Estudo da China aponta existência de dois tipos do novo coronavírus; cientistas contestam
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Um estudo preliminar realizado na China apontou que existiriam duas cepas (ou dois tipos) principais do novo coronavírus responsáveis pelo aparecimento de casos da Covid-19 em Wuhan, na província chinesa de Hubei, local de onde a doença se espalhou para o mundo.

A pesquisa foi feita pela Escola de Ciências da Vida da Universidade de Pequim em conjunto com o Instituto Pasteur de Xangai, e coordenada pela Academia Chinesa de Ciências. Esse levantamento foi publicado em 3 de março no National Science Review, da Academia Chinesa de Ciências.

O estudo, porém, recebeu várias críticas de cientistas de outros países pelo fato de a amostragem ser pequena e ainda pela conclusão sobre a transmissibilidade de cada cepa do vírus. De acordo com informações disponibilizadas pelos cientistas chineses, 103 genomas foram analisados e dois tipos principais foram encontrados - chamados de L e S. Ambos circulavam em Wuhan.

A pesquisa inicial levou à conclusão de que as cepas L e S apresentam sequências virais muito próximas. Segundo o estudo, seria possível afirmar que S seria uma "versão ancestral" de L. Por esse motivo, S seria evolutivamente mais velho e menos agressivo. Enquanto que L se espalhava mais rapidamente entre a população de Wuhan e era o tipo mais perigoso.

À época do estudo, a cepa L, a mais agressiva, era responsável por 70% dos casos analisados de coronavírus em Wuhan. Já S, a cepa menos perigosa foi encontrada em 30% dos genomas. A pesquisa ressalta, porém, que os pesquisadores observaram diminuição de L após janeiro de 2020. "Esses achados apoiam fortemente uma necessidade urgente de estudos abrangentes e imediatos, que combinam dados genômicos, epidemiológicos, e registros gráficos dos sintomas clínicos de pacientes com a doença do coronavírus 2019", diz o estudo, reforçando seu caráter preliminar.

Críticas ao estudo 

Entre os críticos do estudo está o professor de evolução molecular na Universidade de Edimburgo, na Escócia, Andrew Rambaut. Em entrevista ao O Estado de S. Paulo, ele afirmou que as diferenças apresentadas pela pesquisa entre as duas cepas estariam dentro da normalidade.

Já Stephen Griffin, especialista em infecção e imunidade e professor da University of Leeds, na Inglaterra, também fez críticas à pesquisa e afirmou que "é difícil confirmar estudos como esse sem uma comparação direta lado a lado da patogenicidade e disseminação, de preferência feita em um modelo animal, ou pelo menos em um estudo epidemiológico bastante extenso".

Questionamentos às conclusões do estudo chinês também foram feitas por Oscar MacLean, da Universidade de Glasgow. "Acreditamos que os indícios são insuficientes para os autores chegarem a essas conclusões e que é incorreto dizer que existe uma nas taxas de transmissão das duas linhagens", afirmou ele, ao O Estado de S. Paulo.

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