Pesquisadores norte-americanos divulgaram resultados de um novo estudo que indicaria o uso da medicação em casos específicos
Pesquisadores norte-americanos divulgaram resultados de um novo estudo que indicaria o uso da medicação em casos específicos| Foto: Bigstock

Usar a hidroxicloroquina em pacientes hospitalizados com a Covid-19, nas primeiras 48 horas de internamento, pode ajudar a reduzir o risco de mortalidade, de acordo com um novo estudo sobre a medicação.

Publicado na revista científica International Journal of Infectious Disease na quarta-feira (1), a pesquisa foi realizada pelo Sistema de Saúde Henry Ford, em Detroit, nos Estados Unidos, mas nem está isenta de críticas, nem pode ser vista como uma decisão final sobre a medicação - e os pesquisadores deixam isso claro nos resultados.

"Os resultados desse estudo demonstram que, em um ambiente hospitalar controlado por protocolo e estritamente monitorado, o tratamento com a hidroxicloroquina sozinha e da hidroxicloroquina com a azitromicina foi associado a uma redução significativa na mortalidade entre pacientes hospitalizados com Covid-19. (...) No entanto, nossos resultados devem ser interpretados com cautela e não devem ser aplicados a pacientes tratados fora do ambiente hospitalar. Nossos resultados também requerem a confirmação adicional de estudos randomizados, controlados e prospectivos, que avaliem rigorosamente a segurança e a eficácia da terapia de hidroxicloroquina para pacientes internados com a Covid-19", destacam os pesquisadores.

Resultados

A pesquisa comparativa e retrospectiva avaliou dados de registros médicos de 2.541 pacientes, em tratamento entre os dias 10 de março a 10 de maio, com testagem positiva para a Covid-19 pelo exame RT-PCR (que identifica a presença do vírus no momento da coleta). Eles foram separados em quatro grupos, a partir da medicação recebida:

  • Hidroxicloroquina em associação à azitromicina;
  • Hidroxicloroquina sozinha;
  • Azitromicina sozinha;
  • Nenhum dos medicamentos.

A taxa de mortalidade entre os pacientes que não receberam nenhuma das medicações citadas foi de 26.4%. Entre aqueles que receberam os dois medicamentos, 20.1%. Os pacientes que fizeram uso apenas da hidroxicloroquina registraram uma taxa de mortalidade de 13.5%. E entre aqueles que receberam apenas a azitromicina, 22.4%. A taxa de mortalidade geral da pesquisa ficou em 18.1%.

Devido ao risco cardíaco associado aos remédios hidroxicloroquina e azitromicina, os pesquisadores ressaltam na pesquisa que os pacientes passaram por exames de eletrocardiograma.

"Os benefícios da hidroxicloroquina em nossa coorte, em comparação a estudos anteriores, podem estar relacionados ao uso precoce no curso da doença com dosagem padronizada e segura, critérios de inclusão, comorbidades ou coorte maior. A fisiopatologia postulada da Covid-19 na fase inicial da infecção viral, seguida pela resposta hiperimune, sugere um benefício potencial da administração inicial da hidroxicloroquina pelas suas propriedades antivirais e antitrombóticas", explicam os pesquisadores.

Segundo eles, o uso da medicação em etapas mais avançadas da doença, especialmente depois de uma resposta imunológica mais grave ou quando a doença se torna mais crítica, teria uma menor probabilidade de benefícios.

Críticas de outros pesquisadores

Na mesma revista científica, um grupo de pesquisadores publicou uma análise do estudo norte-americano destacando pontos de "fraquezas". Entre elas, o fato de a taxa de mortalidade dos pacientes não tratados com nenhuma medicação ser maior que a taxa de admissão nas unidades de terapia intensiva (UTIs) – o que indicaria que alguns pacientes não foram considerados em estado crítico da doença.

"Se esse for o caso, o cuidado de saúde desses pacientes pode ter sido diferente em outras formas que poderiam também estar associadas à morte (por exemplo, doenças terminais ou diretrizes avançadas que limitassem o cuidado intensivo)", destacam os críticos.

Os avaliadores apontam ainda que o próprio avanço no conhecimento dos médicos e da equipe de profissionais que atendiam os pacientes pelo sistema de saúde Henry Ford pode ter tido um impacto nos resultados, independentemente das medicações utilizadas. "Diretrizes específicas do hospital em relação a elegibilidade para a triagem da Covid-19, assim como a disponibilidade de testes, podem também ter mudado com o passar do tempo, introduzindo um viés cronológico adicional", explicam.

Por fim, os críticos ressaltam que os pacientes que receberam a hidroxicloroquina também receberam uma quantidade significativa de medicamentos esteroides – mais que o dobro da quantidade recebida pelo grupo que não fez uso da hidroxicloroquina ou da azitromicina.

"Isso é relevante ao levar em consideração o recente estudo RECOVERY, que mostrou um benefício na mortalidade a partir do uso da dexametasona entre indivíduos que precisavam de uma suplementação de oxigênio ou ventilação mecânica, o que potencialmente poderia enviesar os resultados desse estudo a favor da hidroxicloroquina", concluem.

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