Procissão Marítima em devoção a Nossa Senhora do Rocio, padroeira do Paraná. (Oswaldo Eustáquio/Gazeta do Povo)
Procissão Marítima em devoção a Nossa Senhora do Rocio, padroeira do Paraná. (Oswaldo Eustáquio/Gazeta do Povo)| Foto:
Estelita Hass Carazzai

Dizem que a fé move montanhas. No Paraná, ela também move turistas. Depois das Cataratas do Iguaçu, destinos religiosos e de peregrinação são uma das principais fontes de turistas no estado. Santuários, templos, grutas e festas religiosas, em cidadezinhas pelo interior, atraem até meio milhão de visitantes anualmente, em um movimento quase despercebido dos grandes centros.

Talvez a festa mais famosa do estado seja a da padroeira paranaense, Nossa Senhora do Rocio, que leva milhares de pessoas a Paranaguá todo mês de novembro. Mas pouca gente sabe que o turismo religioso é considerado o segmento mais representativo do setor no Paraná, com 24,6% dos atrativos turísticos do estado, segundo dados do Sebrae/PR – à frente, por exemplo, do ecoturismo ou turismo de praia. “O Paraná é um estado de fé”, diz Francisco Aparecido Izidoro, secretário de Turismo de Lunardelli, no centro do estado.

O município de 5 mil habitantes foi batizado recentemente de Capital Paranaense da Fé. Ele atrai impressionantes 300 mil turistas por ano – 60 vezes a população da cidade. A coisa toda começou em 1994, quando o padre da paróquia resolveu começar uma novena de Santa Rita de Cássia, padroeira da cidade. Virou tradição, e impulsionou a criação do santuário e de uma gruta em homenagem à santa. No domingo em que ela foi inaugurada, em 1995, chegou a acabar a água e a comida na cidade. “Foi um transtorno”, lembra Izidoro.

Santa Rita de Cássia é a santa das causas urgentes e impossíveis – quem não as tem? Não por acaso, a cidade fica lotada todo domingo, quando as novenas acontecem. A maior parte dos visitantes vem do interior do Paraná, e são mulheres e católicas. À tarde, na Missa dos Milagres, os fiéis contam sobre as graças alcançadas. “São coisas que só a fé explica”, diz o secretário.

A força do cristianismo no interior do Paraná fez a região ser batizada de “bastião do catolicismo”, segundo estudo da PUC-Rio. “É uma herança, um legado, uma vivência que cada paranaense herdou de seus pais, seus avós”, diz o padre Celso Miqueli, pároco em Arapoti, nos Campos Gerais. “O Paraná foi colonizado por povos muito católicos, como os poloneses e os italianos; gente que viveu sua fé de maneira muito arraigada. É uma fé vivenciada. Por isso é tão forte até hoje.”

Miqueli é coordenador da Rota do Rosário, que congrega, por enquanto, 11 santuários e outros dez atrativos turísticos no Norte Pioneiro. “Os santuários são a conta maior do terço; as outras paradas, as contas menores”, explica. A rota, criada em 2006, tem como um dos objetivos fomentar o turismo, a fim de gerar empregos e promover o desenvolvimento local. Opções de ecoturismo, turismo rural e atrações históricas podem ser somadas ao trajeto. Caminhos de peregrinação também estão sendo incentivados em outras regiões do estado, como no Oeste, onde deve ser criado no mês que vem um roteiro religioso ao redor do Lago de Itaipu.

Segundo quem trabalha na área, esse tipo de rota agrada a todos os públicos, inclusive quem não é católico ou não tem religião. “O apelo não é religioso; é espiritual”, diz a agente de turismo de aventura e experiências Ana Wanke. “O objetivo desse tipo de caminhada é uma jornada de autoconhecimento; é se conectar com a natureza, desenvolver a espiritualidade”, afirma. Para ela, nem de templo ou igreja precisa: “O templo pode estar na natureza.”

Para todas as crenças

Outras religiões também têm presença forte no Paraná, inclusive com atrativos turísticos. Em Foz do Iguaçu, a mesquita Omar Ibn Al-Khatab, frequentada pela numerosa população árabe local, e o Templo Budista estão entre alguns dos pontos mais visitados da cidade. Curitiba, por sua vez, abriga o maior terreiro de umbanda do país, o do Pai Maneco. Em Londrina, a imigração japonesa também deixou como herança diversos templos budistas, assim como em Maringá.

O objetivo do governo do Paraná, agora, é transformar o romeiro num turista, segundo Rafael Andreguetto, diretor técnico da Paraná Turismo. Tempos atrás, ele esteve em uma reunião com reitores de santuários do Paraná. Descobriu que só à igreja do Guadalupe, no Centro de Curitiba, viajam mil pessoas por dia – um fluxo praticamente invisível. “O turismo religioso beneficia muita gente. Muitas pessoas vivem disso; gera emprego, renda”, diz o secretário de Lunardelli.

Párocos e governo reconhecem que ainda há um longo trabalho a ser feito. Na Rota do Rosário, a igreja afirma ter dificuldades para formar parcerias com comerciantes e estabelecimentos locais com garantia de idoneidade. Os santuários da região estruturaram uma associação, e devem começar a fortalecer sua rede de apoio. Mas o rosário está longe de ter todas as suas contas. Outros santuários e templos começaram a formular uma pesquisa, em parceria com a Paraná Turismo, para saber quem é o fiel que os visita e qual seu potencial como turista.

A ideia do governo é também estruturar os municípios. Lunardelli, por exemplo, planeja criar um estacionamento para ônibus, melhorar a sinalização e instalar pórticos na entrada da cidade. “Senão, a pessoa passa por aqui e nem sabe o que tem”, diz Izidoro. Pousadas já começam a ser inauguradas na cidade, inclusive com aposta no turismo rural, para estender a estadia do romeiro. “É um vale lindo, espetacular. Se fosse na Europa, teria turista em tudo quanto é lado.” O incentivo ao artesanato local e a produtos da agroindústria, como um pão com essência de rosas (em referência a um dos milagres de Santa Rita de Cássia), com apoio da Emater, também está nos planos do município.

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