Estudo conduzido na USP acompanhou, por seis meses, 882 pacientes. Resultados mostram sintomas prolongados
Estudo conduzido na USP acompanhou, por seis meses, 882 pacientes. Resultados mostram sintomas prolongados, como insônia.| Foto: Bigstock

Dos pacientes que desenvolveram formas graves da Covid-19, a maioria pode vir a ter sintomas prolongados ou sequelas da doença, de acordo com uma pesquisa desenvolvida no Hospital das Clínicas da USP. Os resultados foram divulgados pela Agência Fapesp.

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Durante seis meses, 882 pacientes – que estiveram internados por complicações da Covid-19 (sendo que 2/3 precisaram de cuidados nas UTIs) – tiveram alguns aspectos da vida após a doença monitorados pelos pesquisadores. A grande maioria (89,3%) apresentou sintomas persistentes ao longo do período de análise. Os mais comuns eram cansaço, dores pelo corpo e dispneia (dificuldade para respirar).

Sintomas prolongados mais comuns

Sintomas emocionais ou cognitivos foram relatados por 58,7% dos participantes. Os mais comuns eram:

  • Perda de memória (42%);
  • Insônia (33%);
  • Prejuízo na concentração (31%);
  • Ansiedade (28%);
  • Depressão (22%).

De acordo com Geraldo Busatto, coordenador do laboratório de Neuroimagem em Psiquiatra do HC/FM/USP, e coordenador do estudo, os sintomas descritos pelos pacientes estão inter-relacionados. "O que verificamos é que uma pessoa que reclama da perda de memória também relata insônia, ansiedade e depressão. É importante destacar que esses resultados foram ajustados em relação aos sintomas apresentados antes de as pessoas terem Covid-19", explica, em entrevista para a Agência Fapesp.

Para chegar a esses dados, os pesquisadores fizeram entrevistas estruturadas [método de entrevista no qual as perguntas são pré-estabelecidas e aplicadas igualmente a todos os participantes], e categorizaram diagnósticos de transtornos psiquiátricos a partir das respostas.

Segundo o coordenador do estudo, há um índice de estresse pós-traumático entre os participantes, de 13,65%, que se assemelha aos dados da população em geral. Porém, no caso de alucinações e delírios, os números foram mais altos, com 8,71% e 6,35% de relatos, respectivamente.

Danos cognitivos

Além das entrevistas, os pesquisadores pediram para que os participantes realizassem algumas tarefas para mensurar possíveis danos cognitivos.

"Em comparação com a média brasileira, esses pacientes tiveram um resultado pior, isso especialmente entre os que tinham entre 60 e 75 anos. Já nos testes que analisaram fluência verbal, não houve diferença entre os pacientes e a população brasileira em geral. Isso mostra que, provavelmente, o déficit causado pela Covid-19 não é uniforme, algumas áreas da cognição devem apresentar mais déficits que outras", explica o coordenador do estudo.

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