Especialistas estão confiantes de que uma vacina contra o novo coronavírus estará disponível em 2021| Foto: Bigstock
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À medida em que o fim do ano se aproxima, muitos se perguntam sobre a corrida por uma vacina contra a Covid-19. Eu sou um médico-cientista e especialista em doenças infecciosas na Universidade da Virgínia (EUA), onde cuido de pacientes e conduzo pesquisas sobre a Covid-19. Ocasionalmente, sou questionado sobre como posso ter certeza de que os pesquisadores desenvolverão uma vacina bem-sucedida para prevenir a infecção por Sars-CoV-2. Afinal, ainda não temos uma para o HIV, o vírus que causa a AIDS.

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Saiba a seguir qual é a situação atual das pesquisas, onde acho que estaremos em cinco meses e por que você pode estar otimista sobre a entrega de uma vacina contra Covid-19.

1. O sistema imunológico humano cura a Covid-19

Em até 99% de todos os casos de Covid-19, o paciente se recupera da infecção e o vírus é eliminado. Algumas pessoas que tiveram Covid-19 podem apresentar níveis baixos de vírus no corpo por até três meses após a infecção. Mas, na maioria dos casos, esses indivíduos não podem mais transmitir o vírus a outras pessoas dez dias após ficarem doentes.

Portanto, deve ser muito mais fácil fazer uma vacina para o novo coronavírus do que para infecções como a do HIV, em que o sistema imunológico não consegue curá-lo naturalmente. O Sars-CoV-2 não sofre mutações da mesma maneira que o HIV, tornando-o um alvo muito mais fácil de ser dominado pelo sistema imunológico ou controlado por uma vacina.

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2. Anticorpos que atacam a proteína Spike evitam a infecção

Uma vacina oferecerá proteção, em parte, ao induzir a produção de anticorpos contra a proteína Spike, localizada na superfície do Sars-CoV-2, o vírus que causa a Covid-19.

O vírus precisa da proteína Spike para se ligar e entrar nas células humanas para se reproduzir. Os pesquisadores demonstraram que os anticorpos, como os produzidos pelo sistema imunológico humano, se ligam à proteína, a neutralizam e evitam que o coronavírus infecte as células em cultura de laboratório.

Vacinas em testes clínicos demonstraram capacidade de aumentar anticorpos anti-proteína-Spike que bloqueiam a infecção pelo vírus em células de laboratório. Pelo menos sete empresas desenvolveram anticorpos monoclonais, anticorpos fabricados em laboratório que reconhecem essa proteína. Esses anticorpos estão entrando em ensaios clínicos para testar sua capacidade de prevenir a infecção em pessoas expostas.

Os anticorpos monoclonais também podem ser eficazes para o tratamento da doença. Durante uma infecção, uma dose desses anticorpos monoclonais pode neutralizar o vírus, dando ao sistema imunológico a chance de se recuperar e fabricar seus próprios anticorpos para combater o patógeno.

3. A glicoproteína Spike contém vários alvos

A proteína Spike tem muitos locais aos quais os anticorpos podem se ligar e neutralizar o vírus. Isso é uma boa notícia porque, com tantos pontos vulneráveis, será difícil para o vírus sofrer uma mutação que o torne capaz de escapar de uma vacina.

Várias partes da Spike precisariam sofrer mutações para escapar de anticorpos neutralizantes anti-Spike. Muitas mutações na proteína mudariam sua estrutura e a tornariam incapaz de se ligar à enzima conversora de angiotensina 2 (ECA2), ponto de entrada usado pelo vírus para infectar células humanas.

4. Nós sabemos como fazer uma vacina segura

A segurança de uma nova vacina para Covid-19 é melhorada pela compreensão dos pesquisadores dos potenciais efeitos colaterais da vacina e de como evitá-los.

Um efeito colateral visto no passado foi a amplificação da infecção mediada por anticorpos. Isso ocorre quando os anticorpos não neutralizam o vírus, mas permitem que ele entre nas células por meio de um receptor destinado a anticorpos. Os pesquisadores descobriram que a imunização com a proteína Spike pode produzir altos níveis de anticorpos neutralizantes. Isso diminui o risco de uma amplificação da infecção.

Um segundo problema potencial apresentado por algumas vacinas é uma reação alérgica que causa inflamação no pulmão, como foi visto em indivíduos que receberam uma vacina contra o vírus sincicial respiratório na década de 1960. Isso é perigoso porque a inflamação nos espaços de ar do pulmão pode dificultar a respiração. No entanto, os pesquisadores já aprenderam como criar vacinas que evitam essa resposta alérgica.

5. Várias vacinas diferentes estão em desenvolvimento

O governo dos EUA está apoiando o desenvolvimento de várias vacinas diferentes por meio da Operação Warp Speed. O objetivo dessa operação ​​é entregar 300 milhões de doses de uma vacina segura e eficaz até janeiro de 2021.

Para isso, está sendo feito grande investimento, destinando US$ 8 bilhões para sete vacinas diferentes contra Covid-19. Apenas uma dessas vacinas precisa se provar segura e eficaz em ensaios clínicos para que um imunizante contra Covid-19 seja disponibilizado aos americanos em 2021.

Mas outros países também estão garantindo a proteção da população. No Brasil, por exemplo, há cinco vacinas em testes de fase 3 que, devido a parcerias com o governo ou com as instituições do país, a tecnologia poderá ser compartilhada e os imunizantes poderão ser produzidos e distribuídos por aqui. Ao todo, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já aprovou quatro estudos (e cinco imunizantes) para serem testados em voluntários brasileiros.

Além disso, há também as vacinas em produção nacional, feitas por pesquisadores brasileiros, que estão em desenvolvimento. Todas ainda estão em fases pré-clínicas, com testes em laboratórios ou animais, mas nenhuma ainda em humanos.

6. Vacinas passam com sucesso por ensaios de fases 1 e 2

Os ensaios de fase 1 e fase 2 testam se uma vacina é segura e induz uma resposta imunológica. Os de fase 3 verificam a eficácia também.

De acordo com informações divulgadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) até o início de setembro, há 34 candidatas que já passaram pela primeira etapa de testes - muitas delas com resultados positivos, como a produzida pela Universidade de Oxford e a candidata chinesa da Sinovac. Oito das vacinas em estudos já estão na fase 3, mas os resultados dessa etapa ainda não foram finalizados e nem divulgados.

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7. Ensaios clínicos de fase 3 estão em andamento

Durante um ensaio de fase 3, a etapa final no processo de desenvolvimento, a vacina é testada em dezenas de milhares de indivíduos para determinar se ela funciona para prevenir a infecção pelo Sars-CoV-2 e se é segura.

Há, até a primeira semana de setembro, oito candidatas em estudos de fase 3, as produzidas pelas seguintes instituições:

  • Universidade de Oxford / AstraZeneca;
  • CanSino / Instituto de Biotecnologia de Beijing;
  • Instituto de Pesquisa Gamaleya na Rússia;
  • Sinovac, laboratório da China;
  • Sinopharm / Instituto de Produtos Biológicos de Wuhan;
  • Sinopharm / Instituto de Produtos Biológicos de Beijing;
  • Moderna / NIAID - Instituto norte-americano de Alergia e Doenças Infecciosas;
  • Pfizer / BioNTech/ Fosun Pharma.

8. Ritmo acelerado para produção e distribuição de vacinas

A Operação Warp Speed, nos Estados Unidos, ​​está pagando pela produção de milhões de doses de vacinas e apoiando a fabricação de vacinas em escala industrial, mesmo antes de os pesquisadores terem demonstrado a eficácia e segurança da vacina.

A vantagem dessa estratégia é que, uma vez que uma vacina seja comprovada como segura nos ensaios de fase 3, um estoque dela já existirá e ela poderá ser distribuída imediatamente sem comprometer a avaliação completa de segurança e eficácia.

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9. Distribuidores de vacinas estão sendo contratados agora

A McKesson Corp., maior distribuidora de vacinas dos EUA, já foi contratada pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) do país para distribuir uma vacina contra Covid-19 nos locais – incluindo clínicas e hospitais – onde a vacina será administrada.

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No Brasil, as instituições que coordenam os testes de fase 3 das vacinas contra a Covid-19, tanto a Coronavac quanto a produzida por Oxford, também estão em contato com a Anvisa para verificar o andamento dos estudos e a possibilidade de produção e distribuição para a população, uma vez que as candidatas se mostrem eficazes e seguras.

Acredito que seja realista esperar que em algum momento no final de 2020 saberemos se algumas vacinas contra Covid-19 são seguras ou não, exatamente o quão eficazes elas são e quais devem ser usadas para vacinar a população em 2021.

* William Petri é professor da Faculdade de Medicina na Universidade da Virgínia (Estados Unidos).

©2020 The Conversation. Publicado com permissão. Original em inglês

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