A higienização mais frequente das mãos também leva ao ressecamento da pele
A higienização mais frequente das mãos também leva ao ressecamento da pele| Foto: Bigstock

Lava-se a mão, hoje, com muito mais frequência do que há poucos meses. Além da água e sabão, o álcool em gel passou a ser item frequente nas bolsas, mochilas e em casa. A proteção contra o novo coronavírus é essencial e inegável, mas a lavagem repetida e o uso de produtos abrasivos também desencadeiam danos à pele.

"Esses comportamentos que devemos ter, se for com muita frequência e sem medidas protetivas, podem causar dano. A nossa pele tem um limite de proteção", alerta Paulo Ricardo Criado, médico dermatologista, coordenador do departamento de Medicina Interna da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).

Segundo Criado, a pele possui uma barreira cutânea, como uma "camada de óleo", que serve para preservar a hidratação da epiderme. Quando usamos água e sabão em excesso, essa camada de proteção vai sendo retirada. "E, depois de semanas, há uma quebra da tolerância da pele", explica o especialista.

Como resultado, surgem na pele sinais como vermelhidão, coceira ou uma sensação de irritação na região. Isso gera também a descamação e, por fim, rachaduras, levando ao desenvolvimento de uma dermatite de contato irritante.

"É uma irritação por produtos que vão agredindo a pele. Isso, grande parte da população vai desenvolver depois das semanas tendo esses hábitos", avalia o dermatologista.

O médico ainda prevê que uma minoria pode desenvolver a dermatite de contato alérgico, quando surge uma alergia aos produtos químicos, como o álcool, por exemplo. Mas, para isso, é necessária também uma predisposição genética dos indivíduos.

Proteja a pele

A frequência na higienização das mãos não pode ser reduzida nesse momento, mas há formas de prevenir, ou aliviar, os danos causados pelo excesso de água, sabão e álcool em gel. "Primeiro é importante ter o hábito de lavar as mãos com água e sabonete, mais do que utilizar o álcool gel. Deixar o álcool para quando não tem como lavar as mãos com segurança", indica o especialista.

Quanto ao sabão ou o sabonete utilizado, opte, se puder, por itens dermatológicos, cuja acidez seja próxima do nível da pele, que possui um pH 5. Não são indicados sabonetes anti-bacterianos, por possuírem o pH elevado.

"Para quem não tem condições de usar um sabonete médico, usar um de glicerina, com pouco perfume, vai lesar menos. E, após a lavagem adequada das mãos, passar um hidratante médico para evitar ressecamento", recomenda Criado.

A escolha dos hidratantes segue a linha dos sabonetes, dando preferência aos produtos dermatológicos. Caso não seja possível, os hidratantes com base de glicerina são mais indicados, desde que tenham pouco perfume e corantes.

Gatilhos emocionais

Além da preocupação com as mãos e com o ressecamento da pele, há quem sofra com lesões na pele desencadeadas por questões emocionais, como o estresse e ansiedade elevados em período de pandemia. Psoríase, vitiligo e a dermatite atópica entram nessa lista.

"Não há quem não esteja estressado nesse momento, por conta do isolamento social e até dificuldades financeiras. A parte emocional tem reflexo no organismo", avalia o dermatologista. "Com certeza a ansiedade e o estresse já estão presentes e podem servir de gatilhos para uma doença dermatológica que o indivíduo tem predisposição".

Em nota, a Sociedade médica orienta que as pessoas prefiram bons hábitos, que ajudem a reduzir o estresse, como forma de prevenção às mudanças na pele. Por exemplo:

  • Praticar atividades físicas;
  • Manter boas noites de sono;
  • Manter uma alimentação adequada;
  • Ocupar a cabeça com atividades que causem prazer, como desenhar ou realizar jardinagem, por exemplo;
  • Manter os cuidados com a pele.

Como lavar as mãos previne a Covid-19?

A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde para a lavagem mais adequada das mãos incluem: uso de água e sabão por pelo menos 20 segundos ou utilizar álcool gel 70%, várias vezes ao dia.

De acordo com Paulo Ricardo Criado, médico dermatologista, as duas medidas eliminam o vírus de maneiras diferentes. A água e o sabão atingem a camada oleosa que protege o vírus Sars-CoV-2, agindo como uma espécie de "detergente" e o rompe, eliminando o vírus. Enquanto o álcool age nas proteínas do vírus, quebrando a sua estrutura, espalhando o seu RNA (material genético que o compõem) e o tornando inviável para replicação.

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