Em uma cidade de Minas Gerais, pesquisadores verificaram relação entre pessoas viúvas e divorciadas com a doença
Em uma cidade de Minas Gerais, pesquisadores verificaram relação entre pessoas viúvas e divorciadas com a doença| Foto: Bigstock

Dos fatores de risco mais conhecidos para diabete, o estado civil do paciente não está entre os principais. Mas um estudo brasileiro, realizado em uma cidade do interior de Minas Gerais, propõe que essa ideia seja aberta ao debate.

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Pesquisadores de diferentes instituições de ensino do Brasil, Estados Unidos, Chile e Espanha acompanharam um grupo de adultos, moradores da cidade de Baependi, por cinco anos, a fim de avaliar os fatores de risco cardiovasculares e de doenças não-transmissíveis, como diabete, naquela população. Divido em dois ciclos (o primeiro entre 2005 e 2006, e o segundo entre 2010 e 2013), o estudo também coletou dados sociodemográficos e socioeconômicos, além dos de saúde dos participantes.

Com essas informações em mãos, os pesquisadores verificaram que 13% dos participantes que eram divorciados ou viúvos haviam sido diagnosticados com diabete. Enquanto que, entre os casados, 6% tinham a mesma condição. Entre os solteiros, a mesma proporção: 6%.

Chamou atenção dos estudiosos também que, entre os casados, e apenas nesse grupo, houve um aumento significativo no Índice de Massa Corporal (IMC) — fator de risco para diabete. E, apesar desse dado, a doença não os atingiu da mesma forma que entre os viúvos e divorciados.

Culpa do estresse

O objetivo da pesquisa não foi entender os motivos que levaram a essa diferença no desenvolvimento da doença entre casados e divorciados/viúvos, mas as especialistas ouvidas pelo Sempre Família lançam algumas hipóteses. A principal delas seria o estresse.

A pessoa que se divorcia ou que perde o cônjuge passa por uma situação muito estressante, de mudança de vida. Os hormônios desencadeados pelo estresse aumentam a glicemia [taxa de açúcar no sangue] e favorecem a resistência à insulina [hormônio responsável pela redução da glicemia]. Em uma pessoa predisposta à doença, esse estresse pode ser um gatilho para o desencadeamento e, esse sim, seria o principal culpado – e não seu estado civil.

"Os hormônios do estresse são antagônicos à glicemia, aumentam a glicemia. Há só um que abaixa, que é a insulina. Os demais, de crescimento, adrenalina, glucagon e o cortisol, do estresse, aumentam a glicemia. [O estudo] aponta a importância da manutenção de uma vida saudável. Podemos entender como um aviso de que o lado emocional também importa", explica Rosângela Réa, médica endocrinologista do serviço de endocrinologista do Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Paraná (SEMPR/UFPR) e do Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba.

Outro dado que reforça o impacto do estresse que uma mudança abrupta na vida pode causar, de acordo com Jacira Caracik, médica endocrinologista e diretora da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia de São Paulo (SBEM-SP), está nas informações sobre os solteiros coletadas durante pesquisa. Apenas 6% deles desenvolveram diabetes ao longo dos cinco anos de acompanhamento.

"A permanência deles como solteiros também foi um fator protetor. Talvez porque eles já estivessem se adaptado a esse estilo de vida, sem passar por grandes estresses de separação ou morte do marido ou da esposa", argumenta Caracik.

Impacto restrito

Os achados chamam atenção, mas as especialistas destacam que eles não podem ser extrapolados para toda a população, devido ao número limitado de participantes e ao curto período de acompanhamento.

"Não sabemos o quanto é possível estender isso para outras pessoas, porque não sabemos o efeito a longo prazo. Se o casal que permanece junto continua engordando, provavelmente poderá desenvolver diabete. E esses mais estressados talvez se acalmem, porque há o estresse agudo da situação, do momento, que não se mantém", explica Réa.

A endocrinologista reforça ainda que, sendo assim, não se pode colocar o estado civil da pessoa nem como único fator a influenciar o desenvolvimento da doença, nem talvez como o mais importante. "Não é o fato de estar divorciado, viúvo ou casado que influencia. O fato é que a pessoa ficou assim durante aqueles cinco anos de observação do estudo. Talvez 10 anos depois tenha melhorado, esteja mais satisfeito, tenha reconstruído a vida", explica.

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