Falar mal do pai ou da mãe de uma criança e inventar falsas denúncias da pessoa “bloqueia" lembranças positivas vividas com ela.
Falar mal do pai ou da mãe de uma criança e inventar falsas denúncias da pessoa “bloqueia” lembranças positivas vividas com ela.| Foto: Bigstock

“Seu pai só nos fez sofrer”, “sua mãe não presta” e “ele ou ela nunca te amou” são algumas afirmações que pais e mães acabam dizendo aos filhos durante difíceis processos de divórcio ou após a separação. “Eles tentam destruir a imagem do outro genitor e usar a criança como meio de causar mais dor e danos”, explica a doutora em saúde da criança e do adolescente Luci Yara Pfeiffer, ao alertar que isso traz prejuízos à saúde física e mental dos envolvidos.

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Segundo a médica, que atua como secretária do Departamento de Segurança da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), falar mal do pai ou da mãe de uma criança e inventar falsas denúncias a respeito da pessoa faz com que o filho “bloqueie” lembranças positivas que viveu com aquele familiar.

Dessa forma, memórias felizes são cobertas por imagens negativas, o distanciamento aumenta e essa criança muda de comportamento quando está com aquele genitor, ficando irritada e negando participar de atividades que gostava. “É a síndrome da alienação parental, um distúrbio em que os filhos embarcam em uma campanha de difamação contra a pessoa odiada”, aponta Luci, explicando que isso gera sofrimento psíquico e é proibido pela Lei 12.318.

“Principalmente no caso de falsas denúncias, como de violência sexual, quando a criança é obrigada a repetir a história trazida pelo alienador até acreditar que aquilo teria sido verdade”, aponta a secretária da SBP. Além disso, a alienação “pode ser induzida por um dos pais ou ainda por avós ou outra pessoa que tenha a criança ou adolescente sob sua autoridade”, completa.

Prejuízo maior com os filhos

Para essas atitudes, a psicóloga jurídica Krícia Frogeri Fernandes afirma que as sanções jurídicas ocorrem em forma de advertência e até de mudanças relacionadas à guarda. No entanto, o maior prejuízo, segundo ela, recai sobre a saúde emocional dos filhos. “Eles sofrem muito, veem um processo ser aberto atrás do outro e passam anos frequentando o tribunal, enquanto são privados da convivência familiar”, lamenta.

Com isso, costumam apresentar ansiedade, sintomas depressivos, doenças psicossomáticas e dificuldades de relacionamento. “Fora problemas na escola e sentimentos de insegurança e baixa autoestima”, comenta Kricia, que lida com essas situações diariamente no trabalho como psicóloga na Vara de Família e na Vara da Infância e Juventude. Inclusive, “vejo como esses casos de alienação parental têm crescido de forma exponencial e gerado desgaste em toda a família”, alerta.

Como prevenir?

Por isso, ela incentiva pai, mãe e outros envolvidos a compartilharem de forma real o cuidado com os filhos dentro do casamento. “Não adianta simplesmente participar dos períodos de lazer, mas ambos devem dividir esses cuidados no dia a dia”.

De acordo com ela, isso fortalece o vínculo e faz com que o filho tenha proximidade com pai e mãe, evitando que o menino seja mais próximo do homem ou que a menina “goste mais” da companhia materna, por exemplo. “Isso porque essas situações de alinhamento do filho com um dos genitores acontecem e, em situações de separação e de disputa de guarda, acabam influenciando”.

Esse é um dos motivos, de acordo com a psicóloga, que tornam o assunto da alienação parental complexo, já que “na cabecinha da criança, é possível ela se identificar com quem teria sofrido mais no casamento ou com uma possível vítima da separação”.

Isso, somado aos comentários negativos que ouve a respeito do pai ou da mãe, torna a situação do divórcio ainda mais difícil para “essa criança ou adolescente, que agora vê sua família destruída, passa a ser usado como instrumento de dano ao outro e, muitas vezes, é colocado como objeto de posse nas relações mal resolvidas”, cita a médica e psicanalista Luci Yara Pfeiffer, ao garantir que filhos precisam das figuras materna e paterna para um desenvolvimento emocional saudável.

Afinal, “independentemente do motivo da separação, a criança continuará sendo filha daquele homem e daquela mulher, e os pais são de extrema importância”, diz ela.

Atenção!

Vale ressaltar, no entanto, que muitas famílias realmente enfrentam situações de violência doméstica e de abuso sexual, então os filhos precisam ser afastados de um dos genitores para garantir a segurança deles. Esses casos são acompanhados pela Vara da Infância e Juventude, onde psicólogos especializados atendem a família.

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