De que forma as famílias podem adaptar a rotina dos filhos com diagnóstico de TEA?
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Que a pandemia do novo coronavírus alterou o cotidiano e as rotinas da população, principalmente por conta do isolamento social, não é mais novidade. Porém, existe um grupo específico para o qual essa mudança, do 'dia para a noite', teve um impacto muito maior: as famílias com pessoas diagnosticadas com o transtorno do espectro autista (TEA).

É o que passa com a Ivanilda Manea, funcionária da Prefeitura Municipal de Curitiba, e seu filho, Felipe, de 13 anos, que tem o diagnóstico. "Ele [Felipe] indo para aula, tendo a rotina é uma coisa. Agora ele ficando preso em casa e eu tendo que trabalhar, está sendo bem complicado. Eu sei que ele fica muito ansioso", explica Ivanilda. Por trabalhar no setor que auxilia na distribuição de cestas básicas e até mesmo de vacinas (campanha que começou ao fim de março), Ivanilda não realiza o home office.

Ivanilda e Felipe. Foto: Arquivo pessoal
Ivanilda e Felipe. Foto: Arquivo pessoal

Além do desafio de manter as atividades e uma nova rotina nesse período, foi preciso também incluir as medidas de prevenção, principalmente a de lavar as mãos com mais frequência. "O que mais me deixou feliz foi que ele compreendeu completamente. Ele reclamava que não queria lavar as mãos, mas o álcool em gel ele sempre adorou", conta a mãe. Para que o filho entendesse, além de uma explicação verbal, Ivanilda mostrou diversas vezes como Felipe deveria fazer para lavar as mãos, além de colocar desenhos (as pistas visuais) com um passo a passo.

Quanto ao álcool em gel, Felipe escolheu um frasco que já gostava e utilizava, e substituiu o conteúdo. Outra medida que tem sido destacada para o menino é o cumprimento, visto que o momento pede que se evitem toques com outras pessoas. "Ele é muito de abraçar, e isso está sendo mais difícil. Eu falo para ele: 'se encontrar com alguém, não dê 'oi' com a mão, só de longe, não precisa tocar'. Ele é muito de pegar, de dar um abraço. Mas agora estou ensinando que é só de longe, ele está compreendendo".

Frasco de shampoo com álcool em gel dentro. Foto: Arquivo pessoal
Frasco de shampoo com álcool em gel dentro. Foto: Arquivo pessoal

E a ansiedade para voltar a ter aulas é tão grande que, inclusive, fez Ivanilda ir até a escola do filho com ele para mostrar que estava fechada. Ivanilda ainda tenta realizar outras atividades aos fins de semana, como por exemplo, sair para andar de bicicleta, tomando todos os cuidados para a realização da atividade. "Ele exigiu a máscara dele e, quando chega do passeio, vai lavar a máscara", afirma.

Cuidados específicos

Manter uma rotina para as pessoas diagnosticadas com o TEA é parte importante das responsabilidades da família. Quando essa rotina é rompida, é como se elas "perdessem a noção", conforme explica Luz Maria, psicóloga gestora do Instituto Lico Kaesemodel, que auxilia crianças e adolescentes com a síndrome do X-frágil e autismo.

"Ao não irem para a escola, ou passear, pode-se criar uma ansiedade muito forte", esclarece a psicóloga. A recomendação da especialista é para que se mantenham as rotinas que puderem ser mantidas, como por exemplo acordar no mesmo horário, tomar café no mesmo lugar.

Os pais podem manter uma espécie de calendário com as atividades da criança ou do adolescente que eles possam acompanhar. Adriana Czelusniak, terapeuta integrativa, mãe do Gabriel, de 14 anos, e idealizadora do movimento Vivendo a Inclusão, sugere que o calendário seja feito em cartolina, e as atividades são variadas: vão desde baralho a jogos de tabuleiro para os filhos seguirem.

"Se eles tiverem uma estrutura de como vai ser aquele dia, aquela semana, vai ajudar", explica a terapeuta.

Explique o coronavírus

Os pais precisam também explicar a situação da pandemia aos filhos, de acordo com a psicóloga.

Isso envolve contar da forma mais clara possível porque eles não podem sair de casa, os cuidados com a higiene das mãos e o uso das máscaras. Experimentos visuais podem ajudar, como desenhos.

Atividades em casa

Adriana Czelusniak, terapeuta integrativa, mãe do Gabriel, de 14 anos, e idealizadora do movimento Vivendo a Inclusão, também passa por essa adaptação neste momento. "Eles são muito ligados em tecnologia, celular, tablet, computador, televisão… É preciso tomar cuidado com isso. É bom inserir nessa rotina atividades que sejam à parte da tecnologia", avisa.

Servem exercícios como massinha de modelar ou blocos de montar para crianças. Já os adolescentes podem fazer algum exercício, ou assistir filmes, por exemplo.

Manter um contato com a natureza também pode ajudar nesse momento, segundo Adriana. "Procurar fazer chás naturais, calmantes, ou um banho mais relaxante. Usar um óleo essencial na fronha na hora de dormir, ou fazer uma massagem nos pés. Ter um contato com a natureza, mexer na terra, plantar alguma coisa. Mesmo que seja uma arvorezinha no quintal, um pedacinho de terra, já faz diferença também", finaliza.

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