Sinais de infarto e AVC não devem ser ignorados durante a pandemia
O medo de se contaminar tem feito com que a pessoa fique mais tempo em casa com sintomas, o que causa mais acidente vascular cerebral, insuficiência cardíaca e mortes.| Foto: Bigstock

Um dos efeitos colaterais mais visíveis na saúde do isolamento social imposto pela pandemia do novo coronavírus tem sido a redução do número de consultas ambulatoriais e de exames de diagnóstico de doenças cardíacas.

Segundo o cardiologista Costantino Costantini, do hospital que leva seu nome, comparado ao mesmo período do ano de 2019 houve quedas respectivas de 57% e 47% nesses atendimentos. “Porém, quando se trata de emergências cardiológicas, em que está incluído o infarto do miocárdio, houve um aumento de 56% nos atendimentos”, diz ele.

O medo de se contaminar tem feito com que a pessoa fique mais tempo em casa com sintomas, o que causa mais acidente vascular cerebral, insuficiência cardíaca e mortes. “O atraso pode aumentar em cinco vezes os índices de mortalidade, mas há outros prejuízos:  a insuficiência cardíaca, causada pela morte celular oriunda da demora do atendimento, causa efeitos irreversíveis ao músculo cardíaco, o que limita a qualidade de vida do individuo, aumenta os dias de internamento e as contas hospitalares”, diz ele.

Frio gera mais casos

No frio, os infartos tendem a aumentar, segundo Gustavo Lenci Marques, cardiologista do Hospital Marcelino Champagnat, em Curitiba. Isso acontece por uma adaptação do corpo. “O corpo responde às baixas temperaturas fechando os vasos, fazendo um processo chamado de vasoconstrição. Isso gera uma resistência maior para o coração bombear o sangue, aumentando a pressão”, diz ele.

Nesta época do ano, e agora em isolamento, a redução na frequência dos exercícios físicos também afeta a saúde do coração. “Isso contribui para agravar algumas patologias com o aumento da glicemia e da frequência cardíaca, e também pela obesidade”, diz Costantini.  “As infecções respiratórias também podem causar inflamação nos vasos daqueles que têm a doença aterosclerótica e são assintomáticos e que não fazem seus check-ups”, diz ele.

Erros mais comuns

Subestimar os sintomas do infarto é o principal erro do paciente e de seus familiares, diz Lenci Marques. “A pessoa tem dor no peito, mas acha que não é nada, que dá para esperar, que deve ser muscular, derivada de algum esforço que fez”, fala, alertando para que, ao sentir sintomas como dor no peito e falta de ar exacerbada, o paciente procure pronto atendimento. No inverno, cita Costantini, atrapalha também aquele pensamento famoso que protela a busca por ajuda: "amanhã eu vou ao hospital, pois está quentinho em casa".

São também erros, segundo Costantini, não levar a sério a prevenção à doença aterosclerótica pensando que infarto nunca vai acontecer por levar uma vida tranquila e sem dores no peito e deixar de fazer check-ups anuais, entre quem tem casos de doença cardíaca em família. “Quem sabe que tem a doença e a ignora, não vai às consultas, não usa certo os medicamentos indicados e fundamentalmente não muda hábitos de vida e alimentares está cometendo erros que podem ser fatais”, diz ele, que indica a quem quer se exercitar, uma avaliação minuciosa com um preparador físico e um cardiologista.

Não é só dor no peito

Muita gente ainda acha que apenas dores no peito apontam para infarto, um erro segundo Costantini, pois que a dor não acomete a todos. “Nem sempre a primeira manifestação da doença coronária é um sintoma ou dor, há uma porcentagem significativa que apresenta como primeira manifestação o infarto agudo do miocárdio ou até mesmo a morte súbita”, diz ele.

“Quando infartada, uma de nossas coronárias pode causar dor na mandíbula, já outra pode ocasionar dor epigástrica, que se confunde com dor de dente e até com desconforto estomacal como quando ingerimos algo que não cai bem”, diz o cardiologista.  

Os sinais podem ser, segundo Costantini, dor no peito que perdura por mais de 20 minutos e pode se irradiar para pescoço, mandíbula, costas, braço ou ombro esquerdo, queimação, sensação de peso ou aperto no peito e formigamento no braço; náuseas e/ou vômito; sudorese e suor frio; falta de ar. “A pessoa deve sempre avaliar se o tipo de dor ou sintoma tem relação com algum tipo de esforço realizado, seja ele leve, seja ele moderado”, fala.

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