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Tosse, febre e falta de ar são os principais sintomas de alerta para uma possível infecção pelo novo coronavírus. Esses sinais, no entanto, não são exclusivos da Covid-19 e é comum que a pessoa tenha dúvidas do que fazer caso suspeite da doença.

Com isso em mente e, na tentativa de ajudar a população a não lotar as unidades de atendimento, testes online que auxiliam a identificar a Covid-19 ganharam espaço. O principal foco deles é servir como uma espécie de triagem para evitar que pessoas com sintomas leves ou, às vezes, não relacionados, se desloquem aos pronto-socorros ou unidades de saúde, a fim de buscar atendimento médico.

Atualmente há três opções de plataformas online de triagem no Brasil:

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  • CoronaBR;
  • Caren App;
  • Coronavírus SUS, desenvolvido pelo Ministério da Saúde.

Todas funcionam com o mesmo princípio: um questionário básico que visa entender os sintomas e, então, recomendar ao paciente se é melhor ficar em casa ou se deve buscar auxílio médico. Os dois primeiros possuem versão para computador, enquanto o último apenas o aplicativo para aparelhos iOS e Android.

De acordo com Flávio Machado, CEO da Pixit (empresa que desenvolveu o CoronaBR), a ideia surgiu ainda no dia 13 de março, pensando nos impactos do novo coronavírus na sociedade brasileira. "Tudo foi muito bem pensado: da qualidade das informações médicas ao tom de voz do enfermeiro", revela.

A plataforma contou com apoios do setor de tecnologia da informação, dos conhecimentos médicos da Axonn Health Tech e do infectologista Lucas Chaves, formado pela USP. "Todas as informações e conteúdos do CoronaBr seguem as determinações do Ministério da Saúde", garante Machado. No ar desde o dia 19 de março, a CoronaBR já contou com o acesso de mais de 20 milhões de pessoas, sendo um milhão apenas no primeiro dia de funcionamento.

"Quando percebemos o risco de o sistema de saúde sobrecarregar, pensamos em como a tecnologia poderia ser utilizada de forma responsável e útil à sociedade. O CoronaBr auxilia as pessoas a realizarem primeiro o teste online e, assim, dentro do possível, evitar a ida a uma unidade de saúde", avalia o CEO.

Thiago Bonfim, CEO da Caren.app, explica que seu teste segue a mesma linha, de ajudar quem está em casa preocupado se contraiu o vírus ou não. A construção do aplicativo foi feito com base no Boletim Epidemiológico - 5, do dia 13 de março. "Baseamos o nosso questionário nas regras do Ministério da Saúde, mas conversamos com diversos médicos antes do lançamento do sistema de autoavaliação", afirma. Ainda sem um sistema de localização, a intenção é que a próxima versão já utilize essa informação do usuário para indicar pontos de atendimento próximos.

Para quem está do outro lado, a resposta dos testes tem sido positiva. "[Os testes] são ótimos. Não são definidores, mas são uma triagem. Tem muito paciente que tem medo, com uma tossinha, nariz escorrendo, e já acha que está com a doença e isso ajuda", avalia Keila Vanzin de Brito, médica da Clínica Médica do Hospital Vita e da Clínica VieSaine.

De acordo com a especialista, os testes online e as informações divulgadas em redes sociais têm tido um impacto nos atendimentos. "Estão servindo sim, porque percebemos que poucas pessoas estão indo para o pronto-socorro. Esse resultado está repercutindo no número de atendimentos nas UPAs e pronto-socorro. Mas há uma importante ressalva: são testes de triagem, não definem o diagnóstico", comenta.

Por fim, a médica também orienta quando os sintomas indicam que a pessoa deve buscar atendimento médico. "Todo mundo já teve um quadro gripal. Se você perceber que é um quadro gripal que já teve, fique em casa, não vá ao sistema de saúde. Agora, se tem uma febre persistente, falta de ar, se estiver sentindo muitos sintomas diferentes, procure a uma unidade básica de saúde, ou pronto-socorro", finaliza.

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Testes online

Para entender como as ferramentas funcionam, testamos as três em duas situações:

  • No primeiro cenário, apresentamos como sintomas a febre (abaixo de 39 graus Celsius), dor de garganta e nariz entupido.
  • No segundo cenário, apresentamos como sintomas a febre (acima de 39 graus Celsius e por mais de dois dias), tosse, dor de garganta e nariz entupido.

Os sintomas são ficcionais e apenas foram utilizadas as ferramentas online, sem comunicação com nenhum atendente para que não fosse ocupado o espaço de um possível paciente.

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Primeiro cenário

Todos os aplicativos apresentaram o mesmo resultado (conforme é possível ver abaixo). Para a triagem online, os sintomas de febre menor que 39 graus Celsius, dor de garganta e nariz entupido representam um quadro de suspeita do novo coronavírus, mas que deve ser tratado em casa.

Os três aplicativos explicam os cuidados para se ter no isolamento, e orientam o retorno ao site caso os sintomas piorem.

O CoronaBR possui o enfermeiro Pedro auxiliando, que lê as perguntas para quem está utilizando, ajudando na acessibilidade do sistema. Entre as perguntas, além da temperatura, o tempo de permanência da febre também é questionado. Além disso, outros sintomas associados à Covid-19 também são questionados, como a falta de olfato e paladar, por exemplo. O paciente deve responder ainda qual é a sua idade, e se está grávida.

Resultado simulado do CoronaBR. Reprodução/CoronaBR

O caren.app avisa logo no início que não substitui uma avaliação médica e ainda questiona o paciente sobre viagens (internacional e nacional) realizadas, apesar de o novo coronavírus já possuir uma transmissão comunitária em todo o Brasil.

Outro questionamento do aplicativo é se a pessoa teve contato direto, ou se reside com alguém, com suspeita de possuir o novo coronavírus. Também ao final, mostra orientações a serem seguidas.

Resultado simulado do aplicativo caren.app. Reprodução/Caren.app
Exemplo de orientações dadas em aplicativos. Reprodução/Caren.app
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O aplicativo do Ministério da Saúde é mais direto e foca principalmente nos sintomas que o paciente está manifestando. Além de trazer o resultado com orientações, o aplicativo pode indicar lugares próximos ao usuário para atendimento, caso necessário.

Resultado simulado do aplicativo Coronavirus SUS. Reprodução/Ministério da Saúde

Segundo cenário

O segundo cenário procura simular sintomas mais próximos da Covid-19, com a febre acima dos 39 graus Celsius e persistente e a tosse, para analisar como os testes se comportam diante de uma situação de risco maior.

Em dois deles (Coronavirus SUS e CoronaBR), a resposta indicou um caso suspeito e a recomendação era de procurar um atendimento médico. Além de manter as orientações de cuidados, como isolamento e higienização das mãos, por exemplo.

Resultado simulado do CoronaBR, caso suspeito. Reprodução/CoronaBR
Resultado simulado do aplicativo Coronavirus SUS, caso suspeito de coronavírus. Reprodução/Ministério da Saúde
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No caso do Caren.app, a avaliação final pareceu depender ainda da possibilidade de viagem que o paciente tenha feito, e não necessariamente internacional, visto que foram simulados cenários incluindo deslocamento para São Paulo.

O primeiro teste nesse segundo cenário para esse aplicativo, apontando apenas os sintomas e sem registro de viagem, manteve o resultado anterior: sem suspeita para a Covid-19.

Assim, novas possibilidades foram simuladas:

  • Sintomas de febre (acima de 39 graus Celsius e por mais de dois dias), tosse, dor de garganta e nariz entupido, associados a uma viagem para São Paulo;
  • Adição da dificuldade de respirar aos sintomas, sem viagem para São Paulo;
  • Adição da dificuldade de respirar aos sintomas, com viagem para São Paulo;

No caso dos sintomas sem a falta de ar, associados a uma viagem, o aplicativo indicou como um caso suspeito, e orientou que, se a situação se agravasse, a pessoa deveria buscar auxílio médico.

Quando adicionamos o sintoma "falta de ar" - sinal de alerta para um possível agravamento da doença - a orientação foi de busca por um atendimento médico no caso dos sintomas persistirem, mesmo que não seja a Covid-19.

Nenhum cenário indicou ao paciente que busque ajuda médica imediata, mas houve uma orientação clara de que a pessoa precisaria ficar atenta aos sintomas, especialmente se eles persistissem e não reduzissem mesmo com o uso de medicamentos.

Resultado simulado do aplicativo caren.app, com caso suspeito. Reprodução/Caren.app
Resultado simulado do aplicativo caren.app, com sintomas do segundo cenário e viagem para São Paulo. Reprodução/Caren.app
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Resultado simulado do aplicativo caren.app, resposta com falta de ar (com ou sem viagem). Reprodução/Caren.app

São confiáveis?

Com relação a confiabilidade dos testes, solicitamos uma avaliação à médica Keila Vanzin de Brito, que não teve nenhuma participação no desenvolvimento das plataformas de triagem online.

Quanto aos aplicativos CoronaBR e Coronavirus SUS, a médica avalia: "Eu considero muito plausível as respostas deles e realmente a gente pode confiar, porque febre, dor de garganta e nariz escorrendo não são sinais de gravidade que tem que ir ao médico. Acho que uma população pode ter uma triagem legal com esses testes".

No entanto, o aplicativo Caren.app diferenciou das respostas dos outros dois em um quadro mais grave simulado. Nos resultados das simulações apresentadas anteriormente, o teste recomendou manter em observação os sintomas e caso persistissem ou agravassem, aí sim deveria haver a procura pelo setor da saúde.

"Considero um problema não terem encaminhado [para atendimento médico] um paciente com falta de ar, febre e tosse. É bem provável que precise avaliar. Esse foi o único ponto que a comunidade tem que ficar atenta", analisa a especialista.

Em resposta à reportagem, o CEO do Caren explicou o funcionamento do aplicativo e afirmou que novas atualizações devem chegar. De acordo com Bonfim, "o sistema atual continua seguindo as recomendações do Boletim Epidemiológico 5 - COE COVID-19 do Ministério da Saúde de 13/03/2020. Ele será atualizado na próxima semana [a partir de 5 de abril] e focará no monitoramento de sintomas dos pacientes".

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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