A Turquia anunciou eficácia de 91% da Coronavac a partir de análise preliminar dos dados de 10% dos participantes dos testes.
O Ministério da Saúde da Turquia apresentou dados preliminares da eficácia da vacina contra Covid-19 CoronaVac, que também está sendo testada no Brasil| Foto: Bigstock

O índice de eficácia de 91,25% da Coronavac verificado em estudos clínicos na Turquia é resultado de uma análise preliminar dos dados feita com uma amostra de apenas 10% dos voluntários esperados, confirmou o pesquisador turco Murat Akova, investigador principal dos testes clínicos com a vacina contra a Covid-19 no país.

O dado de eficácia foi apresentado na véspera do Natal pelo ministro da Saúde da Turquia e divulgado pela imprensa local sem muitos detalhes sobre a metodologia.

A apresentação ocorreu um dia depois de o Instituto Butantan, responsável pelos testes e pela produção no Brasil da vacina Coronavac, desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac, afirmar que não poderia divulgar seus dados por determinação da companhia asiática. Nova análise deve ser concluída até dia 7.

Em entrevista por e-mail, Akova esclareceu que a eficácia da Coronavac na Turquia foi calculada a partir de uma análise interina (feita quando os testes ainda estão em andamento) com dados de 1.322 voluntários (a pesquisa vai recrutar ao todo 13 mil voluntários). Foram confirmados na amostra 29 casos de Covid-19, dos quais 26 ocorreram no grupo que recebeu o placebo e somente 3 no grupo vacinado. "Foi uma análise interina feita por um comitê independente de revisão de dados", afirmou o pesquisador, que também é professor da Escola de Medicina da Universidade Hacettepe.

No estudo do Brasil, do qual se sabe apenas que a vacina teve eficácia maior do que a recomendada pela OMS (50%), o número mínimo de infecções entre os voluntários que permitiria análise interina era de 64 casos, segundo informou o Butantan. Já a análise final só poderia ser feita com mais de 151 casos da doença. Atualmente, o estudo brasileiro já registrou mais de 170 voluntários contaminados. Pelas informações dadas por Akova, é provável que os dados do Butantan estejam mais próximos do índice final de eficácia já que a amostra brasileira é maior.

De acordo com o Butantan, China, Turquia e Indonésia já liberaram o uso emergencial do imunizante. Na China, inclusive, estima-se que mais de 390 mil pessoas tenham recebido as duas doses da vacina, segundo o instituto.

Coronavac: o que sabemos?

Até o momento, não há dados de eficácia da Coronavac, mas os desenvolvedores já divulgaram os números de imunogenicidade da vacina. Esta se refere à capacidade do imunizante de provocar uma resposta do sistema imunológico, produzindo anticorpos.

No caso da vacina desenvolvida pela Sinovac, verificou-se uma imunogenicidade de 97%. Os dados foram publicados na revista científica Lancet, no dia 17 de novembro, que indicaram, ainda, a segurança do imunizante.

A Coronavac utiliza de uma estratégia de ação clássica na produção de vacinas, que é o uso do vírus inativado. A vacina da gripe (influenza), por exemplo, usa da mesma abordagem.

Para a produção deste tipo de imunizante, os pesquisadores replicam o novo coronavírus em grandes quantidades, em laboratórios de alta segurança. Depois, por meio de processos físico-químicos, seja pelo calor ou pelo uso de substâncias químicas, os tornam inativos - incapazes de gerar a doença.

Esse vírus inativado é incorporado à vacina, que é aplicada. Dentro do organismo, ele servirá como uma "carcaça" que vai ensinar o sistema imunológico a se defender, e a proteger contra o microrganismo.

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