Adaptações de passageiros e de companhias aéreas serão necessárias para reduzir o risco de contaminação durante o voo.
Adaptações de passageiros e de companhias aéreas serão necessárias para reduzir o risco de contaminação durante o voo.| Foto: Jason Toevs/Pexels

Em março, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou que a disseminação do novo coronavírus deveria ser tratada como uma pandemia, países ao redor do mundo tomaram medidas para reduzir o risco de a doença chegar as suas populações. A primeira delas foi o fechamento das fronteiras.

Sem a possibilidade de ir e vir, voos foram cancelados, hotéis restringiram o número de hóspedes e toda a cadeia turística teve de passar por mudanças que ainda estão em andamento. Em um editorial publicado no início de setembro, a revista científica Lancet Infectious Diseases descreve um aspecto ainda incerto: como serão as viagens aéreas no futuro — e o impacto delas na saúde dos passageiros.

Novas regras já são vistas, como:

  • Uso das máscaras nos aeroportos e durante os voos;
  • Aumento na limpeza dos espaços públicos para reduzir a presença do vírus nas superfícies;
  • Distanciamento de, pelo menos, dois metros entre pessoas;
  • Higienização constante das mãos.

Ainda assim, novas adaptações poderão ser incorporadas.

"Espera-se que muitas companhias aéreas cortem serviços como as refeições, bebidas e revistas gratuitas, não tanto por razões econômicas, mas como forma de limitar os pontos de toque das mãos, que são vias de transmissão do Sars-CoV-2 devido a proximidade física entre passageiros e tripulação. Testagem rápida para a Covid-19, tanto para tripulação quanto para passageiros, pode se tornar um recurso frequente. Aumentar a limpeza e higienização será norma. Uso de máscaras e de outros equipamentos de proteção será mais comum. Tecnologias sem toque vão reduzir as interações humanas e facilitar pagamentos e processos associados às viagens", destacam os autores do editoral na revista científica.

Prepare-se, tudo vai mudar

Apesar de o risco de ser infectado por alguma doença transmissível, como a influenza (gripe), durante uma viagem de avião sempre ter existido, a Covid-19 deixou as pessoas mais atentas a essa ameaça. Os autores do editorial da revista Lancet comparam o momento atual com as adaptações nos aeroportos depois dos atentados terroristas de 11 de setembro, nos Estados Unidos.

"A pandemia da Covid-19 pode similarmente redefinir o que é normal para os viajantes, com um resultado potencialmente positivo de reduzir o risco de transmissão de muitas outras infecções, além da Covid-19", destacam.

Para tanto, uma das medidas que deverá ser incorporada daqui para frente — pelo menos até que uma vacina eficaz seja aprovada e distribuída — será a testagem de passageiros e tripulação antes de cada voo, de acordo com Tania Chaves, médica infectologista, pesquisadora em Saúde Pública, docente da faculdade de Medicina da Universidade Federal do Pará e do Centro Universitário do Estado do Pará.

"Algumas empresas aéreas vão exigir que os indivíduos realizem os testes mais próximos do ideal, que são os RT-PCR [exame que identifica a presença do vírus naquele momento], e isso embarga em vários aspectos. Quem vai subsidiar esses testes? Em quanto tempo eles vão sair? Já tivemos um momento em que os resultados demoravam até 10 dias", explica a médica, que também é vice-presidente da Sociedad LatinoAmericana del Viajero e coordenadora do Comitê de Medicina de Viagem e do Comitê de Medicina Tropical da Sociedade Brasileira de Infectologia.

A Associação Brasileira das Empresas Aéreas lista orientações aos passageiros das mudanças que estão sendo incorporadas à rotina da viagem aérea, como por exemplo:

  • Incentivo ao check-in online, antes da ida do passageiro ao aeroporto;
  • Uso de máscara por passageiros e tripulação durante todos os momentos;
  • Fila no embarque apenas quando o grupo do qual o passageiro faz parte for chamado - e mantendo o distanciamento;
  • Álcool em gel permitido dentro do avião. Em voos nacionais, até 500 mL. Em voos internacionais, 100 mL. Não será permitido álcool líquido, apenas em gel;
  • Serviço de bordo simplificado, com vendas de produtos suspensas. Caso o passageiro precise de água, receberá em um copo descartável lacrado. Em viagens longas, as refeições serão servidas em embalagens individuais, fechadas e previamente higienizadas e que serão entregues no embarque;
  • No momento do desembarque, passageiros não deverão ficar em pé na hora do pouso, para evitar a aglomeração das pessoas;
  • Quando for buscar as bagagens nas esteiras, o distanciamento será necessário.

Riscos

Viajar, por enquanto, ainda é arriscado, segundo Tania, apesar de todos os cuidados que estão sendo tomados. "Sabemos que os aviões contam com o sistema de filtro do ar de alta eficiência, em que mesmo partículas do tamanho do novo coronavírus podem ser filtrados. Mas não podemos nos esquecer de casos que foram atribuídos à viagem aérea, e que ainda não foram totalmente elucidados, ou como o cruzeiro que parou no Japão com mais de 800 casos a bordo", destaca.

"Para longas distâncias, que exigem meios de transporte como o avião, se a viagem não for essencial, ainda é o momento para adiar, aguardar e vermos como vão caminhar os resultados dos ensaios clínicos de fase 3 das vacinas" - Tania Chaves, médica infectologista.

Viagens menos arriscadas

Entre viajar de avião, ônibus, trem ou outro meio de transporte que reúna uma quantidade significativa de pessoas versus o uso do carro, o automóvel acaba sendo uma opção menos arriscada. No entanto, segundo o alerta da médica infectologista, esse não é o único fator a ser levado em consideração na hora de decidir por viajar ou ficar em casa.

"Nesse momento da pandemia, em que todo mundo tem a informação na palma da mão, as pessoas devem buscar detalhes sobre como está o seu estado. Saber o número de casos, de leitos ocupados, se está estável ou não. Por mais que a pessoa queira aproveitar o fim de semana em uma instância hídrica, um hotel fazenda, ela acabará encontrando outras pessoas. A doença se deslocou pelo mundo justamente pelas viagens das pessoas. O cenário ainda está instável e precisaremos fazer esse exercício [de pesar os riscos]", destaca.

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