Os cientistas acreditam que as células de gordura também podem liberar no sangue substâncias que ampliam a reação inflamatória.
Células adipócitas carregariam mais o vírus e atrapalhariam resposta adequada à infecção.| Foto: Bigstock

A obesidade está entre as comorbidades que levam pessoas a quadros mais graves e mortes pela Covid-19 no Brasil. E, além de estar vinculada a outras doenças importantes e também fatais, como cardiopatias e diabete, se destaca por sua capacidade de atingir quase que igualmente pessoas de todas as idades.

Tanto é assim que dos 7943 falecidos no país tendo a comorbidade aferida, 46% das mortes foram de pessoas abaixo dos 60 anos de idade, uma proporção muito maior do que a relacionada às duas doenças acima citadas, cardiopatia (17%) e diabete (21%), mais prevalentes entre os falecidos pela doença.

Após uma pesquisa da Unicamp apontar que os adipócitos poderiam servir de reservatório para o SARS-CoV-2, aumentando a carga viral de indivíduos obesos e mesmo com sobrepeso, agora um estudo da Universidade de São Paulo busca respostas nesse sentido. As informações são da Agência Fapesp. Os cientistas acreditam que essas células de gordura também podem liberar no sangue substâncias que ampliam a reação inflamatória desencadeada pelo vírus.

A investigação é feita na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP), com coordenação da professora do Departamento de Cirurgia Marilia Cerqueira Leite Seelaender e colaboração de Peter Ratcliffe, professor da Universidade de Oxford, no Reino Unido, e um dos premiados com o Nobel de Medicina em 2019.

Segundo Marilia Cerqueira a tempestade de citocinas que resulta em inflamação sistêmica similar à sepse, ocorrida durante a infeção pelo novo coronavírus, seria proveniente do tecido adiposo. “Quando os adipócitos se expandem demais, tornam-se capazes de promover inflamação no corpo todo, até mesmo no cérebro”, disse ela. Ainda falta ser confirmado se, além de entrar no adipócito, o vírus consegue permanecer e se replicar dentro da célula.

Gordura visceral é pior

Entre os achados do estudo, um dos pontos mais importantes, segundo a pesquisadora, foi que o adipócito visceral - da gordura acumulada entre órgãos - tem muito mais ACE2 (enzima que é a principal “porta” para o SARS-CoV-2 invadir as células humanas) do que o do tecido adiposo subcutâneo. “Além disso, é muito mais inflamatório. Portanto, a obesidade visceral tende a ser ainda mais prejudicial no que diz respeito à Covid-19”, explica ela.

O oposto também é ruim

Não apenas a obesidade, mas a desnutrição – proveniente também do envelhecimento – pode comprometer a resposta imunológica e dificultar o combate a infecções virais. A taxa de gordura pode ser um problema quando é excessiva ou insuficiente, pelo desequilíbrio da secreção da leptina, que regula o metabolismo dos linfócitos T. “Na Covid-19, não só a adiposidade é fator problemático, mas também a relação entre massa magra e gorda. Se o indivíduo tiver muita gordura e pouco músculo é pior do que se tiver muita gordura, mas uma boa condição muscular”, diz ela.

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