Vários fatores estão envolvidos no maior consumo de alimentos, mas situação tem tempo para estabilizar e um erro grave você não pode cometer| Foto: Bigstock
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O cigarro funciona como a rolha de um dique que, quando excluído, faz com que uma série de fatores, fisiológicos e psicológicos, que elevam o peso, venha à tona: sem o tabaco ocorre a redução das fontes de prazer (dopamina e serotonina), a normalização da palatabilidade, a ausência de supressão de apetite vinda da nicotina e o natural aumento da ansiedade, como explica a nutricionista clínica funcional Anna Roberta Muffone.

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A recuperação do olfato e do paladar é patente, com a interrupção da exposição e absorção pela boca, língua e gengivas das toxinas do tabaco. “Essa melhora provoca maior ingestão de alimentos, por recuperar o gosto e o cheiro, auxiliares ao apetite”, diz Vera Borges, da Divisão de Controle do Tabagismo do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva.

Essa mudança ocorre porque o corpo tem maiores estímulos de prazer com a comida após a cessação do tabagismo. “Não é que o estímulo aumente após deixar o vício, mas sim isso decorre do regresso à normalidade após um período de supressão”, diz Anna Roberta.

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Lidar com a ansiedade

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O aumento na ingestão de alimentos também pode ser a forma de a pessoa que parou de fumar tentar lidar com a ansiedade, sintoma da síndrome de abstinência. “O rebaixamento do humor pela ausência da droga leva a pessoa a procurar alguma forma de compensação de prazer oral através da ingestão alimentar”, diz Vera Borges, que assinala que o ritual de levar a mão à boca pode provocar, no início da abstinência, uma sensação de “estar faltando alguma coisa”, podendo ser preenchida com comida. “Substituir o cigarro pela comida é a maior causa de ganho de peso, seja por ansiedade, irritação, desejo de levar algo à boca como forma de lidar com a fissura pela ausência da nicotina e pela falta de atividade física”, diz ela.

Quanto ganha

Com o retorno à normalidade, é comum o peso aumentar. Em um ano, a variação média de peso é de 2kg a 4kg, como cita Anna Roberta, a partir de uma revisão sistemática da Obesity Review, de 2016. “Porém, este peso é um dado irrisório e contornável frente aos mais de 50 problemas de saúde que o cigarro causa, entre eles: câncer, doenças respiratórias, problemas cardiovasculares e infertilidade, além do dano à resistência em atividades físicas, desempenho sexual, imunidade e envelhecimento precoce, sendo causa de morte precoce”, diz ela.

Segundo a experiência de Vera Borges, em algumas pessoas parar de fumar pode provocar ganho de peso ponderal de até 10% do peso. “Entretanto, a maior parte do ganho ocorre nos primeiros seis meses, e costuma ser temporário, com retorno a níveis normais em um ano”. explica.

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Para ajudar a conter fatores engordativos, diz Anna Roberta, “é fundamental acompanhamento nutricional associado a estímulos à produção de neurotransmissores dopaminérgicos (exercícios, lazer, contato com a natureza, momentos de relaxamento/ócio na rotina, sono de qualidade) e acompanhamento psicológico/médico que garanta as ferramentas necessárias para retorno e manutenção do peso”, diz ela, que aponta um erro que muitos ex-fumantes cometem ao parar de fumar e se deparar com o ganho de peso.

“Aderir a uma dieta mais restritiva faz com que o peso seja reduzido apenas nos primeiros seis meses, mas com mais chances de que a pessoa volte a fumar por repressão de mecanismos de prazer e aumento da ansiedade”, finaliza a nutricionista clínica funcional.

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