A ideia de fortalecer o sistema imunológico com alimentos ou suplementos é, em grande parte, um mito
Não existem soluções mágicas e a saúde como um todo, especialmente o sistema imunológico, é uma engrenagem complexa.| Foto: Bigstock

Durante a pandemia de Covid-19, são muitos os produtos, alimentos e suplementos que têm aparecido com promessas de proteção contra o vírus. Mas é possível "turbinar" o sistema imunológico para evitar que se fique doente? A ideia é atraente, mas especialistas pedem cautela com produtos que dizem fortalecer a imunidade, já que não existem soluções mágicas e a saúde como um todo – mas especialmente o sistema imunológico – é uma engrenagem complexa.

"De forma geral, quem tem alimentação saudável não tem necessidade de suplementos", resume Pedro Moraes Vieira, coordenador do Laboratório de Imunometabolismo, da Unicamp.

Vitaminas

A vitamina C é frequentemente promovida como um remédio natural contra gripes e resfriados – e mais recentemente como auxiliar no combate à Covid-19. O nutriente é necessário para o sistema imune, estrutura óssea e absorção de ferro, entre outros.

No entanto, estudos indicam que tomar suplementos de vitamina C não reduz o risco de pegar um resfriado. O nutriente é encontrado em alimentos como frutas cítricas, morangos, pimentões e brócolis. A recomendação para homens é consumir 90 mg de vitamina C por dia, enquanto mulheres precisam de 75 mg diários.

Quem tem uma dieta balanceada já consome a quantidade necessária para as funções fisiológicas, diz Vieira. "Você vai acabar gastando dinheiro e o excesso de vitamina C será excretado de qualquer forma", alerta o especialista. "A vitamina C não combate o vírus, por exemplo. Ela tem efeito antioxidante que é fator para algumas células que são importantes no sistema imune".

Já a relação entre vitamina D e Covid-19 tem sido analisada desde o início da pandemia, mas as evidências sobre o impacto desse nutriente na resposta à doença ainda não são muito sólidas. "Para quem tem nível normal de vitamina D, aumentar mais esse nível não vai fazer efeito algum", explica o pesquisador.

Pessoas que têm fatores que aumentam o risco de deficiência de vitamina D – obesidade, pele negra, morar em locais com pouca luz solar – devem verificar se o seu índice de vitamina D está adequado, explica Victoria Zeghbi Borba, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia e chefe do Serviço de Endocrinologia e Metabologia do Hospital das Clínicas da UFPR. A vitamina D é produzida no corpo humano em resposta à exposição da pele à luz solar. Outras fontes da vitamina são alguns peixes, gemas de ovos e cereais fortificados.

A especialista recomenda a suplementação para quem está com os níveis mais baixos. "Não precisamos tomar doses altas [de suplementos de vitamina D], mas temos que manter um nível normal. Para o idoso, o melhor é tomar a vitamina até diariamente, mas não tomar doses altas de uma vez só, porque isso pode aumentar o risco de fraturas", explica a médica.

Produtos milagrosos e hábitos saudáveis

É grande a variedade de produtos como chás, sucos, temperos e pílulas que prometem "turbinar" a imunidade, mas a ideia de que superalimentos podem fortalecer o sistema imune é, em grande parte, um mito.

"Muitos produtos falam que vão dar um ‘boost’ no sistema imunológico. Isso não é verdade. Boa parte desses alimentos contém alguns fatores que podem ser importantes para quem tem alguma deficiência. Mas para quem está com a alimentação regular, eles não vão ter efeito algum", ressalta Vieira.

Não existe uma fórmula milagrosa para melhorar o sistema imunológico, a não ser fazer exercícios, ter alimentação saudável e se precaver tomando as vacinas disponíveis, diz o especialista. "Você não vai conseguir fazer com que o seu sistema imune funcione melhor do que o que ele está programado para funcionar", resume.

Se uma boa alimentação é o primeiro passo para uma boa saúde em geral, esse hábito também ajuda a diminuir os riscos de sintomas graves em caso de infecção pelo novo coronavírus. "Pessoas com sobrepeso e com diabetes não controlada têm maior chance de desenvolver formas graves de Covid-19. Não se alimentar bem, estar com sobrepeso e não fazer exercício por si só são fatores de risco", lembra Vieira.

Mas a equação não é tão simples, já que pessoas saudáveis e que se alimentam bem também têm formas graves de Covid-19. Essa não é uma doença só de aspectos alimentares, há aspectos genéticos envolvidos que ainda não são totalmente compreendidos pelos cientistas. "Às vezes você tem uma alimentação saudável, toma suplementos, mas é hipertenso", diz Vieira, citando um dos fatores de risco para Covid-19 – o vírus se liga a um receptor que está presente em maior quantidade em pessoas hipertensas. "Por mais que você se alimente bem, o vírus vai entrar e infectar mais, porque vai encontrar uma quantidade maior de células".

Uma vacina poderia, de fato, garantir a imunidade contra o coronavírus. Mas enquanto um imunizante seguro e eficaz não chega, as regras de prevenção continuam sendo a melhor aposta: usar máscaras, boa higiene, manter distanciamento físico, ventilar os ambientes e isolar-se em caso de sintomas.

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