Estudo internacional avaliou a exposição de motoristas e passageiros a partículas que podem chegar aos pulmões.
Estudo internacional avaliou a exposição de motoristas e passageiros a partículas que podem chegar aos pulmões.| Foto: Bigstock

Percorrer 10 a 33 km dentro de um carro, com as janelas abertas, em locais de alta concentração de poluição nas cidades pode ser suficiente para gerar, tanto aos motoristas quanto aos passageiros, danos ao organismo. Este foi o principal achado de um estudo internacional realizado em 10 cidades, uma delas São Paulo. As informações são da Agência Fapesp.

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Os pesquisadores perceberam que, no trajeto, as pessoas recebem doses significativas de partículas inaláveis finas (ou aerossóis) – com diâmetros menores que 2,5 milionésimos de metro (MP2,5), sendo capazes de chegar aos alvéolos pulmonares. Segundo o estudo, mesmo passar pouco tempo em áreas de engarrafamento pode ter impacto prejudicial na saúde.

Sob coordenação-geral do professor Prashant Kumar, diretor-fundador do Centro Global de Pesquisa do Ar Limpo (GCARE) de Surrey, os pesquisadores destacam que as cidades com maior relação entre o tempo de exposição e a inalação de poluentes foram:

  • Guangzhou, na China;
  • Adis Abeba, na Etiópia.

Nestas cidades, os motoristas e passageiros ficaram em áreas de alta concentração de MP2,5 por um período menor que 1/3 do tempo da rota. Em Guangzhou foi 26% do tempo e, em Adis Abeba, 28%.

Ainda assim, inalaram mais da metade da quantidade total de partículas finas inaladas durante toda a viagem: 54% e 56%, respectivamente. Em São Paulo, em 17% do tempo da rota, que representa cerca de oito minutos, o motorista inalou 35% do total do trajeto.

Como o estudo foi feito

Em cada cidade analisada, a distância das rotas variou de 10 a 33 km. No entanto, os pesquisadores usaram o mesmo trajeto e o mesmo veículo.

Em São Paulo, por exemplo, a rota foi de 12,7 km, que leva em torno de uma hora para ser concluída fora do horário de pico. O trajeto adotado foi da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), passando pelo parque do Ibirapuera e pelas avenidas 23 de Maio e a Paulista.

Para chegar aos chamados "hotspots" de cada cidade, ou os locais com mais engarrafamento, o estudo considerou dados socioeconômicos, impacto do preço dos combustíveis, níveis de exposição à poluição e os custos econômicos. Os dados foram coletados em 2019.

A medida dos aerossóis foi feita a partir de um contador de partículas a laser portátil (Dylos OPCs), colocado no banco de trás de um carro de passageiros, que fazia a coleta por minuto, com três configurações para as janelas:

  • Abertas; 
  • Fechadas com ventilador;
  • Fechadas com recirculação de ar.

As amostras foram coletadas três vezes ao dia: pico da manhã, pico da tarde e fora do pico. No artigo sobre o estudo, publicado na revista científica Environment International, os pesquisadores se concentraram nos dados coletados com as janelas abertas, visto que nesta configuração foram registradas as concentrações mais altas de poluentes.

Os pesquisadores ainda fizeram medições de intercomparação ao longo de de cinco dias, para garantir o controle de qualidade e harmonização dos dados.

"Ao estudar a exposição a aerossóis no carro em várias cidades diferentes, medidas eficazes de mitigação da poluição do ar e orientações de melhores práticas podem ser desenvolvidas, incluindo o uso de ônibus elétricos, de ações voltadas ao transporte público e para a mobilidade urbana", destacam os autores no artigo.

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