Sequelas da Covid-19 podem aumentar riscos de arritmias cardíacas entre pacientes que tiveram formas moderadas a graves| Foto: Bigstock
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Quem passou pela Covid-19 e acabou desenvolvendo uma forma moderada ou grave da doença precisa ter o coração avaliado por um especialista em medicina do exercício e do esporte ou cardiologista antes de voltar à rotina de exercícios físicos. Essa é a recomendação da Sociedade Brasileira de Cardiologia e da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte, e se baseia nas lesões cardíacas que a inflamação pelo Sars-CoV-2 pode gerar.

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Uma delas são as miocardites, ou inflamações do músculo do coração. Outra é a formação de coágulos nos vasos sanguíneos, com o desencadeamento de isquemias, ou a redução na oxigenação, que podem atingir as células do coração. Sem perceberem tais mudanças, os pacientes que voltam a um ritmo intenso de exercícios podem ter consequências mais graves.

"Existe um risco real de a pessoa fazer exercícios e isso induzir uma piora na evolução da miocardite ou fazer uma arritmia ventricular, que pode se manifestar, inclusive, como morte súbita. Esse seria o risco, assumindo que a pessoa teve uma Covid-19 grave que comprometeu o coração e levou à miocardite", explica Miguel Morita Fernandes da Silva, médico cardiologista, professor de Cardiologia da UFPR, atuando na Quanta Diagnóstico por Imagem e diretor científico da Sociedade Paranaense de Cardiologia.

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Covid-19 moderada a grave

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Embora no início se achava que todas as pessoas com Covid-19 teriam o mesmo risco, ao longo da pandemia os especialistas perceberam que quem desenvolveu a doença de forma leve, com pouco ou nenhum sintoma, tende a evoluir bem, sem lesões cardíacas. No caso de quadros moderados, que exigiram o uso de oxigênio ou internamento, e graves, com necessidade de cuidados nas UTIs, é preciso mais atenção.

"As evidências que estão se construindo [mostram que] não é comum. Não é todo mundo que teve Covid-19, principalmente leve, que vai ter problemas no coração. Isso é incomum", explica o especialista, que detalha os sinais que podem indicar maior risco:

  • Alterações nas enzimas cardíacas, como a troponina, durante o período agudo da Covid-19;
  • Mesmos fatores de risco para Covid-19 mais grave, como diabete, hipertensão, cardiopatias, obesidade, entre outros.
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"Tudo isso aumenta o risco da Covid-19 mais grave e, com isso, aumenta também a chance de ter lesão cardíaca", reforça Silva.

Com relação aos casos leves, o cardiologista explica que os exercícios podem ser liberados, desde que a pessoa observe os próprios sintomas. "Se começar a ter dor no peito ou falta de ar fora do comum, isso deve chamar atenção. A Covid-19 acaba confundindo muito com sintomas cardíacos, mas um dos aspectos que pode ser sinal de problema cardíaco é quando a pessoa não consegue se deitar, pois sente falta de ar nesse momento e precisa ficar sentada", descreve.

Tipo de exercício

Quanto mais intenso for o exercício físico, maior o risco em desencadear uma complicação entre pessoas que estejam predispostas a isso, lembra Marcelo Leitão, médico especialista em Medicina do Exercício e do Esporte e em Cardiologia, e diretor da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte.

"Não é a modalidade [do exercício que importa mais], mas a intensidade. E a intensidade é muito relativa. Uma caminhada a 5 km/h pode ser uma coisa fácil, muito leve, para uma pessoa bem condicionada, e pode ser uma atividade moderada, ou até intensa, para uma pessoa mais idosa", explica o também coordenador do módulo de Cardiologia do Exercício e do Esporte na pós-graduação do CEFIT — Centro de Estudos de Fisiologia do Exercício e Treinamento.

Mas mesmos os atletas precisam de atenção especial, de acordo com o cardiologista Miguel Morita. "O atleta que faz competição, que tem um treinamento sistemático, ele já faz avaliação periódica, e nesse caso é importante conversar com o médico da equipe para voltar com mais segurança."

Avaliação

O primeiro passo da avaliação médica consiste em uma conversa com o paciente para identificar sintomas e, se for necessário, alguns exames, como o eletrocardiograma ou a medida da troponina — enzima liberada na circulação sanguínea quando existe alguma lesão no coração.

Em casos mais graves, o paciente pode precisar de avaliações mais detalhadas, com exames de esforço físico ou até mesmo uma ressonância do coração. Mas nem sempre serão necessários, e a avaliação cabe ao médico.

"Os exames variam de acordo com a gravidade e com as características que são encontradas durante a avaliação médica", resume Marcelo Leitão, especialista em Medicina do Esporte e do Exercício e em Cardiologia.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]

Repouso

Uma vez avaliados os pacientes e diagnosticadas as lesões, em alguns casos pode ser preciso um tratamento para evitar complicações mais graves. "No caso da miocardite, temos medicamentos que evitam a progressão da inflamação, porque ela pode levar a um enfraquecimento do órgão", explica Miguel Morita, cardiologista.

Outra ação é monitorar o paciente mais de perto, e reduzir os exercícios por um tempo. "A gente proíbe os exercícios dependendo do caso, ou orienta para o melhor tipo de exercício que pode fazer, e durante qual período", destaca.

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