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Deixar de tomar café pode ser sim uma das causas para alguns tipos de dor de cabeça.| Foto: Bigstock

É comum que quem ama um cafezinho reclame de dor de cabeça, tontura, fadiga e dificuldade para se concentrar quando fica sem a bebida. E não é frescura: os médicos chamam isso de “abstinência à cafeína”, uma espécie de ressaca que o nosso cérebro cria quando não encontra a substância disponível.

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“A cafeína age como um psicoestimulante não só para o sistema nervoso central, mas também para o coração e acaba melhorando a performance mental e o estado de alerta”, diz o neurologista Paulo Faro, do Hospital INC, em Curitiba. Pelo que explica, os sintomas nada mais são do que um efeito rebote.

Segundo o especialista, isso acontece com mais frequência em quem consome, regularmente, pelo menos 200 mg de café por dia – o equivalente a duas xícaras de 150 ml ou a seis copinhos de plástico daqueles descartáveis. “Um dia que a pessoa fique sem tomar café, ela já pode ter cefaleia, irritação, palpitação e até insônia”, aponta.

Exceção

Só que nem todo mundo que toma café todos os dias sofre essas consequências. Um estudo conduzido pela professora Fabiola Dach, do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento da USP, mostrou que há exceções.

“O nosso estudo foi pegar pessoas que fazem o uso de café rotineiramente e que tinham queixa de dor de cabeça até três vezes ao mês. Queríamos ver quais delas faziam abstinência e o quanto elas consumiam de café por dia”, descreve. 

A primeira coisa que eles perceberam é que os sintomas de abstinência podem vir tanto pela total ausência quanto apenas pela redução do consumo de cafeína. “Se o indivíduo costuma tomar duas xícaras de café por dia e toma uma, ele já pode ter dor de cabeça”, comenta a professora.

Pelo que afirma, a quantidade de café necessária para “criar” a ressaca também não é igual para todas as pessoas. “A gente viu que aqueles que faziam abstinência consumiam, em média, 90 mg de café por dia. Diferentemente da classificação internacional, que considera pessoas que consomem 200 mg/dia como mais suscetíveis às crises”, destaca.

Os pesquisadores notaram, ainda, que não houve diferença quanto às reações entre aqueles participantes que têm histórico de enxaqueca e os que não têm.

Resultado

Das 79 pessoas que participam do experimento da USP, menos da metade (40%) apresentaram dor de cabeça quando deixaram de tomar café e apenas 30% delas melhoraram imediatamente após voltarem a consumir a bebida. “Ou seja, na maioria dos indivíduos a dor de cabeça não passou. Ela persistiu”, resume a professora Fabiola, indicando que haviam outras causas envolvidas no mal-estar.

Consumo

Consumido por 78% dos brasileiros ouvidos pelo IBGE, entre 2017 e 2018, o café tem sido objeto de outros estudos observacionais, que mostram efeitos benéficos à saúde. “No cérebro, especificamente, ele parece reduzir o risco (a longo prazo) de quadros depressivos e de doença de Parkinson”, garante Octávio Pontes Neto, neurologista e professor da faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto.

Segundo ele, também há indícios de reações positivas no sistema cardiovascular e redução no risco de câncer, sobretudo hepático. “Além disso, ele causa saciedade, uma tendência à redução de peso e uma mudança no metabolismo dos lipídios no corpo”, completa.

E se engana quem pensa que a cafeína está presente só no café. Ela também aparece nos energéticos e estimulantes, em chás do tipo mate, alguns chocolates (especialmente os mais amargos) e em menores quantidades em refrigerantes de cola e guaraná. A diferença nutricional está nos ingredientes que a acompanham nesses produtos.

“Muitas vezes a cafeína vem associada a outras substâncias que podem tornar o efeito 'devastador', como no refrigerante que tem grande quantidade de açúcar”, ressalta Neto. Por isso, o café acaba sendo a fonte mais “pura” de cafeína, pode-se dizer assim.

Quantidade ideal

Mas qual seria a dose ideal de café para ser consumida? “Todos os estudos que mostram os efeitos benéficos se baseiam numa ingestão que vai de três a quatro xícaras pequenas por dia, algo que daria, no máximo, 300 mg de cafeína”, responde o professor da USP e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Doenças Cerebrovasculares.

O consumo excessivo de café pode interferir em tratamentos contra cefaleias, alterar a mobilidade do trânsito gastrintestinal (e, com isso, piorar problemas gástricos como úlcera e gastrite), além de agravar quadros de ansiedade e de insônia. “Para os pacientes com enxaqueca que chegam ao meu consultório, eu recomendo cafeína zero até a situação estar controlada”, relata o neurologista Paulo Faro.

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