Foi durante as caminhadas feitas por recomendação médica que o José começou a recolher latinhas.| Foto: Arquivo pessoal/José Carlos de Oliveira
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Um problema de saúde virou uma grande corrente de solidariedade. É graças ao esforço de toda uma cidade de Rondônia, que o Hospital de Amor, que trata pacientes com câncer, já recebeu aproximadamente R$ 142 mil em doações. E tudo isso começou com José Carlos de Oliveira, funcionário público da Prefeitura de Cabixi, que resolveu juntar latinhas.

Há pouco mais de sete anos o vigilante recebeu a recomendação médica de fazer caminhadas para não ter que se submeter a uma cirurgia no coração. Todos os dias, cedinho, ele andava por duas horas pelas ruas da cidade, que tem cerca de 5 mil habitantes. Até que teve a ideia de transformar o passeio em uma fonte de renda. Só que o dinheiro não era para ele.

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A mais de 700 km de Cabixi fica uma das unidades do Hospital de Amor, que só no estado de Rondônia, atende cerca de 25 mil pacientes oncológicos por mês. A principal fonte de renda são as doações vindas de leilões beneficentes – em que fazendeiros doam cabeças de gado e os comerciantes, eletrodomésticos – e dos shows que eram realizados anualmente na Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos, onde fica a principal unidade da Instituição.

Sem condições de contribuir da mesma forma, José Carlos achou uma solução. “Eu saía com uma sacolinha, enchia de latinhas. Uma, duas, às vezes quatro dependendo do dia. Foi ganhando uma dimensão que meus amigos começaram a perguntar o que eu estava fazendo”, conta. Foi aí que começou a mobilização e, em pouco tempo, a cidade toda ajudava a arrecadar.

Como o valor do alumínio aumenta conforme a quantidade, foi melhor esperar juntar uma boa quantia para vender e conseguir um preço melhor. Em 2015, graças a esse esforço, foram doados R$ 7,5 mil. Logo vieram convites para festas em outras comunidades e distritos, com a intenção de arrecadar mais latinhas. Com o passar dos anos, eletrodomésticos e outros eletrônicos também começaram a ser recolhidos e separados pelo José Carlos.

Ele também fabricou, com material reciclado, várias lixeiras, que espalhou em bares, restaurantes e postos de combustíveis da cidade e passa recolhendo tudo. Recicla, reutiliza, troca panelas antigas. “Tem dias que passo o dia desmanchando e reciclando porque só tem valor se limpar o material”, afirma ele.

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Do salário de vigilante, menos de R$ 2 mil por mês, não sobra muito. Mas com a aposentadoria da esposa, ele garante ser o suficiente para manter a casa. Em todos esses anos de pouquinho em pouquinho conseguiu quase R$ 142 mil, se tornando um dos principais doadores do estado. “Eu poderia comprar um carro ou reformar minha casa, mas esse não é o propósito”, avisa.

O paranaense de Marilândia do Sul, que mora em Rondônia desde os 13 anos, faz tudo isso com o maior carinho porque sabe que esse esforço vale muito a pena. “O que eu sinto é satisfação de fazer parte da vida daquela pessoa que está sendo tratada dessa doença tão terrível”, ressalta.

“Muitas pessoas pensam que não conseguem ajudar porque não tem um valor grande, mas qualquer quantia é bem-vinda”, diz Leandro Alves, coordenador de captação de recursos do hospital. “Para nós é um orgulho ter pessoas como ele para nos ajudarem a salvar vidas diariamente. A palavra que temos é gratidão”, completa.

Esse também é o sentimento do vigilante. “Gratidão a Deus por me dar a oportunidade de poder ajudar. Mas não sou só eu, são todos os meus amigos comigo. Sem eles eu não sou ninguém”, faz questão de esclarecer.