi fácil, porque alguns brigavam e era difícil de controlar”, recorda. “Mas fui conversando com eles, falando que eram muito bem-vindos e que deviam preservar o cantinho que tinham para comer”.

E deu certo. Hoje ela vê os moradores de rua se reunirem na praça em frente ao restaurante por volta das 14h, aguardarem o convite para entrar no estabelecimento e sentarem de forma ordenada, aguardando os pratos serem servidos. “Aí comem, tomam água e vão embora”, diz Antônia, que também faz questão de atender os viajantes, acompanhantes de pacientes do hospital da cidade e outras pessoas com dificuldade financeira que passem por ali.

“Este ano, por exemplo, o momento mais emocionante para mim foi quando uma idosa entrou com uma criança, serviu um prato para dividir e eu vi quando a menina lambeu o prato, como se ainda estivesse com fome”, conta a empreendedora, ao lembrar que se aproximou das duas e perguntou se queriam mais alimento. “Aí a mulher disse que não tinha mais dinheiro e eu pedi a uma funcionária para fazer um prato bem caprichado para elas. Foi lindo ver o sorriso que elas deram”.

E é por sorrisos como esse que a empresária repete a ação diariamente e incentiva outras pessoas a fazerem o mesmo. “Todos merecem ser tratados com amor, então espero que mais restaurantes deixem de lado o cheiro ruim de alguns moradores de rua ou os problemas que eles tenham, mas pensem que são seres humanos, merecem ser atendidos como tal”. Afinal, “Aqui no meu restaurante, todos são clientes”.

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