Trabalho da gaúcha Rozeli da Silva começou em 1996 para evitar que outras crianças passassem pelo que ela passou.
Trabalho da gaúcha Rozeli da Silva começou em 1996 para evitar que outras crianças passassem pelo que ela passou.| Foto: Divulgação/Renascer da Esperança

Foi varrendo as ruas de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, que Rozeli da Silva teve a certeza do que tinha que fazer. “Eu limpava o Centro durante a noite e via as crianças debaixo da ponte pedindo comida. Aquilo mexia demais comigo”, conta.

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A cena levava a gari de volta à própria infância, um tempo marcado pela criminalidade e pela falta de perspectiva. “Eu vivia mais na rua do que em casa. Cometi furtos, fui detida, tive passagem pela antiga Febem (Fundação Estadual para o Bem-Estar do Menor) e fugi de lá”, recorda.

Aos 11 anos, Rozeli entrou em um relacionamento abusivo, viveu sob cárcere privado e foi mãe pela primeira vez aos 12. Depois de anos de luta, no entanto, pôs em prática o que chama de missão de vida: evitar que outras crianças sigam pelo mesmo caminho.

“Em 1994, eu sonhei que estava cuidando de um monte de crianças com a ajuda de uma assistente social. No dia seguinte, já contei para ela o plano: Vamos cuidar de crianças de 6 a 14 anos, no período inverso à escola e vamos dar a elas o que comer e um futuro melhor”, narra. Foi assim que nasceu, anos mais tarde, a Renascer da Esperança.

O início

No começo, a ONG ocupava duas peças nos fundos de uma empresa – cedidas gentilmente para que as ações pudessem ocorrer. Eram 40 educandos e quase 200 voluntários, que ministravam atividades recreativas, sociais e educativas. “Depois disso, eu vendi a minha casa para investir no projeto”, aponta Rozeli.

Junto com a iniciativa, ela também foi evoluindo. Aprendeu a ler e a escrever, fez cursos de captação de recursos e de transparência em trabalhos sociais e hoje está na reta final da faculdade de Relações Públicas. “Eu cuido de pessoas, de crianças e de uma comunidade. Isso também ajudou a me transformar, primeiro no entendimento das letras e depois como pessoa mesmo”, avalia.

Atualmente, o Renascer da Esperança possui duas sedes: uma escola infantil (que recebe crianças de 3 meses a 6 anos de idade) e um centro de formação para os maiores, entre 7 e 17 anos. No segundo endereço, é que são realizadas as oficinas gratuitas de teatro, dança, instrumentos musicais, pintura, escultura, artes marciais, informática, costura, culinária, capoeira, jardinagem, entre outros.

  • Alunos na aula de música. Foto: Divulgação/Renascer da Esperança
  • Mais de 200 crianças e adolescentes entre 7 e 17 anos são atendidos durante o contraturno escolar. Foto: Divulgação/Renascer da Esperança

Em números

Nesses 25 anos de atuação na capital gaúcha, a ONG calcula já ter atendido mais de 7,5 mil crianças, colaborado com a subsistência de 3 mil famílias, arrecadado e distribuído quase 450 toneladas de alimentos e encaixado 350 ex-alunos em vagas de emprego. Isso, fora a ajuda que não dá para contabilizar, como a promoção da autoestima, o fortalecimento do protagonismo social e o resgate da esperança.

Aos 57 anos, cinco filhos, 20 netos e seis bisnetos, Rozeli afirma, ainda, que não se vê como uma mulher diferente das outras, mas que se sente chamada a fazer o bem. “Eu recebi uma luz divina para fazer esse trabalho. Deus me deu essa honra, porque quando você faz alguma coisa de coração e não em benefício próprio, você vai muito longe”, ressalta.

#MeuRenascerFoi

“Eu crio meu filho sozinha, preciso sair para trabalhar e no período do contraturno escolar ele está no Renascer sendo bem cuidado, fazendo atividades de dança, de luta e aprendendo junto do coletivo dessa ONG o seu lugar no mundo”, diz a mãe de uma das crianças atendidas em depoimento ao site da instituição.

Já o voluntário Daniel Rodrigues Fernandes, de 29 anos, é acompanhando por Rozeli desde criança. “O Renascer tem muita importância na minha vida, primeiro porque me deu mais uma mãe e a presença de pai que eu não tive. A Rozeli ensina sentimentos, postura, respeito e me ofereceu tudo o que faltava e eu precisava. Para mim, as marcas dessa experiência são o valor pessoal e o amor, que sem ele a gente não chega a lugar algum”, declara.

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