O medicamento é indicado para pacientes com resistência a tratamentos anteriores e para rápida redução de sintomas em casos de TDM.
O medicamento é indicado para pacientes com resistência a tratamentos anteriores e para rápida redução de sintomas em casos de TDM.| Foto: Divulgação

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou um novo tratamento para depressão grave em adultos por meio de um spray nasal. O medicamento é indicado para pacientes que apresentaram resistência a tratamentos anteriores e para rápida redução de sintomas em casos de transtorno depressivo maior (TDM) com comportamento ou ideação suicida aguda.

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"O aspecto mais importante sobre suicídio na depressão tem a ver com uma visão negativa do mundo, um sofrimento intenso associado a uma desesperança, a impressão de que aquele sofrimento não vai melhorar. Há autores que chamam de dor psíquica, um fator gatilho para quem está pensando em suicídio, começar realmente a ter a intenção de cometer o ato", diz Marcelo Daudt von der Heyde, psiquiatra e professor da Escola de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

O cloridrato de escetamina (Spravato) deve ser usado em combinação com um antidepressivo oral. Segundo a Janssen, farmacêutica da Johnson & Johnson que desenvolveu o medicamento, ele atua "nos receptores de glutamato N-metil-D-aspartato (NMDA), que ajudam a restaurar as conexões sinápticas em células cerebrais de pessoas com depressão".

Segundo von der Heyde, a grande diferença é que todos os outros antidepressivos, mesmos os mais modernos, agem na sinapse e nas vias das monaminas (serotonina, noradrenalina e dopamina). "Já a ketamina tem um mecanismo intracelular, que faz com que ele tenha uma melhora rápida em poucas horas, quando dá certo", diz ele.

Esse tratamento, segundo o psiquiatra, é usado em casos que não se pode esperar de duas a quatro semanas o efeito do antidepressivo e também em casos persistentes, sendo mais uma alternativa além das varias associações, para tratamento de depressão resistente.

Ainda, de acordo com a empresa, ensaios clínicos de fase 3 demonstraram que, em associação com a terapia padrão, a escetamina reduziu sintomas de depressão em até 24 horas após a primeira dose. A farmacêutica informou que a medicação será administrada apenas em hospitais e clínicas autorizadas com a supervisão de um profissional de saúde.

"O spray nasal de escetamina é o primeiro de sua classe de medicamentos antidepressivos aprovado pela Anvisa e surge como uma das principais inovações para o tratamento da doença em décadas. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão afeta cerca de 300 milhões de pessoas de todas as idades e é considerada a doença mais incapacitante do mundo. Embora os antidepressivos atualmente disponíveis sejam eficazes para muitos pacientes, cerca de um terço dos indivíduos não responde ao tratamento", diz a empresa, em comunicado.

Depressão resistente, de acordo com von der Heyde, é aquela que, mesmo com o tratamento correto, a pessoa não não encontra a remissão, que é voltar ao estado normal dela. "Há várias definições para ela, mas em geral ela é diagnosticada quando se tenta dois ou três medicamentos em tempo adequado, em dose adequada ou em associação com outros medicamentos, e mesmo assim a pessoa não tem melhora do sintoma depressivo", diz ele.

A farmacêutica destaca que o medicamento não demonstrou efetividade na prevenção do suicídio ou na redução da ideação ou comportamento suicida. "Mesmo que o paciente melhore com as doses iniciais de escetamina, o uso do medicamento não dispensa a necessidade de hospitalização, caso clinicamente justificada".

De acordo com dados do Sistema Único de Saúde (SUS), entre 2015 e 2018, houve aumento de 52% nos atendimentos ambulatorial e de internação relacionados à depressão no país, passando de 79.654 para 121.341 procedimentos. Na faixa etária de 15 a 29 anos, o aumento foi de 115%, passando de 12.698 para 27.363 procedimentos.

Depressão

O eixo central para tratamento de depressão, segundo o psiquiatra, está embasado em uso de medicamento antidepressivo e psicoterapia. Há inúmeros tipos de antidepressivos no mercado, de várias classes, mas quase todos acabam agindo no mecanismo da serotonina, noradrenalina ou da dopamina. "Eles levam algumas semanas para ter efeito mínimo, geralmente, de duas a quatro semanas para ter algum feito satisfatório", afirma von der Heyde.

Segundo ele, os remédios mais modernos para depressão melhoraram muito na questão da tolerabilidade, mas mantendo o índice de eficácia de medicamentos que datam da década de 1960. "Em alguns casos é feita também uma associação de classes de antidepressivos, ou ainda as formas somáticas, como a eletroconvulsoterapia, indicada a casos muito graves, com risco de suicídio ou casos resistentes, ou casos que têm algum impedimento do uso do medicamento e em depressão grave na gestação, mas que é pouco usada pela questão do custo e também por ter sido mau usada no passado e que hoje sofre muito com o estigma, apesar de ser segura e feita sob anestesia hoje em dia", diz ele.

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