O presidente americano Donald Trump retira a sua máscara ao chegar na Casa Branca, depois de ser liberado do hospital militar Walter Reed, onde estava para tratamento de Covid-19. Trump teve alta por volta das 19h30, horário de Brasília.| Foto: Nicholas Kamm/AFP
Ouça este conteúdo

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deixou o hospital na noite desta segunda-feira (5) após passar três noites internado para tratamento de Covid-19. Durante o tempo em que o republicano esteve hospitalizado, os médicos que o atenderam informaram que o paciente estava passando "muito bem", embora tenham confirmado que ele precisou de suplementação de oxigênio em duas ocasiões, sem entrar em detalhes sobre os as funções pulmonares de Trump.

CARREGANDO :)
CARREGANDO :)

Os médicos da Casa Branca também detalharam o tratamento recebido por Donald Trump, que incluiu uma dose de anticorpos monoclonais e medicação com o antiviral remdesivir. No domingo, o presidente iniciou o tratamento com dexametasona, um medicamento usado apenas em casos mais graves de infecção pelo coronavírus. Nesta segunda-feira, o médico Sean Conley informou que Trump recebeu uma terceira dose do antiviral remdesivir e continua a tomar dexametasona.

A dexametasona é um corticoesteroide recomendado apenas para pacientes hospitalizados que precisam de ventilação mecânica ou de outras formas menos invasivas de oxigênio complementar. A droga tem o objetivo de conter a inflamação desenfreada do organismo e pode piorar o quadro de Covid-19 dos pacientes que estão nas fases iniciais da doença, com sintomas leves. Isso acontece porque a dexametasona atua justamente reduzindo as defesas do sistema imunológico, e isso abre caminho para uma maior replicação do vírus.

Publicidade

Estudos mostraram que o uso da dexametasona e de outros corticoides reduz a mortalidade de pacientes graves hospitalizados com Covid-19. "Mas ela não serve para todos os pacientes", ressalta o médico intensivista Cauê Silva de Azevedo Lima, do Hospital São Vicente. "Funciona para os pacientes que têm baixo nível de oxigênio no sangue. A maioria da população [se contrair o novo coronavírus] não vai ter esse sintoma e não vai precisar da dexametasona".

No Brasil, o remdesivir, antiviral usado por Trump, por enquanto só tem autorização para uso em estudos clínicos. Nos Estados Unidos, o FDA emitiu autorização para o uso emergencial da droga. O medicamento mostrou redução no tempo de internação de pacientes com Covid-19, mas não causou redução na mortalidade, segundo estudos. "Aquela pessoa que iria evoluir para óbito, mesmo usando remdesivir acaba evoluindo para óbito", explica Azevedo Lima.

Ainda assim, a redução de dias de internamento é importante no contexto da pandemia, pois significa leitos liberados mais rapidamente para os próximos pacientes.

Já os anticorpos monoclonais ainda estão sendo testados para o tratamento de Covid-19, mas os resultados preliminares foram promissores. Nos EUA, o tratamento exige uma autorização caso a caso para o uso do tratamento.

Sem hidroxicloroquina

Desde o início da pandemia, o presidente Donald Trump defendeu em diversas momentos o uso da hidoxicloroquina para o tratamento da Covid-19, e chegou a dizer que estava tomando o medicamento para se proteger do coronavírus. No entanto, Trump aparentemente não usou o medicamento quando foi infectado. Os médicos do presidente americano não comentaram o motivo de não terem administrado o medicamento nesse caso. Sean Conley, chefe da equipe médica, já era o médico da Casa Branca quando Trump informou, em maio, que estava tomando hidroxicloroquina de forma profilática.

"Do ponto de vista científico, temos bastante estudos com boa metodologia mostrando que a hidroxicloroquina não traz benefícios", descreve Azevedo Lima, explicando que na sua rotina de cuidados de pacientes na Unidade de Tratamento Intensivo, não prescreve o medicamento em nenhuma das fases da doença, porque, segundo ele, não há dúvidas de que não há benefícios da hidroxicloroquina para doentes graves de Covid-19.

O especialista diz que existem ainda algumas dúvidas sobre os benefícios da hidroxicloroquina em fases muito iniciais da doença, enquanto o vírus está se replicando. "Provavelmente o medicamento não ajuda, mas isso é discutido também na relação médico-paciente. Existem pacientes que acreditam, e eventualmente o medicamento é usado em fases bem iniciais da doenças, em pacientes sem gravidade", diz.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
Publicidade

Médico e paciente

O médico intensivista Cauê Azevedo Lima lembra que cada tratamento de uma doença deve ser discutido entre o médico e o paciente. "Nenhum tratamento é igual ao outro; nenhum paciente é igual ao outro. O risco e o benefício de cada tratamento são únicos. Nunca é simples para nós decidirmos qual medicamento usar", diz o médico, explicando que a decisão exige o que se chama de "beira de leito", ou a conversa individual entre médico e paciente.

Para ele, um conselho fundamental é "manter o bom senso na hora de escolher o que tratar e como tratar".

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]