Tanto a vacina da AstraZeneca / Universidade de Oxford quanto a Coronavac, da Sinovac, poderão ter a eficácia testada ainda em 2020.
Tanto a vacina da AstraZeneca / Universidade de Oxford quanto a Coronavac, da Sinovac, poderão ter a eficácia testada ainda em 2020.| Foto: Pexels

O CEO da AstraZeneca, Pascal Soriot, disse nessa quinta-feira, 10, que a empresa poderia saber até o fim do ano se a vacina experimental protegeria as pessoas da Covid-19, desde que a retomada dos testes da farmacêutica britânica fosse permitida.

A empresa suspendeu temporariamente, há dois dias, a última fase dos testes depois que uma doença foi detectada em um dos participantes do estudo no Reino Unido. Foi relatado que o paciente sofria de sintomas neurológicos associados a um raro distúrbio inflamatório da coluna, a mielite transversa. Não há registro de reações adversas em voluntários no Brasil.

Soriot disse, durante teleconferência, que a Organização Mundial da Saúde (OMS) identificou a vacina que está desenvolvendo em parceria com a Universidade de Oxford como a mais promissora no combate ao novo coronavírus. Ele também afirmou que é muito comum a suspensão de um ensaio por esse tipo de ocorrência.

O CEO disse ainda que a AstraZeneca não tinha conhecimento do diagnóstico do voluntário no ensaio, acrescentando que não estava claro se ele tinha mielite transversa e que mais exames eram necessários. Soriot afirmou ainda que o diagnóstico será apresentado a um comitê de segurança independente e que deve ser capaz de dizer à empresa se os testes podem ser retomados.

O imunizante está em testes em vários países, como Brasil, Estados Unidos, África do Sul e Índia. O acordo do governo brasileiro com a AstraZeneca garante acesso a 100 milhões de doses do insumo da vacina, das quais 30 milhões de doses seriam entregues entre dezembro e janeiro e 70 milhões, ao longo dos dois primeiros trimestres de 2021. Nessa quarta-feira (9), o Ministério da Saúde disse que o acordo com a farmacêutica não seria alterado.

Coronavac deve ser avaliada em outubro

Outra vacina em testes no Brasil, a Coronavac - desenvolvida pela farmacêutica Sinovac Biotech - não apresentou nenhuma intercorrência até o momento, de acordo com Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, que coordena o ensaio clínico de fase 3 no país. As informações foram divulgadas pela Agência FAPESP.

Em uma coletiva de imprensa na última quarta-feira (9), o diretor afirmou que a expectativa da instituição é que, até o fim de setembro, todos os voluntários no país tenham recebido as duas doses da vacina em testes. Na sequência, seria dado início a análise da eficácia, em meados de outubro.

“Havendo comprovação da eficácia, a vacina poderá ser registrada pela Anvisa e, em seguida, disponibilizada ao Ministério da Saúde. Em dezembro, o Butantan terá 46 milhões de doses disponíveis para o Ministério da Saúde dar início ao programa de imunização. Entendo que esta é uma perspectiva realista”, afirmou o diretor durante a coletiva.

De acordo com Esper Kallás, professor da Faculdade de Medicina da USP e coordenador do estudo clínico no Brasil, até o momento mais de 4 mil voluntários brasileiros receberam a primeira dose da vacina e parte deles recebeu a segunda. A eficácia dessa candidata será medida pela capacidade em prevenir casos de Covid-19 na população vacinada, mas não pela análise da resposta imune induzida.

Resposta imune entre idosos

Dados dos ensaios clínicos de fase 1 e 2 da vacina Coronavac, divulgados no início desta semana pela empresa responsável, mostram que a resposta imunológica induzida pela candidata seria mais fraca entre a população idosa. Ainda assim, 98% dos voluntários com mais de 60 anos desenvolveram anticorpos.

Essa resposta entre a população idosa era esperada, de acordo com Kallás. “Essa é a regra. Uma vacina de vírus inativado com desempenho entre os idosos igual ao observado entre os jovens seria algo para se desconfiar, pois vai contra os preceitos fundamentais do sistema imune. Uma vacina extraordinária talvez consiga, no máximo, minimizar o efeito da idade.”

Para o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, a notícia tem um lado positivo. “Com uma dose intermediária, que é a que estamos usando no ensaio clínico de fase 3, 98% dos idosos desenvolveram anticorpos suficientes para neutralizar o vírus. Com uma dose mais alta o índice chegou a 99%. É um resultado muito bom – muito superior a outras vacinas. A da influenza não chega a 90%, por exemplo”, argumenta.

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