A tecnologia que “nos invade” nos deixa em estado de alerta constante, o que pode afetar o descanso e agravar as crises de ansiedade.
A tecnologia que “nos invade” nos deixa em estado de alerta constante, o que pode afetar o descanso e agravar as crises de ansiedade.| Foto: Bigstock

Quanto tempo você consegue ficar sem abrir suas redes sociais? E sem checar sua caixa de e-mail? Passa o dia conferindo o celular para ter certeza que não perdeu alguma notificação nova que entrou? Cuidado! Você pode estar sofrendo de “infoxicação”, uma intoxicação pelo excesso de informação.

O neologismo foi criado pelo físico espanhol Alfons Cornella, em 1996, para dar nome à grande quantidade de mensagens que recebemos, instantaneamente, ao ligar o computador, a televisão, sintonizar o rádio, ou desbloquear o telefone — e aos efeitos nocivos que isso pode ter na nossa saúde.

“Esse não é um fenômeno novo. Só que a pandemia do novo coronavírus acentuou ainda mais essa ausência de limites”, avalia a psicóloga Ana Suy Sesarino Kuss. Segundo ela, noções como dentro e fora, online e off-line perderam o sentido. “Com isso, a gente vai criando cada vez mais dificuldades em estabelecer fronteiras. Vira tudo uma coisa só, tudo um grande contínuo”, considera.

Para a professora da PUC-PR, a tecnologia que “nos invade” nos deixa em estado de alerta constante, o que pode afetar o descanso e agravar as crises de ansiedade. “Hoje se você manda uma mensagem para uma pessoa e ela não te responde naquele segundo, é como se fosse uma rejeição. Quando o telefone toca é como se a gente fosse receber, por mensagem, a melhor ou a pior notícia da nossa vida. É tudo muito intenso”, aponta.

Fisiologia

Já o médico psiquiatra, Sivan Mauer, explica que não somos preparados para receber tanta informação ao mesmo tempo. “Algo importante a se dizer é que nós somos muito mais analógicos do que digitais. Nosso cérebro tem dificuldade em fazer escolhas diante de muitas opções. É só fazer o teste indo a uma loja: se você tiver várias opções do mesmo produto — e a não ser que haja por impulso — possivelmente vai ser incapaz de decidir rapidamente qual comprar”, sustenta.

O especialista também chama a atenção não só para o volume de informações que se recebe, mas também ao tipo de conteúdo que é consumido. “Hoje a gente tem toda essa questão das fake news que precisa ser levada em conta. Por isso, a principal questão é saber aonde se informar”, diz.

Detox

Para prevenir os efeitos nocivos da infoxicação à saúde mental, o psiquiatra indica a criação de uma rotina de busca por informações. “Checar o e-mail é algo que pode ser feito uma, no máximo, duas vezes ao dia. O ideal é que você limite essas checagens. Olhar o WhatsApp, a mesma coisa. Notícias familiares e de extrema importância vão chegar até você”, afirma.

Outra orientação de Mauer é intercalar fontes de informação analógicas e digitais. “A luz das telas é algo que, comprovadamente, não é saudável. Então, revezar essa tela com, por exemplo, a leitura de um livro, de uma revista, vai reduzir os efeitos dessa intoxicação”, recomenda.

Cartilha

Preocupado com a saúde física e mental de seus pacientes, o médico e professor de Gerontologia da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná, Rubens de Fraga Júnior, criou um manual para combater o que a Organização Mundial da Saúde considerou como “infodemia”, uma superabundância de informações (verdadeiras e falsas) sobre o novo coronavírus.

Segundo ele, os idosos estão entre a fatia da população que mais sofre com os efeitos das fake news. “A sobrecarga de informações provoca ansiedade. E se as pessoas obtiverem informações erradas de fontes não confiáveis, podemos ter problemas em retardar a propagação do vírus”, alerta.

O médico também defende uma mudança na maneira de se informar. “Diminua o tempo de ouvir, ler ou assistir notícias sobre a Covid-19 que fazem com que você se sinta ansioso ou angustiado. Procure informações apenas de fontes confiáveis, para que você possa tomar medidas práticas para se proteger e de preferência no mesmo horário do dia”, sugere.

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