Pesquisadores da Unicamp revisaram 1.069 artigos que descrevem quadros clínicos e comorbidades de pacientes com a Covid-19
Pesquisadores da Unicamp revisaram 1.069 artigos que descrevem quadros clínicos e comorbidades de pacientes com a Covid-19| Foto: Bigstock

No início da pandemia da Covid-19 — quando tudo que se conhecida da doença eram os sintomas respiratórios — acreditava-se que pessoas com condições que interferem nesse sistema, como a asma, poderiam estar em maior risco para quadros graves da infecção pelo Sars-CoV-2. Onze meses depois, esse não parece ser o caso.

Em uma revisão de 1.069 artigos com a descrição de quadros clínicos de pacientes com a Covid-19, além dos antecedentes médicos de cada um, pesquisadores das Faculdades de Ciências Médicas e de Enfermagem da Unicamp descobriram que, dos 161.271 pacientes analisados, apenas 1,6% tinham diagnóstico prévio de asma.

Como a prevalência global da asma é de 4,4%, de acordo com dados do Global Asthma Report e da Organização Mundial da Saúde (OMS), os autores avaliaram dois cenários:

  • A asma não é uma condição que contribua para o desenvolvimento da Covid-19;
  • Médicos e pesquisadores não descreveram adequadamente os antecedentes de saúde dos pacientes com Covid-19, o que poderia indicar uma subnotificação dos casos.

Ainda, mais de 20% dos pacientes descritos nos artigos eram originários da China, país com uma das menores prevalências de asma no mundo.

"A origem geográfica dos estudos pode ter influenciado os resultados. No entanto, como os estudos incluídos nessa revisão sistemática eram principalmente de países que tinham uma ampla variedade de prevalências tanto para asma quanto para as principais comorbidades associadas à Covid-19, nós acreditamos que esse fator desempenha um papel menor nos resultados", destacam os autores.

A pesquisa analisou artigos publicados entre dezembro de 2019 e junho de 2020 e teve os resultados divulgados no periódico científico Allergy, Asthma & Clinical Immunology no início de janeiro.

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Doença inflamatória crônica que acomete os brônquios, a asma gera crises de tosse e falta de ar. A forma mais comum da doença é uma resposta alérgica a componentes dos ácaros, fungos, pólens e animais domésticos.

"Outro aspecto que poderia explicar nossos resultados é que o tratamento para a asma com corticoesteroides inalados têm melhorado a adesão terapêutica e profilática nos últimos anos, resultando em uma redução de episódios de estresse respiratório e alergias associados com desequilíbrio imunológico", destacam os autores.

Os pesquisadores, que fazem parte do Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades (Cepid-OCRC), explicam ainda que as associações e entidades internacionais de asma e alergias foram ágeis em produzirem e distribuírem diretrizes aos profissionais da saúde com orientações de cuidado com o paciente asmático, além do público em geral.

"Essas ações podem ter impactado positivamente o controle da asma e feito pacientes adotarem as medidas de isolamento social; e assim mitigando o risco de desenvolver a Covid-19", finalizam.

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