Febre, tosse e até perda de olfato e do paladar são sinais conhecidos da Covid-19, mas outros sintomas podem também aparecer
Febre, tosse e até perda de olfato e do paladar são sinais conhecidos da Covid-19, mas outros sintomas podem também aparecer| Foto: Bigstock

Dos sintomas mais comumente associados à Covid-19, os olhos não são afetados com muita frequência, embora possam apresentar alterações. Quando ocorrem, são as conjuntivites que chamam atenção e que tendem a aparecer em 1% dos casos.

"A conjuntivite é uma complicação relativamente incomum da infecção por Covid-19. Relatórios a descreveram como ocorrendo em cerca de 1% dos casos. Existem relatos de casos de conjuntivite como os únicos sintomas para alguns pacientes com Covid-19", explica William F. Marshall III, especialista em doenças infecciosas da Mayo Clinic, em Rochester, Estados Unidos.

Caso haja a manifestação desses sinais, não há motivos para preocupação, de acordo com o médico norte-americano. O tempo de duração da condição varia de uma a duas semanas, e o tratamento indicado é o padrão para conjuntivites virais: uso de lágrimas artificiais e compressas quentes ou frias, que podem aliviar a irritação dos outros ou qualquer desconforto leve.

Por que os olhos?

Mesmo que os sinais oftalmológicos fossem mais comuns entre pacientes com a infecção pelo novo coronavírus, esse sintoma não seria uma surpresa tão grande, segundo Pedro Carricondo, médico oftalmologista, diretor do Pronto Socorro de Oftalmologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e membro da diretoria do Conselho Brasileiro de Oftalmologia.

"[O novo coronavírus] é um vírus que causa uma infecção de vias aéreas superiores e é muito comum, nesses casos, a mucosa conjuntival ser afetada, porque ela é muito próxima da mucosa das vias aéreas. Quase todos os vírus que afetam as vias aéreas podem deixar o olho vermelho, com um pouco de secreção", explica o oftalmologista.

Embora seja frequente nessas outras condições, Carricondo relata que não houve um aumento perceptível na busca por atendimento médico de pessoas com esses sinais no hospital em que atua em São Paulo. "Não identificamos também porque não fazemos teste de Covid-19 em paciente só com conjuntivite. Teve uma médica que estava atendendo pacientes com a doença, e ela teve a conjuntivite, mas não sabemos se era Covid-19 ou não", explica.

Olho também é porta de entrada do vírus

De acordo com o especialista em doenças infecciosas, William F. Marshall III, como já foram encontrados rastros do RNA do Sars-Cov-2 nas lágrimas de pessoas doentes, o contato com as membras oculares pode ser, sim, um ponto de entrada do novo coronavírus no organismo. "Os receptores da enzima conversora de angiotensina 2 [enzima que o vírus utiliza para entrar nas células] estão presentes nas células conjuntivais em níveis baixos", explica.

Sendo assim, o uso de proteção nos olhos – especialmente entre pessoas que tenham contato direto com outras – é essencial para evitar a transmissão do novo coronavírus.

"Essa é uma medida que é recomendada, principalmente entre quem tem contato com o público. É preciso proteger todas as mucosas, porque o olho pode ser uma porta de entrada. Então, quem já usa óculos, ótimo, e quem não usa, o ideal é que use um protetor facial ou óculos de proteção. Qualquer mucosa tem risco de contaminação", afirma Pedro Carricondo, médico oftalmologista.

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