Pesa nessa alteração a estimativa de que apenas de 20% a 25% dos pacientes com hipertensão arterial estejam com valores na meta.
Mudanças nos índices da pressão arterial visam melhorar o controle da doença.| Foto: Bigstock

A hipertensão arterial medida em casa teve valor alterado no fim do ano passado, sendo considerado agora o índice igual ou maior que 130 milímetros de mercúrio (mmHg) por 80 mmHg (13/8), diferentemente dos 135/85 então vigentes. No consultório, segue o 140/90.

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A mudança da Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial foi aprovada pela Sociedade Brasileira de Cardiologia no 75º Congresso Brasileiro de Cardiologia, em novembro passado, a partir de informações de 90 experts em hipertensão arterial. “Agora há dados nacionais para valores normais da medida residencial da pressão arterial, por isso esse número foi alterado”, diz Emilton Lima Júnior, um dos co-autores dessa nova diretriz.

Pesa também nessa alteração a estimativa de que apenas de 20% a 25% dos pacientes com hipertensão arterial estejam com valores na meta. Isto significa um grande problema, visto que a doença hipertensiva está relacionada a doenças graves como infarto, AVC e insuficiência cardíaca. “Acima de 115/75 ou, arredondando, 120/80 (12/8), o risco cardiovascular começa a aumentar, mas é a partir de 140/90 (14/9) que a pressão oferece risco maior à saúde”, alerta.

Pré-hipertensão

A classificação para pré-hipertensão também mudou, alterando a última diretriz, de 2016, que estabelecia a condição nas pressões sistólica entre 120 e 139 e diastólica entre 80 e 89. “Hoje, na nova diretriz, a pré-hipertensão fica restrita entre 130 e 139 e entre 85 e 89, reduzindo o intervalo de valor que caracterizaria essa condição”, explica ele.  

Caso a pré-hipertensão seja diagnosticada, o ideal é identificar comportamentos que estejam contribuindo para que ela surja ou para seu agravamento, como sedentarismo, dietas com excesso de sal ou que levem a ganho de peso e descontrole de doenças como diabete e dislipidemia. Lima Júnior diz que praticar atividade física é a atitude que tem maior impacto na melhora da saúde nesses casos, por envolver redução de peso, controle do colesterol, do açúcar no sangue e do estresse, situações que concorrem para um melhor controle da pressão.

Acompanhamento

Mesmo pacientes com pressão arterial ótima ou normal devem ter as suas medidas realizadas anualmente. Porém, quem tem o diagnóstico de pré-hipertensão ou de hipertensão deve fazer acompanhamento, que varia de acordo com as condições clínicas associadas, até que atinja sua meta pressórica, a cada duas e, no máximo, oito semanas até atingir a meta. “Ao atingir, deve ser feita reavaliação em intervalos entre três e seis meses”, diz ele, assinalando que, diante dessa nova classificação, entre 15% e 20% da população brasileira deva ser considerada hipertensa, das quais um décimo deva vir a ter necessidade de tratamento farmacológico.

Risco de hipertensão

Ter a pressão arterial constantemente alta está relacionado a derrames, a insuficiência cardíaca e ao infarto e o controle da pressão passa, além das medidas não-medicamentosas, como atividades físicas, manutenção do peso, adequação da dieta, não fumar e beber com moderação, a tratamentos com remédios, que variam de paciente para paciente. “Porém, deve-se ter em mente que a hipertensão é doença sem cura e uma vez iniciado o tratamento medicamentoso, mesmo que a pressão normalize, ele fica para o resto da vida”, diz.

São muitas as condições que elevam o risco cardiovascular em um paciente mesmo em estágio 1 e 2 da hipertensão arterial, que envolve pressão de 140 a 179/90 a 109. “Quando associado à obesidade, diabete, história familiar, tabagismo, ou que já tenha tido algum infarto ou AVC, essas condições colocam pacientes nesse estágio em um risco cardiovascular maior”, diz ele.

Os danos aos vasos trazem consequências perigosas, pois levam à aterosclerose, que vai ser a causa do AVC e do infarto, mas também há um desgaste do coração, que tem que trabalhar em condições de adversidade, de resistência, fazendo com que leve a um quadro de insuficiência cardíaca. “E o quadro de aterosclerose acaba impactando de maneira muito significativa a circulação em todo o organismo, mesmo em quadros como demência, Alzheimer e doenças isquêmicas periféricas, que podem levar à amputação de membros”, diz ele.  

O paciente diabético também tem mais chance de apresentar hipertensão arterial e isso, diz o médico, se relaciona ao estilo de vida comum e inadequado que muitos têm, com ganho de peso e com alterações genéticas que derivam de uma dieta inadequada e que leva a alterações vasculares e metabólicas, aumentando a pressão. “Essa associação é algo muito pior, pois quando essas duas doenças estão juntas isso acelera o envelhecimento vascular”, explica.

Avaliação de danos

Para avaliar de forma precoce e por métodos não invasivos a presença de danos vasculares relacionados a elevações da pressão em fases iniciais, segundo Lima Júnior, há algumas estratégias. “Talvez a mais comum e acessível seja o ultrassom de carótida; mas há a análise da vasodilatação fluxomediada, feita com o Doppler e mais restrito a pesquisas; também a medida da pressão arterial central, um exame parecido com a medição da pressão arterial; e um quarto exame, o de fundo de olho, que avalie as condições de pequenos vasos”, finaliza.

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