Ervas “daninhas”, plantas incomuns e até pedaços de hortaliças que costumam ir para o lixo podem fazer parte da dieta de forma saborosa e benéfica para a saúde| Foto: Arquivo pessoal/Guilherme Ranieri
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Chamadas tradicionalmente de “matos” ou “ervas daninhas”, plantas como o dente-de-leão crescem no jardim e são sempre arrancadas por quem deseja assoprar seus pompons de sementes ou jogá-la fora para limpar o quintal. “Só que ela é uma das inúmeras plantas que podemos consumir”, afirma o mestre em Alimentação e Nutrição Alisson David Silva. “E seu sabor é levemente picante, garantindo uma ótima salada”, completa.

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Além disso, a mesma “erva daninha” pode se tornar um refogado ou um chá com ação anti-inflamatória e que ajuda no funcionamento dos rins, do intestino, no controle da diabetes e do colesterol. “As pessoas acreditam que são apenas matos, mas são vegetais que já foram usados no passado e que acabaram esquecidos ou substituídos por outros”, explica especialista e professor do curso de nutrição da Uninter.

Inclusive, ele garante que essas plantas alimentícias não convencionais – chamadas atualmente de panc – também oferecem nutrientes importantes que podem acompanhar as refeições e garantir mais variedade ao que é consumido por adultos e crianças no dia a dia. Afinal, “quanto mais diversificado e colorido for o prato, mais vitaminas e minerais ele vai oferecer”.

Por isso, a dica do nutricionista é que as famílias experimentem folhas e frutos incomuns disponíveis nas feiras livres da cidade, usem no preparo dos alimentos aqueles pedaços das hortaliças que costumam ir para o lixo e também pesquisem a respeito dos "matinhos" que existem no quintal.

“A capuchinha, por exemplo, é uma planta ornamental corriqueira nos jardins que tem grande potencial antioxidante”, comenta Alisson, ao citar que as folhas dela têm sabor picante similar ao agrião e que suas flores também são comestíveis. “E tem um tubérculo conhecido como cará-roxo que pode ser encontrado na feira para substituir a batata inglesa em algumas receitas”, acrescenta. “Então, por que não usar opções como essas na mesa?”.

Foi para responder esse questionamento que o pesquisador e gestor ambiental Guilherme Reis Ranieri começou a buscar informações sobre plantas que nasciam no sítio de seus pais. “Comecei em meados de 2010 e descobri que a maioria daqueles matinhos era comestível”, conta o paulista, ao lembrar de como isso o surpreendeu. “Principalmente porque muitas tinham sabor parecido com alimentos que eu estava acostumado”.

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Então, ele decidiu transformar sua curiosidade em trabalho, começou a catalogar algumas espécies e a publicar anotações no blog Matos de Comer que, mais tarde, deu origem ao livro com mesmo nome. “E descobri uma variedade tão grande de plantas comestíveis que acabei me tornando vegetariano”, relata o rapaz. “Lembrando que fiz isso usando a alimentação do dia a dia”.

Segundo ele, esse é o segredo para acrescentar novos vegetais à dieta porque cada família já tem as receitas que mais gosta e isso facilita a aceitação por adultos e crianças. “Então, dá para colocar no feijão, omelete, arroz ou na farofa, tudo de forma bem simples”.

No entanto, ele alerta que não dá para pegar na rua qualquer pé de dente-de-leão, serralha ou picão, por exemplo. “Você precisa colher ou comprar em local adequado e ainda higienizá-los corretamente”, pontua, ao sugerir o preparo de um jardim comestível em casa. “Assim, nenhuma planta do terreno fará mal para as crianças ou para o seu cachorro, você economizará no mercado e ainda aproveitará a função terapêutica de cuidar de um jardim”, incentiva.

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Algumas sugestões de panc:

  1. Folhas e talos de beterraba: ricos em fibras, ajudam no funcionamento do intestino, são fontes de vitamina K, vitamina C, ferro, cálcio e atuam como antioxidante. Podem ser usados como refogado, na farofa ou na massa de panqueca, por exemplo.
  2. Serralha: com suas folhas em formato de lança e gosto parecido com o do almeirão ou da escarola, a serralha é rica em vitamina C, fibras, ômega-3 e minerais. Pode ser consumida na salada ou refogado, se tornando um acompanhamento nutritivo ou ainda uma opção de recheio para pães, pastéis e tortas.
  3. Ora-pro-nobis: também chamada de trepadeira-limão ou groselha-de-barbados, tem frutos ácidos e até foi apelidada de “carne vegetal” por seu alto teor de proteínas. Ela é rica em cálcio, magnésio e zinco, e pode ser usada em pratos do dia a dia da mesma maneira que a escarola, o espinafre ou a couve.
  4. Açafrão-da-terra: conhecido como cúrcuma, essa panc possui cheiro forte, sabor picante e coloração laranja. Ela auxilia na digestão de gorduras e proteínas e ajuda no funcionamento do fígado. Pode ser consumida fresca, de forma desidratada ou em pó para ser adicionada ao arroz e deixá-lo bem amarelinho, por exemplo.
  5. Folhas e sementes de amaranto: considerada um superalimento, sua semente é rica em proteínas e pode ser utilizada no iogurte, adicionada à salada ou em outras receitas, assim como a linhaça e a chia. Já a folha do amaranto pode ser refogada e usada em pratos cozidos que levariam espinafre, por exemplo.
  6. Picão: essa conhecida “erva daninha” é rica em ferro e vitamina A. Pode ser consumida cozida em receitas que levariam outra folha, como espinafre cozido com feijão ou no meio do omelete, por exemplo.
  7. Bardana: comum na culinária japonesa, essa planta é rica em proteínas, fibras, cálcio, fósforo, ferro, vitamina A e vitamina B1. Ela produz longas raízes de sabor levemente adocicado que podem ser utilizadas com facilidade em tortas e sopas que levariam cenoura.