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Mais de 15,3 milhões de brasileiros se declaram sem religião, segundo o censo de 2010. Trata-se de 8% da população, uma parcela considerável em comparação com dados de trinta anos atrás. Hoje a população brasileira é bem mais diversificada religiosamente: no censo de 1970, os católicos ainda eram mais de 91% da população – em 40 anos, passaram para 64,6%. Em um país em que a maioria das escolas confessionais são católicas, os dados – e a experiência de pluralidade no dia a dia em sala de aula – nos fazem perguntar: ainda existe lugar para a escola confessional hoje?

Ao questionar a aparente tendência ao enfraquecimento das escolas confessionais, a Editora Positivo decidiu há cinco anos instituir uma equipe dedicada especialmente a atender esse gênero de escolas. “Antes já trabalhávamos com escolas católicas e elas sempre foram um setor muito forte para nós, mas as acompanhávamos por região, como todas as outras escolas”, explica ao Sempre Família a supervisora pedagógica do Sistema Positivo de Ensino para as escolas confessionais, Raphaela Gubert.

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“Com o passar do tempo e identificando as peculiaridades que essas escolas demandavam, entendemos que seria muito oportuno criar um núcleo específico para o seu atendimento, para ajudá-las não apenas como escolas, mas como instituições confessionais”, diz. Foi assim que nasceu o Encontro de Escolas Católicas, que desde a primeira edição, em 2013, contou com nomes renomados na Igreja do Brasil como o artista sacro Cláudio Pastro e o teólogo João Batista Libanio, ambos já falecidos.

Superando a crise

Em todo o Brasil existem cerca de 2 mil escolas católicas, segundo a Associação Nacional de Educação Católica (ANEC). O Sistema Positivo de Ensino tem convênio com 136 delas, mantidas por 63 congregações e chegando a 62 mil alunos. Segundo Raphaela, o Positivo oferece não apenas o material didático, mas uma “solução educacional”. “O convênio inclui, além do material didático, serviços de tecnologia e assessoria pedagógica, jurídica, financeira e de marketing. Além disso, as escolas católicas recebem atendimento não apenas para si, mas também para a congregação e a entidade mantenedora dos colégios”, explica.

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O esforço do Positivo veio no intuito de colaborar para que as escolas católicas superassem um momento de crise causado pelo surgimento de novos players no mercado. “Eles vieram com estratégias bastante agressivas e pessoal com formação na área de gestão, que conduzem o negócio de maneira mais assertiva”, avalia Raphaela. “Nós entendemos que seria urgente formar os dirigentes de escolas católicas para um olhar voltado para o mercado, para que eles conseguissem fazer com que as escolas saíssem dessa crise e voltassem a crescer”.

A fidelidade ao carisma e à identidade filantrópica das instituições católicos gerou uma certa resistência no início, mas hoje o movimento já é bem aceito. “Procuramos fazer com que as irmãs entendam que elas precisam ganhar dinheiro para manter toda a estrutura de filantropia que elas mantêm em outras instituições”, diz Raphaela. “Às vezes elas se utilizam da escola para levantar recursos e poder investir em uma obra social em uma região mais carente”.

Carisma e missão

O Sempre Família acompanhou o VI Encontro de Escolas Católicas, realizado em abril pela Editora Positivo, em Curitiba, que refletiu precisamente sobre a relação delicada que as escolas precisam estabelecer entre viabilidade do negócio e fidelidade ao carisma. “Uma escola católica é uma escola sapiencial, onde o que é providenciado é uma formação inicial na Sabedoria”, disse o abade trapista Bernardo Bonowitz em uma das palestras durante o evento – você pode conferir a íntegra da palestra no site O Caminho Cisterciense.

“A escola católica deve ter consciência de ser detentora e guardiã de um tesouro de sabedoria. Sua razão de ser principal consiste na transmissão deste tesouro à jovem geração”, afirmou o abade. “Pelo termo ‘Sabedoria’, entendemos algo muito mais abrangente do que a mera transmissão de conhecimento. O conhecimento sem dúvida faz parte da sabedoria, mas há outros ‘ingredientes’ indispensáveis: o amor, a experiência, os relacionamentos, a fundamentação e a inserção na realidade”.

Mas isso não se dá através da pregação quase diluída de valores em geral. “A confessionalidade é fruto de um carisma e se explicita no cotidiano da escola”, diz o padre José Neto, vice-diretor geral do Colégio Bagozzi, em Curitiba, mantido pela Congregação dos Oblatos de São José. “A excelência na educação é uma obrigação de qualquer escola. A grande contribuição que a escola confessional pode dar é a transmissão dos valores próprios da confessionalidade que ela de alguma forma explicita”.

Nesse sentido, explicou dom Bernardo, “a particularidade, a especificidade da escola católica – e da própria fé católica – é a identificação que ela faz entre a Sabedoria Eterna que enche e governa o universo e uma das inúmeras bilhões de pessoas que viveram nesta terra: Jesus Cristo. A afirmação do catolicismo é esta: Jesus Cristo é, em si mesmo, a plenitude de sabedoria”.

“No contexto de uma escola católica, Jesus não pode ser colocado entre parênteses, nem reduzido a mais um ‘patrimônio da humanidade’”, defendeu o abade. “Os alunos não católicos e não cristãos merecem ser tratados com todo o respeito. Merecem ser ouvidos e compreendidos. Tudo aquilo que é nobre e verdadeiro em suas tradições deve ser valorizado. O mesmo pode ser afirmado de alunos que vêm de lares sem tradição religiosa, mas onde exista um genuíno humanismo moral e interpessoal. O respeito ecumênico e inter-religioso, porém, não põe fim à missionariedade da escola católica”.

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