Essencial para um bom sistema imunológico, o sono é um dos fatores protetores e restauradores mais importantes da vida humana
| Foto: Ivan Oboleninov/Pexels

A pandemia de Covid-19 está mexendo na rotina de todo o mundo. Hospitais sobrecarregados, escolas vazias, cidades fantasmas e o autoisolamento lembram um filme de horror, mas tudo é muito real. De acordo com uma pesquisa recente da Universidade do Sul da Califórnia, cerca de 40% dos norte-americanos estão sentindo ansiedade com a pandemia.

Sou psicólogo e estudo o papel do sono em nossa vida. Concentro-me principalmente em como o ciclo do sono afeta nossa vida social do dia a dia. Isso me leva a pensar que há uma coisa que podemos fazer muito bem durante o isolamento social: dormir.

O sono, esse estado reversível de desengajamento com o mundo, é um dos fatores protetores e restauradores mais importantes da vida humana. O sono é essencial para pensar com clareza e viver positivamente.

Além disso, ele é indispensável para manter a função imunológica, que é essencial na prevenção e recuperação de doenças infecciosas como a Covid-19. A insônia nos torna mais suscetíveis a infecções virais e prejudica que nos recuperemos tanto de um resfriado comum quanto de problemas mais graves.

Infelizmente, é exatamente durante os períodos de ansiedade e incerteza social – quando mais precisamos dormir – que o sono é mais perturbado. A ansiedade sobre o futuro e o medo pela saúde das pessoas próximas a nós afetam nossas noites de sono, aumentando a hiperexcitação e a ruminação – reações conhecidas por intensificar a insônia.

A perda de ritmos sociais regulares e de uma maior convivência com a luz natural mexerá ainda mais com o nosso relógio biológico, confundindo-nos sobre quando devemos nos sentir cansados ​​e quando devemos estar bem dispostos.

Ajustando o relógio

A maioria dos norte-americanos não está enfrentando essa crise bem descansada. Pesquisas que realizamos nos últimos anos usando dados dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças em centenas de milhares de pessoas apontam que a era dos smartphones levou a uma deterioração substancial na duração e na qualidade do sono. Um exemplo disso é que, numa análise recente que minha equipe conduziu, constatamos que hoje cerca de 5 milhões de norte-americanos a mais reportam problemas para dormir em relação a cinco anos atrás.

As consequências psicológicas disso não estão muito longe, mas serão registradas com mais força depois que as taxas de infecção começarem a declinar. Quando os picos da pandemia e os danos físicos à saúde começarem a diminuir, as consequências completas dessa pandemia para o nosso bem-estar serão aparentes.

Por isso, aumentos inevitáveis ​​em problemas psicológicos, suicídios e transtornos por uso de substâncias precisam ser antecipados e mitigados agora. É só lembrar que após a crise econômica de 2008 e 2009 havia milhões de novos casos de pessoas com problemas psicológicos e de saúde nos Estados Unidos e na Europa.

Então, o que fazer para proteger nosso sono? Ao lado das ameaças e desafios, esse tempo também oferece algumas oportunidades. Quando foi a última vez em que boa parte da população ficou em casa por dias, muitas vezes sem sequer a necessidade de programar os despertadores?

Além de se conectar com as pessoas mais próximas a nós, muitos de nós podem dormir um pouco mais e organizar nossas vidas de maneira adequada ao nosso relógio biológico: você pode ir dormir com as galinhas, bem cedo, ou fazer como as corujas e aproveitar a noite. As famílias podem sincronizar suas refeições e adaptar a rotina de maneiras novas, respeitando o relógio biológico de cada um – aquilo que cronobiólogos chamam de ritmo circadiano.  

Durante a maior parte de nossa vida, nossa hora de ir para cama dependeu de outras pessoas, do horário de trabalho ou de nossa sensação de exaustão. Essa pode ser uma oportunidade sem precedentes de responder de forma realmente adequada à necessidade humana básica de desligarmo-nos regularmente, ajudando esses nossos corpos humanos a combater as guerras que somente eles sabem combater.

*Professor de Psicologia na Universidade do Estado de Iowa, nos Estados Unidos.

©2020 The Conversation. Publicado com permissão. Original em inglês.

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