Pesquisadores de diversas partes do mundo divulgaram resultados que identificam 13 regiões no genoma associadas à Covid grave
Pesquisadores de diversas partes do mundo divulgaram resultados que identificam 13 regiões no genoma associadas à Covid grave| Foto: Bigstock

Desde o início da pandemia, pesquisadores de várias partes do mundo buscaram entender quais pessoas desenvolvem formas leves e quais têm quadros mais graves da Covid-19, a partir de fatores genéticos. Foram identificadas 13 loci (regiões ou localizações do genoma humano), em oito cromossomos, que estão associadas ao adoecimento ou à gravidade pela doença, e os resultados foram publicados em um artigo na revista científica Nature nesta quinta-feira (8).

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Para chegar a essa resposta, os pesquisadores observaram as informações genéticas de quase 50 mil pacientes, e buscaram por fatores genéticos em comum. Os resultados foram comparados com as informações de 2 milhões de pessoas não infectadas, que serviram de grupo controle.

Apesar de algumas características estarem associadas a maior gravidade da infecção, como idade avançada e a obesidade, por exemplo, esses fatores sozinhos não explicam a severidade da doença em todas as pessoas, segundo os pesquisadores. Há quem, mesmo sem as comorbidades já listadas, também desenvolva uma Covid-19 mais grave. É para esse grupo que os estudos genéticos buscam dar uma resposta.

"Fatores genéticos que contribuem para a suscetibilidade e severidade da Covid-19 podem fornecer novos entendimentos sobre a patogênese da doença e identificar alvos para o desenvolvimento terapêutico ou o reposicionamento de fármacos, visto que o tratamento da doença permanece um objetivo importante, apesar do desenvolvimento recente das vacinas", destacam os autores do artigo.

Apesar de não identificarem alterações em genes específicos, os pesquisadores viram que as variações nas regiões de alguns cromossomos, como 3, 6, 8, 9, 12, 17, 19 e 21, poderiam estar associadas tanto a uma maior suscetibilidade, quanto a uma maior gravidade.

Este é um dos maiores estudos de associação genômica ampla já feitos até o momento para a doença. Estudos do tipo examinam centenas de milhares de diferenças nas letras do DNA por todo o genoma, em uma grande quantidade de pessoas, a fim de verificar se alguma delas se destaca em pessoas com alguma doença ou característica específica.

A maioria das regiões do genoma que foram identificadas pelos pesquisadores contém genes do sistema imunológico. Alguns se relacionam à fisiologia do pulmão, associados ao câncer ou fibrose pulmonar, e outras regiões apresentam variações que são específicas da Covid-19.

Em quatro regiões, os pesquisadores observaram maior suscetibilidade à infecção pelo coronavírus. Isso porque elas apresentam uma variação na posição do cromossomo 3, onde está o gene SLC6A20. Este gene é conhecido por interagir com o receptor ACE2 (enzima conversora de angiotensina), que é usado pelo coronavírus para entrar nas células humanas. Com uma variação neste gene, a entrada do vírus poderia ser facilitada.

De acordo com os pesquisadores, as pessoas com essa variação teriam um risco de 13% a 18% maior de, ao entrar em contato com o vírus, desenvolver a doença. Participaram do estudo pesquisadores de laboratórios acadêmicos e da iniciativa privada. Formalmente, o grupo foi chamado de HGI, Covid-19 Host Genetics Initiative, ou Iniciativa para o Estudo da Genética do Hospedeiro.

Diagnóstico e tratamento da Covid grave

Além de facilitar a identificação de gravidade e os mecanismos biológicos da doença, os resultados também poderão contribuir com sugestões de medicamentos ou substâncias a serem testados para a Covid-19.

A pesquisa ainda deve continuar, focando em outros aspectos da doença. Por exemplo, o que diferencia as pessoas que mantêm sintomas da Covid-19 por mais tempo do que o previsto – os chamados "long-haulers" – e os que desenvolvem a Covid-19 longa.

De acordo com Mark Daly, diretor do Instituto de Medicina Molecular da Finlândia e um dos fundadores do grupo HGI, até o próximo ano eles esperam ter um punhado de hipóteses terapêuticas mais concretas contra a doença. Em entrevista ao Instituto Broad do MIT e Harvard, do qual ele faz parte, o pesquisador explicou que, de forma realista, o mundo ainda terá de lidar com a Covid-19 com maior seriedade por um longo tempo. "Qualquer medicamento que surja neste ano, por exemplo pela reposição de um medicamento já existente baseado em claros conhecimentos genéticos, teria um grande impacto", diz ele.

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