Risco de demência ganha três novos fatores evitáveis
Agora são 12 os comportamentos modificáveis envolvidos em até 40% dos casos| Foto: Bigstock

Cerca de 50 milhões de pessoas vivem com demência em todo o planeta, número que pode triplicar em 30 anos segundo o Relatório Mundial sobre Alzheimer publicado há dois anos. Em um update da Comissão de Demência da Lancet, publicado pela revista no fim de julho, além dos nove fatores elencados na edição anterior, em 2017, pela mesma comissão, mais três fatores seriam considerados elementos evitáveis, relacionados a 40% dos casos de demência no mundo.

Segundo o relatório, somam-se a ingestão excessiva de álcool, o traumatismo craniano na meia-idade e a exposição à poluição do ar na vida adulta aos fatores elencados anteriormente: ter menor nível educacional, hipertensão, deficiência auditiva, tabagismo, obesidade, depressão, inatividade física, diabete e baixo contato social.

Sobre o álcool, é sabido que aumenta o risco de demência, mas não se sabe se há uma associação direta ou se ele é apenas um dos muitos fatores envolvidos, segundo o geriatra Clovis Cechinel. “Quem bebe demais têm maior tendência a fumar, a ter hábitos menos saudáveis e a ter depressão, que aumentam o risco de demência”, diz ele, alertando que influenciam nesses quadros questões relacionadas ao meio (determinantes sociais, fatores físicos e estrutura social) e biológicas (inflamação, estresse oxidativo, aterosclerose e neurodegenração).  

Apesar dessa indeterminação, segundo o médico geriatra Vitor Last Pintarelli, da Fundação de Apoio e Valorização do Idoso e professor do curso de medicina da UFPR, a medicina reconhece há décadas a relação entre consumo excessivo de bebidas alcoólicas e doenças neurológicas, como a encefalopatia de Wernicke, que se caracteriza pelo comprometimento da cognição.

Além da bebida alcoólica, traumatismos cranianos na meia-idade também são fatores evitáveis para quadros demenciais no futuro, segundo Pintarelli. “Entre as causas mais comuns de traumas nessa faixa etária estão acidentes domésticos, quedas, traumas automobilísticos, situações de agressão física e violência”, diz ele.

Países mais pobres

A comissão do Lancet também aponta a influência da renda no maior número de casos de demência, seja direta ou indiretamente, em países e populações mais pobres – que também são os que passam por um veloz envelhecimento da população.

“Com menor acesso a recursos de saúde e, de modo geral, com menor controle do desenvolvimento de doenças silenciosas como hipertensão, diabete e outras que contribuem para doenças circulatórias – assim como o acompanhamento precário delas –, ocorre maior vulnerabilidade a demências”, diz Pintarelli.

Segundo Cechinel, o Alzheimer, por exemplo, afeta pessoas de diferentes classes sociais, porém tendo a baixa escolaridade como um dos fatores de risco para o surgimento de demências após os 60 anos. “Isso ocorre porque o ensino formal contribui para a criação de redes neurais mais complexas e estimula o cérebro a elaborar uma reserva funcional maior que será gasta ao longo da vida. Maior escolaridade, prevenção e controle de outros fatores tem contribuído para estagnar a incidência dessa doença nos países desenvolvidos”, diz ele.

Sociabilização

Ter uma vida social também influencia no aparecimento ou não de quadros demenciais, segundo Pintarelli, que diz que há estudos que apontam que indivíduos com quadros depressivos teriam maior tendência a desenvolver quadros demenciais. “Há estudos que relacionam também a deficiência auditiva grave ao risco maior de desenvolver mal de Alzheimer“, diz ele.

Recomendações

Os autores do relatório do Lancet indicam atitudes que podem prevenir a demência:

  • Procure manter a pressão arterial sistólica de 130 mm Hg ou menos na meia idade a partir dos 40 anos de idade;
  • Incentive o uso de aparelhos para perda auditiva e reduza a perda protegendo os ouvidos contra altos níveis de ruído;
  • Reduza a exposição à poluição do ar e ao fumo passivo de tabaco;
  • Previna lesões na cabeça (por atividades de alto risco e em transporte);
  • Evite o uso indevido de álcool e limite o consumo a menos de 21 unidades por semana;
  • Pare de fumar e apoie os indivíduos a parar de fumar;
  • Proporcione a todas as crianças educação primária e secundária;
  • Leve uma vida ativa até o quanto conseguir;
  • Reduza a obesidade e diabetes.

Sintomas

Alguns sinais indicam que o paciente pode estar entrando em quadro demencial:

  • Falta de memória para acontecimentos recentes;
  • Repetição da mesma pergunta várias vezes;
  • Dificuldade para acompanhar conversações ou pensamentos complexos;
  • Incapacidade de elaborar estratégias para resolver problemas;
  • Dificuldade para dirigir automóvel e encontrar caminhos conhecidos;
  • Dificuldade para encontrar palavras que exprimam idéias ou sentimentos pessoais;
  • Irritabilidade, desconfiança injustificada, agressividade, passividade, interpretações erradas de estímulos visuais ou auditivos, tendência ao isolamento.
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