Sem uma forma de fortalecer os pulmões para um possível enfrentamento à Covid-19, evitar alguns hábitos mantém o órgão mais saudável
Prevenir que o pulmão perca sua capacidade passa por assumir hábitos mais saudáveis.| Foto: Bigstock

Sem vacina e sem remédio, muita gente acha inevitável ter de cruzar com o novo coronavírus em algum momento. Fortalecer o pulmão poderia ser uma boa ideia, pois que a doença atinge fortemente este órgão e exige, em caso mais graves, a ventilação mecânica.

Porém, segundo o pneumologista João Adriano de Barros, do Hospital Nossa Senhora das Graças, não há como fortalecer o órgão ou prepará-lo para isso. “O que pode ser feito é manter qualidade de vida aceitável que traga ganhos em termos gerais em todos os sentidos, como na parte imunológica. No inverno, é importante ter hidratação adequada, pois o ar seco é muito prejudicial às defesas do pulmão, cuidar com aparelhos de ar-condicionado e aquecedores que ressecam o ambiente e causam mudanças muito bruscas de temperatura e também se atentar à questão alérgica, quando se usa roupas guardadas que causam sintomas de vias aéreas, rinite, bronquite, que diminuem a capacidade de o pulmão se defender”, diz.

Como não existem exercícios respiratórios que comprovadamente previnam complicações em caso de infecção pelo novo coronavírus, é a imunidade que deve estar no centro da preocupação também na opinião da fisioterapeuta Paula Muller Maingue, professora do curso de Fisioterapia da PUCPR, que trabalha e pesquisa fisioterapia cardiorespiratória com ênfase em Terapia Intensiva e Reabilitação Pulmonar e supervisiona estágios na UTI do Hospital Cajuru.

“Manter prática de atividade física, ter boa alimentação, estar bem hidratado e ter um sono de qualidade ajudam a melhorar a imunidade. Fazer atividades respiratórias, como ioga, meditação, auxilia na capacidade ventilatória, mas não garante quadros mais brandos da doença”, diz ela, pois que mesmo jovens, atletas e sem comorbidade têm ficado graves.

Vacinas importam

Barros aponta que recorrer às vacinas para outras condições respiratórias também faz parte da proteção possível. “A vacina anual de gripe é importante, mas há ainda a de pneumonia que vale para idosos e portadores de doenças crônicas como fibrose pulmonar e DPOC”, diz.

E é portar doença pulmonar crônica o que faz a balança pender para quadros possivelmente mais graves da Covid-19, diz Barros. “Faz diferença se você tem ou não. E, se você tem, se está bem ou mal controlada. Se você tem reserva pulmonar menor, suportará pior a falta de ar. Quem está melhor condicionado, é magro, suportará melhor do que o sedentário ou obeso”.

Pós-UTI

No caso da Covid-19, que é uma lesão arrastada, que tem reação crônica e longa e a pessoa fica assim por meses, cansado, com dor no peito e falta de ar, a fisioterapia respiratória pode ser indicada após a infecção. “Para reabilitação ela é indicada, até mesmo em casos de pessoas portadoras de doenças pulmonares crônicas, mas ela não funciona como algo que vá deixar seu organismo mais forte, preparando-o para uma possível infecção”, diz Barros.

A dúvida que persiste ainda é se a Covid-19 pode causar um dano permanente. “Sabemos apenas que qualquer infecção no pulmão causa uma ‘mancha’ que demora de 3 a 6 meses para sumir, como na pneumonia. O aspecto da Covid-19 nas tomografias tem sugerido que fica alguma doença depois, não como uma doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), mas mais assemelhada a uma fibrose pulmonar – uma doença que gera cicatriz, tornando os alvéolos capilares mais espessos, exigindo muito esforço para expandir o pulmão ao respirar”, diz ele.

Segundo Paula Maingue, diferentemente da DPOC, que é crônica e se desenvolve ao longo dos anos, destruindo estruturas, que depois não voltam mais, a Covid-19 é uma doença aguda, que agride de forma brusca, mas que provavelmente as pequenas fibroses que dela decorrem devem ficar por um tempo, mas não devem causar nada que seja irreversível.

Depois do internamento

Além do desenvolvimento da própria doença, ainda debilita o paciente a permanência na UTI, o uso de sedativos, de bloqueadores neuromusculares e os longos internamentos, que promovem a perda da força muscular respiratória, dificultando até mesmo para sair do respirador. ”A capacidade pulmonar do paciente pode ter voltado, mas fica mais difícil desmamar do respirador, pois o ventilador também tem repercussão negativa, assim como ficar muito tempo sedado e imobilizado”, diz a fisioterapeuta respiratória Paula Maingue. “Quando esse paciente sai desses longos internamentos na UTI ele está fraco e há todo um tempo e uma série de reabilitações até que recupere suas habilidades rotineiras”, diz ela.

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