Apesar de os laboratórios fabricarem produtos seguros, apenas o leite materno oferece os anticorpos necessários para a criança.
Apesar de os laboratórios fabricarem produtos seguros, apenas o leite materno oferece os anticorpos necessários para a criança| Foto: Bigstock

Convicta de que amamentaria sua filha Isabella por seis meses, a confeiteira Adalgiane Borges Gondek viu seus planos “balançarem” logo nos primeiros dias após o parto. “Minha pequena não fez a pegada corretamente e meu peito rachou”, relata a paranaense, que se esforçava para aguentar a dor enquanto o seio sangrava. “Foi bem difícil, mas usei uma pomada e, em alguns dias, tinha melhorado”, conta, aliviada.

Sua persistência fez com que ela alcançasse seu objetivo e produzisse leite para a filha até retornar ao trabalho. No entanto, muitas mães não têm a mesma sorte, sofrem com a dor nas primeiras tentativas e, por diversos motivos biológicos ou emocionais, param de amamentar. “Cada mãe tem seu contexto e não podemos culpá-las por isso”, garante a pediatra Patricia Rozetti, ao afirmar que a opção indicada para esses casos é o leite artificial, também conhecido como fórmula infantil.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), esse alimento é produzido à base do leite de vaca ou de cabra, e passa por modificações na tentativa de oferecer ao bebê a quantidade de nutrientes adequada para seu desenvolvimento. Com isso, “a fórmula é um leite seguro”, garante a instituição.

No entanto, ainda que os laboratórios se esforcem para fabricar produtos parecidos com o leite materno e consigam grande aproximação, apenas o alimento produzido pelo corpo da mãe oferecerá todos os anticorpos e células de defesa que a criança precisa. Só ele “é capaz de proteger os bebês contra infecções, prevenir alergias, doenças crônicas no futuro e até diminuir a chance de desenvolver alguns tipos de câncer, como leucemias”, afirma a SBP.

Isso acontece, segundo Patricia, porque o leite materno é feito especificamente para aquela criança com a quantidade e qualidade de nutrientes exata que ela precisa naquele momento. “O leite muda conforme a idade gestacional, variando para um prematuro, um recém-nascido de um dia, dois dias ou de vários meses”, explica. Então, "ainda que existam fórmulas para cada fase do bebê, nunca serão iguais ao leite que a mãe produzirá”, garante.

Além disso, os produtos artificiais podem causar infecções intestinais e alergias ao neném, exigindo que os pais troquem de marcas com frequência e tenham gastos elevados. “Há fórmulas, por exemplo, que chegam a custar R$ 300 por lata, sendo que cada uma delas dura apenas três dias apenas”, comenta a pediatra.

Isso, em um mês, significa investimento aproximado de R$ 3 mil para alimentar o bebê, algo impossível para a maioria das famílias do país – que recebem um valor em torno de R$ 1,5 mil mensalmente, segundo dados de 2019 do IBGE. “Então, além de ser o melhor para a saúde da criança e gerar praticidade, já que é só tirar e está pronto, ainda traz benefício financeiro por ser de graça”, indica a especialista.

E posso dar os dois tipos de leite?

Só que existem alguns casos em que o leite produzido pela mãe não é suficiente para saciar o bebê. “Não por falta de qualidade, porque isso é indiscutível, mas pela pequena quantidade”, afirma Patricia, ao explicar que essas mulheres dão o peito na frequência adequada, mas seus filhos não ganham peso. “Foi isso que aconteceu comigo”, conta a costureira Priscila Botine Wengrzinski, de 28 anos.

Mão do pequeno Otávio, que hoje está com um ano e quatro meses, ela recorda que saiu da maternidade com bastante leite e não sentia dificuldade para amamentar. No entanto, via que o neném mamava diversas vezes e, mesmo assim, não engordava. “Era como se meu leite não fosse o bastante para mantê-lo saudável”, relata a jovem.

Preocupada com a situação, ela procurou um pediatra e ouviu o que não queria: “Mesmo tendo leite, eu precisaria alternar o peito com a fórmula, e sabia que meu filho poderia acabar largando meu seio nesse processo”. Infelizmente, foi o que aconteceu. Em menos de 30 dias, Otávio dobrou de peso e estava forte, mas começou a recusar, aos poucos, o peito da mãe, até que o rejeitou completamente. “Fiquei muito triste com aquilo”.

De acordo com Patricia – que atua na Maternidade Santa Brígida, em Curitiba –, nem todas as crianças respondem dessa forma à alternância do leite, mas é um risco que a mãe precisa correr em situações assim. “Se o bebê estiver passando fome, tendo hipoglicemia ou ficando desnutrido pela baixa quantidade de alimento que está recebendo, algo precisará ser feito urgentemente”, aponta, ao garantir que esses casos são raros e que a maioria das mães acaba alternando o leite materno com a fórmula devido à rotina.

“Algumas usam o leite artificial durante à noite para que o bebê fique saciado por mais tempo, então ela acordará menos para amamentar de madrugada e conseguirá trabalhar no dia seguinte”, exemplifica. “Já outras cuidam sozinhas da criança e acabam tirando o bebê do peito para conseguir dar conta de tudo”, completa.

Independentemente do motivo que leve a mulher a deixar de amamentar, a especialista afirma que nenhuma deve sentir-se culpada por não dar o peito à criança até os 2 anos de idade – como recomenda a Organização Mundial da Saúde (OMS). No entanto, ela aconselha todas as mamães a aproveitarem, ao máximo, o tempo que tiverem disponível para essa tarefa.

“Esse momento entre mãe e filho é único e o vínculo entre os dois aumenta demais”, garante. “Mas, se não você não tiver mesmo a opção de dar o peito, dê a mamadeira com seu filho no colo, olhe seu bebezinho e curta esses minutos tão especiais, sem desmerecer isso”, finaliza.

Deixe sua opinião