Mesmo após os 60 anos de idade, a cirurgia bariátrica pode ser indicada para alguns pacientes específicos
Mesmo após os 60 anos de idade, a cirurgia bariátrica pode ser indicada para alguns pacientes específicos.| Foto: Bigstock

A cirurgia bariátrica – procedimento que reduz o tamanho do estômago para o controle do peso – costumava ter como limite de idade os 60 anos. Hoje, a barreira não leva em consideração tanto a idade, mas o paciente que se encontra entre os idosos precisa atender a alguns critérios específicos.

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Além dos conhecidos Índice de Massa Corporal (IMC) acima de 40 (ou 35 a 40 com comorbidades; 30 a 35 com comorbidades graves), as pessoas acima dos 65 anos devem passar por uma avaliação multiprofissional para verificar se há doenças crônicas associadas e se elas aumentariam o risco inerente à cirurgia.

"Até os 65 anos, não há restrição. Acima de 65 anos, tem que ser mais criterioso com relação às doenças associadas. Uma pessoa com 70 anos pode fazer, desde que seja liberada pelo cardiologista, endocrinologista, entre outros profissionais. A cirurgia nunca pode ser mais agressiva do que a doença", detalha Caetano Marchesini, cirurgião bariátrico e diretor científico da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica.

Embora o risco associado ao procedimento seja baixo, visto que é uma cirurgia por videolaparoscopia, que dura em torno de uma hora e meia, pacientes muito debilitados podem não ser liberados, segundo Jacqueline Rizzolli, médica endocrinologista e membro da diretoria da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso).

"Se for um paciente que já passou por inúmeros infartos ou acidente vascular cerebral, ou passou por um câncer recentemente, aí temos critérios que aumentam o risco cirúrgico e é preciso avaliar muito bem", exemplifica a especialista, que também é médica do Centro de Obesidade e Síndrome Metabólica do Hospital São Lucas da PUCRS.

Controle das doenças com a bariátrica

A obesidade está por trás de outras doenças debilitantes, como hipertensão e diabete, e entrar na terceira idade com essas condições pode reduzir até 15 anos da expectativa de vida, segundo Marchesini.

"As pessoas chegam aos 60, 65 anos precisando tomar muitos medicamentos e, muitas vezes, com incapacidade física devido a problemas articulares, quadril, coluna, joelhos. Lógico que, quanto antes operar, melhor. Mas não podemos tirar da pessoa que está entrando na terceira idade a oportunidade de recuperar o tempo perdido", explica o cirurgião.

Segundo a médica endocrinologista, dependendo do tipo de doença que o paciente apresenta, os benefícios podem ser maiores do que a perda de peso. "Diabete é uma doença que o benefício da cirurgia costuma ser muito bom, principalmente se é uma pessoa diabética há menos de 10 anos e se faz tratamento só com medicações na forma de comprimidos, e não toma insulina. Muitos acabam normalizando o nível de glicose e dispensando o uso da medicação", diz Rizzolli.

No caso de pacientes com histórico de infarto, isquemia cerebral ou insuficiências renal ou cardíaca, o risco cirúrgico aumenta, e a intervenção pode não compensar. "Cada caso tem que ser bem avaliado. A avaliação desse paciente extremo de faixa etária é tão complexa quanto a feita para um obeso adolescente. Precisa ter uma atenção especial para orientar muito bem e ver o quanto ele vai se beneficiar", reforça a endocrinologista.

Mais mulheres

Seja qual for a faixa etária, os especialistas destacam que as mulheres são as que mais procuram pelo procedimento cirúrgico, seja por uma questão estética, seja pela maior preocupação com a saúde. Homens, em geral, chegam após um "susto".

"Dos nossos pacientes bariátricos, de qualquer idade, 86% são mulheres. Isso é bem compreensível, porque elas têm esse perfil de buscar mais uma atitude preventiva. Homens são mais medrosos, chegam só quando já infartaram e o médico orienta a fazer algo ou terá consequências. Mulheres já são mais preocupadas, buscam quando são diagnosticadas com hipertensão ou diabete, são mais conscientes", explica Marchesini.

Rizzolli lembra também de outro fator que influencia na diferença dos perfis de pacientes. "A longevidade da mulher também é maior, e às vezes o paciente mais velho que vai nos procurar para a cirurgia e que vai ter melhor condição para se submeter ao procedimento é do grupo das mulheres. Homens não chegam nessa faixa etária quando têm um quadro de obesidade grave."

Recuperação mais rápida

Em geral, as pessoas mais velhas tendem a tolerar melhor a recuperação da cirurgia e o tempo até voltar a uma vida normal não passa de 30 dias. De acordo com Marchesini, as atividades diárias podem ser retomadas depois de duas semanas e, no caso da alimentação, após um mês.

"Vejo muitos pacientes depois dos 60 anos com uma disposição muito grande após a cirurgia. Muitos se ajoelham no chão, correm com os netos no parque, viajam pelo mundo. Em geral, o idoso é aposentado e tem uma condição financeira melhor do que os mais jovens."

Fiz a bariátrica jovem, e agora estou idoso

Apesar de a cirurgia bariátrica ter se iniciado na década de 1950, os procedimentos se popularizaram no início dos anos 2000. Pessoas que passaram pela cirurgia naquela época estão próximas ou entraram na chamada terceira idade. Para elas, há cuidados importantes a serem seguidos.

"Para todos os pacientes é fundamental que sigam em acompanhamento com pelo menos uma consulta anual, ou semestral. Independentemente da técnica usada na cirurgia, todos vão precisar de suplementação de minerais e vitaminas pelo restante da vida. No caso do paciente idoso, isso é ainda mais importante", destaca a médica endocrinologista.

Rizzolli exemplifica o caso de uma mulher que, feita a cirurgia com 48 anos no início da década 2000, hoje teria 68 anos. "Essa paciente já entrou na menopausa, teve alterações hormonais, pode ter osteoporose. Se as alterações forem bem acompanhadas, é igual a um paciente não operado. Mas caso tenha abandonado o acompanhamento, isso pode acarretar riscos", alerta.

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