O guarda civil Marcos Antonio de Moraes resgata moradores de rua da capital paulista desde 2004, e já atendeu mais de 300 casos.
| Foto: Arquivo pessoal/Marcos Antonio de Moraes

Enquanto caminha pelo centro de São Paulo, o guarda civil metropolitano Marcos Antonio de Moraes busca algo bem diferente dos outros profissionais fardados que atuam ali. “Presto atenção nos olhos de cada morador de rua que encontro e percebo quem está gritando por socorro através do olhar”, afirma o paulista de 57 anos, que recolhe essas pessoas, promove o reencontro delas com a família e as ajuda em sua reinserção na sociedade. “Já são quase 300 casos atendidos”.

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De acordo com o guarda, as ações começaram por volta de 2004, quando ele ingressou na corporação decidido a se aproximar desses indivíduos, ouvir suas histórias e incentivá-los a recomeçar. “A gente percebe quando a pessoa está falando a verdade, então, se vejo que alguém realmente quer mudar de vida, faço o possível para isso”.

E foi assim que ele ajudou o gaúcho Antônio Egídio, primeiro morador de rua beneficiado pelo trabalho. “Ele me disse que seu sonho era ver o casamento da filha, então fui atrás e, mesmo com dificuldade na época, encontrei a família no interior de São Paulo”, conta Marcos, ao lembrar que ligou diversas vezes no orelhão que existia na rua até falar com os familiares. “Aí preparei a documentação dele, paguei um corte de cabelo, banho, roupas, passagem, e o Seu Antônio viu a filha casar”, comemora.

Aos poucos, situações como essa se tornaram cada vez mais frequentes, principalmente depois que as ações ficaram conhecidas nas redes sociais e receberam compartilhamentos por todo o Brasil. “Eu postava a foto do morador de rua com as informações a respeito dos familiares, e logo a imagem esbarrava em algum parente”, relata Marcos, que localizou dessa forma a mãe do pernambucano Airton.

“Esse senhor me falou que havia perdido o emprego há 20 anos e queria voltar para casa, só que não tinha documentos e nem o contato da família”, conta o guarda, que conseguiu reunir mãe e filho, em Recife. “Foi perfeito!”, afirma. “Inclusive, recebi esses dias uma foto em que a mãezinha dele, com mais de 70 anos, estava segurando ele no colo”.  

Só que nem todas as histórias terminam com o reencontro tão esperado. Segundo o morador de São Paulo, algumas famílias não são localizadas e outras nem aceitam receber de volta o morador de rua devido aos conflitos que tiveram ou aos vícios que o indivíduo adquiriu nas ruas, como álcool e crack.

Mesmo assim, Marcos tenta ajudá-los com doação de roupas e alimentos que carrega em seu carro, com o encaminhamento para tratar o vício e buscando uma vaga de trabalho que estimule a pessoa a deixar as ruas. Além disso, afirma que já levou gente para sua própria casa e até recebeu um senhor como membro da família. “É o Seu Geraldo, que é pedreiro, conseguiu vários trabalhos e hoje convive comigo e com minha esposa de forma muito respeitosa”, conta.

Ação oficial da GCM

E são histórias como essas que fizeram com que o trabalho deixasse de ser somente uma ação pessoal para se tornar algo oficial da Guarda Civil Metropolitana (GCM) de São Paulo. “Hoje eu lidero a equipe Anjos da Guarda com cinco integrantes para reintegrar moradores de rua à família, atuar na prevenção do uso de drogas e oferecer tratamento psicológico a colegas da corporação que precisam”, comemora Marcos.

Mas ele afirma que seu trabalho não termina no fim do plantão, pois são nos momentos em que está à paisana que consegue se aproximar com mais facilidade de áreas complicadas da famosa Cracolândia, em São Paulo. “E ali tem muitas histórias”, garante, ao encerrar com uma das que mais o emocionam: a do Felipe, de 23 anos.

“A família dele já tinha feito até boletim de ocorrência para tentar encontrá-lo”, conta. “Então, comprei roupas para esse jovem, o levei em uma pensão para tomar banho, e a mãe nem o reconheceu, pois estava procurando o rapaz todo sujo que tinha visto na foto”, recorda, ao garantir que o encontro dessa mulher com o filho transformado e decidido a ir para casa foi muito especial. “São essas cenas que me motivam a continuar”.

Felipe, de 23 anos, voltou para casa com a ajuda do guarda Marcos Antonio de Moraes. Ele faleceu dois anos depois em um acidente de trânsito. Fotos: Arquivo pessoal
Felipe, de 23 anos, voltou para casa com a ajuda do guarda Marcos Antonio de Moraes. Ele faleceu dois anos depois em um acidente de trânsito. Fotos: Arquivo pessoal

Por isso, quem desejar contribuir com o trabalho pode entrar em contato pelo site “Encontrando Vidas” ou diretamente com o Marcos por meio do WhatsApp (11) 94756-0899. “Toda ajuda será bem-vinda!”, finaliza o paulista.

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