Edemilson Wielgosz pedala 28 km entre Guaratuba (PR) e Garuva (SC), onde fica o colégio em que os filhos estudam.
Edemilson Wielgosz pedala 28 km entre Guaratuba (PR) e Garuva (SC), onde fica o colégio em que os filhos estudam.| Foto: Herison Schorr

Nascido e criado na região de Guaratuba, Litoral do Paraná, Edemilson Wielgocz (47 anos) é acostumado à uma vida simples. “Minha mãe já criou eu e meus oito irmãos sozinha. Meu pai morreu quando éramos pequenos e era tudo muito humilde”, diz ele, que agora segue os mesmos passos com os filhos. “Faz nove anos que minha esposa foi embora e deixou eles para eu cuidar”, conta.

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A rotina com Wellington (16 anos), Amabili (14) e Nicole (12) exige dedicação total do pai. “Agora que eles estão maiores está um pouco mais fácil, mas antes eu tinha que chegar do trabalho e deixar comida pronta e roupa lavada para o dia seguinte”, afirma. Entre as atribuições, também está buscar as tarefas das “crianças” na escola - que estão sem aulas presenciais desde o início da pandemia. “Eles não têm computador e não consegui colocar internet em casa. Então tenho que ir lá pegar”, explica. No total, são quatro filhos, mas a mais velha se casou e não mora mais com Edemilson.

O trajeto até a escola, que fica no município de Garuva, já no estado vizinho de Santa Catarina, é feito de bicicleta. “Ao todo, dá 28 quilômetros entre ida e volta. Eu faço isso uma vez por semana, toda terça-feira, faça chuva ou faça sol. Meu sonho é ter um carro, mas ainda não foi possível”, expõe o pai dedicado. Tudo pelo futuro dos filhos. “Eu estudei muito pouco porque tive que trabalhar, mas para eles quero uma vida diferente. Não quero que desistam da escola”, ressalta.

E toda vez que Wellington, Amabili ou Nicole precisam da ajuda da internet para fazer as lições, é uma aventura. “Um deles vai até a região próxima [onde há sinal de telefonia], faz a pesquisa necessária, captura imagens no celular e volta para casa”, descreve Edemilson. Para o pai, é arriscado, mas a única maneira de manter os jovens estudando.

Realidade

Além do impasse com transporte e acesso à internet, a família também passa por dificuldades financeiras. Há dois meses, Edemilson está sem receber da pousada onde trabalha. “Eu trabalho lá faz 18 anos. Faço de tudo: varro, corto grama, cuido da plantação de palmito, o que precisar. Mas, desde que entrou esse coronavírus o movimento caiu bastante”, justifica ao revelar não largar o emprego por não ter outra forma de manter a casa.

Pelo que relata o roçador, eles têm sobrevivido apenas com as doações que chegam. “Meu salário é de R$ 1,3 mil, mas gasto R$ 1,2 mil só com as despesas de casa. Então, já sobrava pouca coisa. Agora, piorou. Minha mãe ajuda mandando cesta básica e minhas irmãs também. Esta semana também chegou ajuda do CRAS [Centro de Referência de Assistência Social] da cidade”, diz.

Ainda assim, Edemilson garante não ter perdido a fé. “Acredito que isso tudo vai passar e que vai valer a pena. Quero ver meus filhos formados e com um bom futuro pela frente”, anseia.

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