Febrefobia: o medo que apavora os pais quando os filhos têm febre
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Queixa das mais comuns entre os pais em atendimentos pediátricos, a febre é motivo único da ida de crianças aos consultórios em de 20% a 30% dos casos.

Este número aumenta para 65% em atendimentos de serviços de emergência e chega a 75% em atendimentos telefônicos ou por aplicativos eletrônicos de comunicação.

Muito temida, a febre pode ser sinal inicial de doenças graves. Porém, na maioria das vezes, o aumento da temperatura corporal acontece como primeira manifestação de infecções virais agudas, como explica o pediatra Tadeu Fernandes, presidente do Departamento Cientifico de Pediatria Ambulatorial da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). “Para essa sensação de ansiedade e insegurança que os pais passam quando veem seus filhos com febre já existe até um termo específico, febrefobia, quando o temor não é fruto de algo racional”, diz ele.

O medo da febre tem fundamento se pensarmos que ela pode “esconder” o problema real? Ou isso não procede?

A febre é uma resposta fisiológica do organismo a uma agressão física, química ou biológica. Quando aceleramos o motor do nosso carro, ele esquenta devido ao intenso trabalho. Nosso organismo também, diante de uma agressão ele reage, dilatando os vasos sanguíneos, para levar mais sangue ao local agredido, aumentando a produção de anticorpos e glóbulos brancos, visando defender, dificultar ou até inibir a multiplicação dos agressores como vírus ou bactérias.

Febre não é doença, é uma reação de defesa do organismo, é um alarme ou um sinal de que estamos sofrendo uma “agressão”.

Há uma idade ou condição em que o aumento abrupto de temperatura realmente significa motivo de preocupação imediata?

Quanto menor a idade, maiores são as preocupações com a febre, devido à imaturidade do sistema imunológico dos bebês. Os protocolos internacionais recomendam atenção máxima na febre em lactentes menores de 3 meses de idade.

Em época de fake news, quais são os mitos mais populares que as pessoas não cansam de propagar e que chegam aos pronto-atendimentos?

São mitos essas afirmações: “febre é sinal de doença grave!”; “Precisa dar antibiótico para tratar a febre!”; “Se não combater a febre a criança pode ter convulsão e/ou ficar com retardo mental”. É um mito que o antibiótico combata a febre. Ele mata somente bactérias, não vírus; não tem ação antitérmica, portanto, será útil em apenas 10% dos casos de febre, aquelas provocadas por bactérias.

O que não faltam são fake news. Por isso recomendamos sempre uma busca nas áreas destinadas aos pais no site da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP) para confirmar a veracidade das informações.

A velocidade do aumento da temperatura prenuncia a gravidade do problema?

Não necessariamente, a grande maioria das febres de início súbito e aumento rápido é causada por vírus e não por bactérias.

Como uma mãe ou pai devem se comportar no surgimento de uma febre? Qual a forma racional de lidar com ela?

Acima de 37,8 graus C podemos considerar uma criança febril, o que não quer dizer que tenhamos de medicá-la. Nesse caso, tirar as roupas, dar banhos (nem frio, nem quente), hidratar oferecendo água, soro oral e líquidos à vontade, medir novamente a temperatura após 30 minutos. Na maioria dos casos a febre vai desaparecer sem medicação, assim como o motor do carro esfria quando colocamos água no radiador.

A nova Pediatria recomenda que se use antitérmicos, mas não somente baseando-nos em números, por exemplo: chegou nos 38 graus C; é a hora! Devemos ter como referência o estado geral da criança: se chegar aos 38,5 graus C e ela estiver brincando e animada, podemos aguardar um pouco, mas se está com 37,8 graus C e caidinha, desanimada, administre o antitérmico.

Em alerta

Veja as situações que exigem dos pais a busca por atendimento:

  • Bebês abaixo de 3 meses de idade com temperaturas acima de 38 graus C ou abaixo de 35,5 graus C;
  • Quando, mesmo após normalizar a temperatura, a criança se mantiver irritada, com choro persistente ou muito “largadinha”, mole, apática, com pouca reação, sem querer mamar;
  • Quando a febre estiver acompanhada de sintomas persistentes como dor de cabeça, pele com manchas avermelhadas, dificuldade em dobrar o pescoço, vômitos que não cessam, irritabilidade extrema ou sonolência, dificuldade importante para respirar, ou queda do estado geral.

A permanência da febre indica problemas?

Febre persistente sem outros sinais e sintomas acompanhando sempre são motivos para preocupação e deve-se procurar o pediatra nessas situações.

Qual é o tempo de ação médio dos antitérmicos mais conhecidos do mercado? Medicar demais com antitérmicos pode causar problemas?  Misturar antitérmicos (como quando não há a resposta no tempo adequado) pode dar problema? Quais problemas poderiam causar?

O antitérmico deve ser administrado quando necessário e não há necessidade de intercalar antitérmicos. Se começou com um, continue com ele. Se a febre voltar antes das 4 horas (horário da nova dose), hidrate e refresque a criança (pouca roupa), vai resolver! Repetimos: a hidratação é fundamental no combate à febre.

No que consiste a convulsão febril?

A convulsão febril costuma acontecer entre os 6 meses e os 6 anos de idade, é benigna, não deixa sequelas e não precisa de medicamentos preventivos. Tem muito a ver com a subida, ou descida, brusca da temperatura; pode acontecer com 37,5 ou 39 graus C, não é o número em si, mas a predisposição. É mais comum se houver familiares que já tiveram o mesmo quadro quando crianças.

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