Atacar a geladeira com frequência durante a madrugada dificulta a perda de peso e pode indicar problemas emocionais
Atacar a geladeira com frequência durante a madrugada dificulta a perda de peso e pode indicar problemas emocionais| Foto: Bigstock

Nesta série, já conversamos sobre o desencadeamento de transtornos alimentares devido a dietas restritivas, e também distinguimos o transtorno de compulsão alimentar do episódio compulsivo. Hoje trataremos sobre a síndrome do comer noturno. Acompanhe na próxima sexta-feira (22) os riscos da preocupação excessiva com a alimentação saudável.

Sabe aquele ataque à geladeira no meio da noite? Parece ser algo inofensivo, mas é um comportamento disfuncional e que pode ser reflexo de maus hábitos, dietas muito restritivas, ansiedade ou de dificuldades para lidar com algum problema ou sentimento.

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De acordo com a psicóloga Priscilla Leitner, especialista em comportamento e transtornos alimentares, é esperado que um indivíduo que se alimentou de maneira equilibrada durante o dia e no jantar não utilize o período noturno para comer, ainda que acorde com a sensação de fome no dia seguinte.

Porém, situações de insônia ou o desejo de comer escondido, principalmente coisas que ele mesmo não se permite durante o dia, como carboidratos e guloseimas, podem fazer com que a pessoa desenvolva esse comportamento de acordar durante a madrugada para "beliscar" alguma comida.

Além de prejudicar o sono, esse hábito dificulta a perda de peso. Segundo o psiquiatra Glauber Higa Kaio, que é mestre em transtornos alimentares, um estudo realizado com pacientes em tratamento contra a obesidade demonstrou que aqueles que acordavam durante a noite para ingerir alimentos tinham mais dificuldade para reduzir o valor apresentado na balança, em comparação com os que permaneciam dormindo.

Desse modo, ainda que não seja considerado um transtorno alimentar, a síndrome do comer noturno (SCN) prejudica a qualidade de vida da pessoa por estar associada ao aumento do peso corporal e a outros fatores emocionais. E o que difere a SCN do transtorno alimentar?

A resposta é a intencionalidade da ação, pois, de acordo com o psiquiatra, quem tem a síndrome se alimenta de forma excessiva após o jantar ou durante a madrugada pelo menos duas vezes por semana, por três meses, sempre de forma intencional. Já quem possui transtorno alimentar relacionado ao sono (TARS) levanta de forma inconsciente, já que essa atitude está, na maioria das vezes, associada a alguma parassonia ou ao uso de medicamentos psicotrópicos.

Atente-se aos sinais de alerta

Por isso, é importante estar atento aos sinais durante dia e noite para avaliar se há algo errado. "Sentir-se deprimido ao anoitecer, necessidade de comer entre o jantar e o início do sono ou acreditar que precisa se alimentar para iniciar ou voltar a dormir são alguns motivos a serem investigados", incentiva Higa Kaio, ao citar ainda insônia ou falta de apetite durante a manhã, por vários dias na semana.

E a causa também deve ser avaliada, destaca a psicóloga Priscila. De acordo com ela, um dos principais fatores desencadeantes do problema é a alimentação insuficiente ao longo do dia ou controle excessivo do que se ingere, principalmente na tentativa de emagrecer. "Mas a síndrome também pode estar associada à ansiedade, compulsão alimentar, bulimia nervosa ou outro transtorno alimentar", alerta a especialista. "Por isso, é necessário procurar ajuda para entender a motivação os despertares e com qual frequência e intensidade ocorrem".

Vale ressaltar que, por não ser um transtorno alimentar oficial, ainda não há tratamento padrão e comprovado cientificamente para essa síndrome. No entanto, o acompanhamento por uma equipe multidisciplinar, medicações, relaxamento muscular e fototerapia já foram relatados como eficazes.

Fome ou vontade de comer?

Priscila ressalta ainda que "boa parte da fome noturna não é fome" e que muitas pessoas que não possuem uma rotina de alimentação adequada ao longo do dia não conseguem perceber os sinais de saciedade, comendo à noite sem estar verdadeiramente faminto. "É uma tentativa de compensar o que não ingeriram durante o dia", explica.

Já quem realmente sente a barriga roncando nesse período deve avaliar se está demorando muito para dormir depois de comer devido à realização de atividades até a madrugada, por exemplo, ou se está precisando de auxílio nutricional em sua alimentação. Afinal, “é preciso se hidratar e se alimentar de maneira equilibrada durante o dia", aponta Priscilla, ao afirmar que o indivíduo que fizer isso reduzirá, e muito, a chance de acordar à noite para atacar a geladeira.

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