Realizado pela Fundação Getulio Vargas, estudo indica as dores e os desafios de quem está em home office na pandemia
Realizado pela Fundação Getulio Vargas, estudo indica as dores e os desafios de quem está em home office na pandemia| Foto: Bigstock

Trabalhar em casa, no modelo chamado de home office, pode ter muitos benefícios. Mas, em um contexto de pandemia, em que muitas pessoas acabaram alterando a rotina sem o suporte das empresas, o impacto dessa mudança na saúde não pode ser ignorado.

Uma pesquisa realizada pelo Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da Fundação Getúlio Vargas (FGVSaúde) com 533 pessoas, entre os meses de junho e julho, ilustra os desafios dos trabalhadores brasileiros. Para 75% dos entrevistados, as dores no pescoço se tornaram uma constante desde o início da quarentena.

Do total, 58% disseram ainda que as dores nas costas os incomodam, enquanto 53% alegam terem tido mais dores de cabeça do que o normal. A fadiga ocular e a perda de sono afetam, cada uma, 55% dos respondentes.

Os dados foram obtidos por meio de um questionário eletrônico desenvolvido pelo Institute of Employment Studies (IES), do Reino Unido, parceiro da FGV na pesquisa, que também contou com o apoio técnico da empresa Sharecare. A maioria das pessoas que responderam ao estudo era de mulheres, com idade média de 40 anos.

Falta de adaptação

Não é a toa que a maioria dos entrevistados passou a sentir dores e incômodos com mais frequência. Para 87,4% deles, o home office foi uma adaptação que veio com a pandemia, e não uma realidade a qual estavam acostumados.

Além disso, somente 15,9% receberam algum suporte do empregador para adaptar a casa para o trabalho — número que destaca que 84,1% dos entrevistados não ganharam a mesma atenção.

"Os estudos populacionais revelavam que as questões musculoesqueléticas (como as dores nas costas), os problemas mentais e emocionais e o sono ruim já eram problemas frequentes no mundo todo, inclusive no Brasil. A mudança repentina para o trabalho em casa, sem tempo para um preparo adequado e associado às preocupações relacionadas à instabilidade econômica podem ter agravado tais condições", explica Alberto José Ogata, pesquisador do FGVSaúde e um dos autores do estudo.

Vale também destacar o impacto da imprevisibilidade do momento. Por mais que, no início, o home office não acarretasse tantos danos à saúde, a falta de uma data para acabar também interfere na qualidade de vida.

"No home office, a pessoa passa mais tempo no computador, o que pode aumentar as dores nas costas, no pescoço. Mas fomos pegos de surpresa, e uma coisa que iria terminar em abril ou maio, estamos em setembro e sem perspectiva de fim. Isso acaba prolongando o home office, mas não é só o lado físico que é afetado, o emocional também", explica João Luiz Carneiro, médico clínico geral do hospital VITA, em Curitiba, que lembra que as dores podem ter causas multifatoriais — inclusive emocionais.

Dos sinais de alerta, o pesquisador da FGVSaúde destaca que as pessoas devem ficar atentas e "ouvir" o que o corpo está tentando dizer. "Se a pessoa começa a mostrar sinais de irritabilidade, problemas no sono, enxaquecas, dores no corpo, algo não deve estar andando bem. O profissional deve procurar os profissionais de saúde da empresa para uma avaliação e orientação", completa Ogata.

Zero exercícios físicos

Outro desafio que a pandemia trouxe aos entrevistados foi a volta ao sedentarismo. Em 63% dos casos, os profissionais não têm feito exercícios físicos como faziam antes da Covid-19. Ainda, 46% dizem que estão trabalhando mais horas e em horários irregulares.

A falta de uma prática física pode estar associada às dores relatadas, de acordo com o médico João Luiz Carneiro, e a volta a uma vida mais ativa tende a melhorar esse aspecto. "Vemos mesmo no hospital um aumento nos atendimentos por queixas de dores nas costas, nas pernas. As pessoas confundem com Covid-19, porque pode apresentar dores musculares, mas normalmente é mais tensional, falta de se alongar e de se movimentar", explica.

Com relação aos limites do home office, o pesquisador Alberto Ogata reconhece que manter o equilíbrio entre a vida profissional e a pessoal pode ser difícil, e que o segredo está em impor limites. "Por exemplo, não atender telefonemas ou responder mensagens ou e-mails no período em que não estiver trabalhando. E, no período que estiver trabalhando, todos em casa devem respeitar este momento, e este espaço, evitando interrupções ou atrapalhar a atividade", sugere.

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