Crédito: Manoela Martins
Crédito: Manoela Martins| Foto:

“Em breve vou chegar para a minha sétima cesariana eletiva sambando e glamourosa. Vou mais uma vez tratar toda a equipe hospitalar com delicadeza. Vou agradecer cada agulhada. Vou vestir a camisola da vergonha sorrindo. Vou ser boazinha e não tremer de pânico quando forem me anestesiar. Ainda que amarrada e olhando para aquelas luzes de estádio de futebol enquanto fazem a extração fetal de minhas entranhas. E vou ficar profundamente agradecida ao médico que me remendar e me entregar para a interminável espera no corredor do centro cirúrgico. Vou somente fechar os olhos quando forem me tirar do mesa de cirurgia e ignorar aquela sensação 6 vezes angustiante de que vou cair. As enfermeiras vão comentar como sou educada, talvez alguma sorria e me chame de mãezinha. Nesse processo vou dar satisfação de minhas escolhas de vida com um sorriso doce de batom vermelho para cada profissional escandalizado que cruzar comigo pelo caminho. Vou pagar uma baba de dinheiro para ouvir conselhos sobre planejamento familiar até do porteiro da maternidade. Todos vão virar os olhos quando eu disser que eu PLANEJEI ter todos os filhos. Acho que vou tatuar na testa essa resposta. Na era do “não se reprima” em que o importante é ser feliz, a sexualidade é o ar que se respira. Isso a não ser que dela ocorra a reprodução humana. É literalmente crime não respeitar as escolhas sexuais das pessoas quando elas representam a diversidade, mas não há respeito com a minoria que escolhe viver sua sexualidade abraçando todas as naturais consequências. Vou passar tudo isso porque meus partos me foram roubados. Aos vinte e um anos, sem nenhum problema de saúde, uma obstetra marcou minha primeira cesariana sob pretexto de que haveria risco de óbito fetal se passasse de 38 semanas. (para quem não vive na maternosfera vai a legenda: hoje se considera um bebê dessa idade prematuro) Ela sabia de meu desejo de ter uma família grande. Riu de mim. Disse que quando eu tivesse o primeiro bebê chorando eu mudaria de ideia. Quem nesse mundo escolheria correr um risco de óbito fetal? Passados 3 filhos fiquei sabendo que esse papo era balela. Chocada mudei de obstetra e pude viver em paz minhas gestações seguintes com uma médica responsável que falou dos riscos, me tratou com dignidade, respeitou minhas escolhas e nunca fez terror algum. Nessa sétima gestação tive que procurar outro profissional e vivi a saga de ouvir as opiniões de todos os médicos da cidade. Conversei com uma doutora essa semana que disse “tirando as cesárias anteriores você é uma paciente de baixo risco”. Considerando que você não vai parar de ter filhos e cada cesariana soma riscos de complicações, ainda seria melhor para o seu futuro tentar um parto natural com todo o apoio e estrutura para o caso de você precisar de uma cirurgia de emergência, mas ninguém vai fazer isso, nenhum hospital vai deixar. Ela me olhou com empatia e disse “tá caindo a ficha do que fizeram com você?” Bingo! No mundo que luta pela eutanásia, pelo direito de as pessoas recorrerem à toda a estrutura hospitalar para deliberadamente morrer, me foi roubado repetidamente o direito de escolher como meus filhos vão nascer. E porque vou chegar no hospital sambando? (Vai ser ridículo, porque não sei sambar) Porque aprendi com Viktor Frankl “Tudo pode ser tirado de uma pessoa, exceto uma coisa: a liberdade de escolher sua atitude em qualquer circunstância da vida.”

Por Manoela Martins

Esposa, mãe de 7, homeschooler, empreendedora digital e dona de um coração gigante!

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