Apesar de a doença celíaca ser cada vez mais conhecida, os acometidos por ela representam menos de 2% da população mundial.
Apesar de a doença celíaca ser cada vez mais conhecida, os acometidos por ela representam menos de 2% da população mundial.| Foto: Bigstock

De uns anos para cá a doença celíaca se tornou mais conhecida. Apesar disso, não houve um crescimento no número de novos casos em todo o mundo. Segundo Fernando Seefelder Flaquer, médico gastroenterologista do Hospital Israelita Albert Einstein, menos de 2% da população mundial é celíaca, e essa taxa se mantém estável há bastante tempo.

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Mas essa notoriedade da doença, o desconhecimento de seus sintomas e algumas reações alérgicas, fazem com que muitas pessoas se "autodiagnostiquem" celíacas, quando nem sempre são. "Há que ser ter cautela em condenar o glúten que, para a maioria absoluta das pessoas, não é um vilão da saúde", reforça Flaquer. As informações são da Agência Einstein.

Um estudo conduzido pela Monash University, na Austrália, revela que há um considerável efeito psicológico por trás da chamada "intolerância ao glúten". Ou seja, a análise do quadro clínico e a realização de exames específicos são fundamentais para o diagnóstico.

Doença x reação alérgica

Saber diferenciar a doença de uma reação (que se manifesta de forma mais branda) é essencial dar início ao tratamento, em busca de mais qualidade de vida. "Em celíacos os anticorpos que se formam contra o glúten levam a uma inflamação que pode se manifestar como uma alergia, mas não é. Em casos mais graves, pode até mesmo simular um ambiente infeccioso", explica o médico gastroenterologista.

E é essa inflamação que produz os conhecidos e incômodos sintomas da doença, a partir da literal destruição do tecido do intestino e suas vilosidades. "Portadores são incapazes de absorver bem nutrientes, além de apresentarem diarreia e dor. A depender da intensidade da resposta, a condição representa uma perda importante da qualidade de vida", continua ele.

O componente genético é o que justifica a predisposição ao desenvolvimento da doença que, comumente, se manifesta na infância – ainda que não seja incomum perceber os primeiros sinais na vida adulta. "Isso não significa, contudo, que pessoas com a genética favorável irão obrigatoriamente desenvolvê-la. Há outras variáveis que dão esse comando", esclarece Flaquer.

A intensidade também varia entre os pacientes, que podem experimentar desde um incômodo intestinal mais simples, até sintomas mais severos. "Há pacientes mais tolerantes, que podem até ter algum contato com alimentos que contenham glúten, e há também os muito intolerantes, que precisam abolir o ingrediente da dieta de forma estrita", comenta o médico.

Além disso, em pessoas diagnosticadas, as repercussões da condição são importantes e podem ir da falta de absorção de nutrientes a problemas de crescimento em crianças. A alergia ao ingrediente não é capaz de se refletir, no organismo, de forma tão intensa.

Para se ter uma ideia, adultos podem ter deficiências graves de vitaminas e um aumento no risco do desenvolvimento de alguns tipos de câncer. As manifestações, conforme explica Flaquer, podem ir além, não ficando restritas ao sistema gastrointestinal. "A doença celíaca se manifesta das mais variadas formas. Alguns pacientes, por exemplo, não têm a queixa comum da diarreia, mas têm enxaqueca e dermatites".

Do diagnóstico à dieta restrita como forma de tratamento

Apenas uma investigação médica, claro, pode dar o diagnóstico de doença celíaca. Porém, não é incomum encontrar pessoas que se "autodiagnosticaram" depois de eliminarem o glúten da dieta e se sentirem melhor com isso. Flaquer comenta que, para a maioria deste se autodiagnostica, isso não passa de uma coincidência.

Segundo o médico gastroenterologista, isso acontece porque ao ajustar o que se come mirando na abolição do glúten, se deixa de ingerir uma série de farinhas e grãos que podem causar problemas gastrointestinais como fermentação, gases, inchaço e dor, devolvendo o bem-estar ao indivíduo. "Muitas pessoas se beneficiam da restrição de alimentos como leite, repolho e brócolis, que fermentam mais, e isso nada tem a ver com ser celíaco".

Mas para saber se o paciente é ou não celíaco, primeiramente é feita a busca por anticorpos contra o glúten. Se o resultado for positivo, parte-se para uma endoscopia com biópsias intestinais, para se analisar a inflamação e a destruição do tecido. O teste genético, também disponível, nem sempre precisa ser realizado.

A partir de então começa uma dieta que, nas palavras de Flaquer, é simples e complexa ao mesmo tempo. "A medida mais importante é eliminar o glúten da dieta. Parece simples, mas se pensarmos que este composto está no trigo, no centeio e na cevada, e que estes ingredientes compõem praticamente tudo, como pães e doces, vemos como é uma dieta limitante. Mesmo no chocolate, que não tem glúten na composição, pode haver contaminação suficiente para produzir os sintomas nos intolerantes", diz.

A mudança na vida do paciente que se descobre com a doença é, então, acentuada, e pode exigir acompanhamento nutricional para evitar desfalques de nutrientes importantes. Passar a ter novos hábitos alimentares é especialmente difícil para os muito intolerantes que, na maioria das vezes, não podem ter contato nem com uma panela ou colher pelas quais passaram alimentos com glúten. Atualmente, não há tratamento farmacológico, mas vários estudos estão em andamento na busca de uma medicação eficaz.

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