Pular aplicações de insulina faz com que o diabético emagreça, mas pode acarretar internações e até a morte.
Pular aplicações de insulina faz com que o diabético emagreça, mas pode acarretar internações e até a morte.| Foto: Bigstock

Diminuir, pular ou deixar de tomar insulina com o objetivo de perder peso, entre diabéticos de tipo 1, é como uma roleta-russa a que, principalmente, meninas adolescentes costumam recorrer. A prática pode acarretar risco à vida, ao descompensar os níveis de glicose.

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Porém, nestes jovens, transtornos alimentares como a bulimia nervosa – entre os seus tipos está a diabulimia, essa atitude de reduzir a aplicação de insulina para emagrecer – são de duas a três vezes mais frequentes. Esse tipo de transtorno é visto em jovens que iniciam o tratamento da diabete tipo 1 com insulina e acabam recuperando aquele peso perdido antes de diagnosticar a doença – um sinal de que a insulinoterapia está efetivamente funcionando.

“Mas ganhar um pouco mais de peso, dependendo de fatores individuais, como a dose de insulina e o plano alimentar estabelecido, também pode ser normal”, diz a endocrinologista Claudia Pieper, membro do Departamento de Educação em Diabetes da Sociedade Brasileira de Diabete, que tem um livro sobre o tema.

Soma-se a isso o fato de que muitas vezes os diabéticos não conseguem basear suas escolhas alimentares em sinais e desejos convencionais de fome, tendo de levar em consideração o equilíbro dos níveis de glicose no sangue, que podem estar baixos ou altos demais, provocando a vontade de comer muito, seguida de muita sede, quadros comuns na descompensação do diabetes. “Isso pode colaborar para um quadro de transtorno de compulsão alimentar que leva à insatisfação com o peso e imagem corporal, levando a pessoa a manipular a dose de insulina para perder peso”, diz.

Mecanismo envolvido

A insulina é um hormônio que permite que as células do corpo absorvam glicose (açúcar usado para energia) dos alimentos consumidos, ajudando a manter os níveis de glicose no sangue estáveis. Como na diabete tipo 1 a insulina não é produzida pelas células beta do pâncreas, se ela não for aplicada adequadamente, ocorre hiperglicemia. “Como consequência, elimina-se glicose pela urina (a glicosúria), levando à perda de calorias e de peso”, diz Claudia.

Entretanto, essa atitude põe em risco a saúde ao promover descompensação aguda da glicose (cetoacidose diabética), levando ao atendimento de emergência ou até à morte. “Em relação a danos silenciosos, a manutenção da hemoglobina glicada (média da glicemia nos últimos três meses) em níveis altos como maiores que 10% (acima da meta de bom controle, que é menor ou igual a 7%) faz com que, em poucos anos, surjam complicações crônicas precoces, sobretudo microvasculares: retinopatia, nefropatia e neuropatia diabética”, diz ela.

Também é bulimia

A diabulimia é uma espécie de bulimia nervosa, quando após a pessoa comer de modo compulsivo ou mais do que pensa que deveria comer, em um tempo menor do que o comum para outras pessoas, se utiliza de práticas “purgativas” como, nesse caso, deixar de aplicar a insulina corretamente, mas também apelar a vômitos, laxantes e diuréticos. 

Os transtornos alimentares são distúrbios marcados por alterações no comportamento alimentar, acompanhados de problemas físicos e psíquicos.

Diabéticos tipo 2

Se entre os de tipo 1 a diabulimia é frequente, entre os diabéticos de tipo 2 a compulsão alimentar está no topo dos transtornos, mas talvez mais como causa do que como efeito da doença.

“A ingestão de grandes quantidades de alimentos em pouco tempo e sem recorrer a práticas purgativas ou compensatórias causa o sobrepeso e obesidade, fatores de risco para a diabete tipo 2. Esse transtorno, então, precederia o aparecimento da doença”, diz.

Sinais a se atentar:

  • Sintomas depressivos, incluindo o humor triste
  • Baixa de energia
  • Falta de concentração
  • Cansaço fácil
  • Recusa a comer nos horários
  • Resistência ao ato de aplicar insulina na frente de outras pessoas
  • Diabetes sempre mal controlado
  • Deixar de fazer a monitorização da glicose com os testes de glicemia capilar (ponta de  dedo) ou a leitura do sistema flash de glicose intersticial
  • Pedir mudança frequentes no plano alimentar e não querer se pesar durante as consultas
  • Preocupar com a forma e peso corporal
  • Desenvolver baixa autoestima
  • Apresentar glicemias sempre altas sem explicação
  • Ter rendimento baixo na escola
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