Arquivo Pessoal
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Enquanto caminhava perto de um supermercado na cidade de Ariquemes, no estado de Rondônia, a cabeleireira desempregada Elza dos Santos percebeu alguns cartazes diferentes fixados no local e se aproximou para saber o que era. “Pensei que fosse uma campanha de doação de sangue, mas me falaram que era para doar medula óssea”, conta a rondoniense, que nunca tinha ouvido falar daquele procedimento, mas aceitou realizar o cadastro. “A moça me explicou como fazia, e eu aceitei”.

Foto: Arquivo pessoal/Gabriel Massote Arquivo pessoal/Gabriel Massote

Só que Elza não imaginava que seria compatível com alguém e que seu ato lhe traria uma linda amizade, um salão de beleza e uma casa nova entregue para sua família no último dia 19 de outubro. “Fui só uma gota na vida desse rapaz que eu não conhecia, mas hoje ele é o oceano inteiro na minha vida”, afirmou, ao garantir que não realizou a doação para receber algo em troca. “Me coloquei no lugar da mãe dele porque também tenho dois filhos e faço tudo por eles”.

E foi pensando na família daquele jovem que ela viajou para o Rio Grande do Norte realizar o transplante e fez uma segunda viagem até São Paulo para repetir o processo. “A primeira tentativa em novembro de 2013 não deu certo, então ela foi chamada de novo para coletar outro tipo de células, e aceitou ir prontamente”, conta o advogado Gabriel Massote, de 35 anos. “Ela me salvou duas vezes e hoje 100% das minhas células sanguíneas são da Elza”.

“Ela me salvou duas vezes e hoje 100% das minhas células sanguíneas são da Elza”.

Morador de Uberlândia, em Minas Gerais, Gabriel descobriu o câncer em seu sangue aos 26 anos e realizou diversos procedimentos na tentativa de ser curado. “Fiz quase um ano e meio de quimioterapia e cheguei a receber alta”, recorda. “Mas a leucemia voltou de forma mais agressiva em 2013, e minha única chance era o transplante de medula”.

Foto: Arquivo pessoal/Gabriel Massote Diversas campanhas tentaram localizar um doador de medula para Gabriel. Foto: Arquivo pessoal/Gabriel Massote

O problema é que ninguém de sua família era compatível com ele e a chance de encontrar um doador no Registro de Doadores de Medula Óssea (Redome) é mínima: aproximadamente uma em 100 mil. Por isso, apesar das campanhas realizadas por sua família, o mineiro pensou que não sobreviveria. “Vivi momentos bem difíceis e fiquei quase um ano sem sair do hospital”, recorda o uberlandense, que não conseguiu conter a felicidade ao descobrir que havia uma pessoa em todo o mundo capaz de realizar o transplante. “Tive muita sorte!”

Como agradecer?

Com imensa gratidão, Gabriel procurou saber quem era o doador e decidiu fazer algo por ele. “Aí, quando conheci a Elza e fiquei sabendo que ela e o marido estavam desempregados e morando de favor atrás de uma igreja, tive certeza que devia ajudá-los”, conta o advogado. Para isso, ele se inscreveu em programas de televisão como o “Caldeirão do Huck” na tentativa de conseguir recursos financeiros para dar uma casa à rondoniense. “Mas saímos zerados”, lamenta o rapaz, que resolveu, então, criar uma campanha na internet para arrecadar o valor necessário.

Foto: Arquivo pessoal/Gabriel Massote A casa foi entregue à família de Elza no dia 19 de outubro. Foto: Arquivo pessoal/Gabriel Massote

E a ideia deu certo. Em poucos dias, 465 pessoas participaram da “vaquinha” e doaram o total de R$ 117 mil para a compra e reforma de um imóvel na cidade rondoniense de Ji-Paraná, onde a doadora mora atualmente. “Essa residência fazia parte de uma briga judicial, então entrei em contato com os advogados envolvidos e, depois de uma negociação pesada, fechamos um acordo”, comemora Gabriel. “Assim, o valor arrecadado foi suficiente para comprar a casa, ajudou na reforma e deu para montar um salão de beleza para a Elza trabalhar”.

A moradia foi entregue oficialmente à família no último dia 19 e o salão foi inaugurado neste sábado (26) com bastante movimento. “Nunca imaginei que isso tudo estaria acontecendo e só tenho que agradecer. Afinal, “fiz algo simples, que foi doar minha medula, e ganhei um anjo na minha vida”, finalizou Elza.

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